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ENTREVISTA | João Rodrigues relata vida na prisão, conta da convivência com Zé Dirceu e se demonstra mais tolerante com as pessoas

Por: Marcos Schettini
04/07/2018 12:46 - Atualizado em 05/07/2018 08:39
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Entrevista concedida ao jornalista Marcos Schettini foi gravada no gabinete do deputado João Rodrigues, em Brasília
Entrevista concedida ao jornalista Marcos Schettini foi gravada no gabinete do deputado João Rodrigues, em Brasília

Em longa e emocionante entrevista concedida ao jornalista Marcos Schettini, em Brasília, o deputado federal João Rodrigues, que ficou quatro meses e dez dias preso, conta como é a vida dentro da cadeia, da relação com Zé Dirceu e do novo ponto de vista sobre Lula. Fala sobre Jair Bolsonaro, tolerância e respeito pelos adversários. Cita Júlio Garcia, Gelson Merisio e Esperidião Amin. Mais sereno, com novas posturas e comportamentos, se posiciona sobre outubro e comenta sobre a gestão de Plínio David na Chapecoense. Chorando sempre, lembra da importância da família e amigos. Diz que jamais irá julgar as pessoas e que a chibata da prisão amaciou seu coração. Confira a primeira grande entrevista concedida pelo deputado após passar 130 dias detido:


A PRISÃO E A CONDENAÇÃO

Marcos Schettini: Como tudo aconteceu?

João Rodrigues: De uma forma inesperada, jamais sonhei que isso poderia acontecer, indo do céu ao inferno em menos de dois dias. Do céu porque estava com minha família em férias, juntamente com amigos, vivendo grandes momentos e se divertindo com minhas filhas, coisa que faço raramente, porque minha atividade como deputado e na televisão, que estava até então, não me permitia em ter dia de folga com a família. E de repente, quando recebo a notícia, ainda em viagem, estava condenado e com mandato de prisão para ir à cadeia. Eu imaginei que isso duraria cinco dias, dez dias, quinze dias... Eu viria por São Paulo e mudei meu roteiro para vir por Assunção (capital do Paraguai), em razão que de a viagem daria cerca de 800 km de carro, para evitar constrangimento e exposição familiar.

Schettini: Não era fuga?

João: Não... Se eu estou nos Estados Unidos, eu vou fugir para o Paraguai? Eu vou ficar nos EUA. Pelo que eu saiba, todo mundo quer fugir para os EUA. Nunca vi ninguém nos EUA querer ir para o Paraguai. Isso foi notícia colocada pela imprensa nacional, porque precisava ser uma notícia ruim e não uma boa. Em nenhum momento foi dito qual foi o dano, o prejuízo, o rombo, o desvio, nunca disseram... Porque não teve desvio, não teve rombo e nem dano. Mas a notícia era: “Deputado João Rodrigues preso...”. Chegando em Assunção, primeira coisa que fiz ao descer do voo, já observei que havia duas pessoas da Polícia Federal, e eu sabia que estariam lá. Isso é óbvio, se você tem mandato de prisão expedido e está fora do país, todos os aeroportos do mundo, onde há uma relação comercial com o Brasil, vão estar com sinal vermelho, com sinal amarelo, com a Interpol, porque é assim que funciona. Então cheguei, me apresentei, e ninguém me conhecia e nem sabia quem era eu. Então não houve problema, nem imagens, nem fotos, nem filmagens, nem nada da minha família. Então, graças a Deus, a Fabi e as meninas foram extremamente protegidas neste sentido, pois não teve exposição. Eu só tive uma filmagem em São Paulo, quando estava rumo a Porto Alegre, onde um cinegrafista fez uma filmagem rápida que, para mim, não gerou problema algum e nem constrangimento. Mas de qualquer forma, de lá para cá, minha vida virou um inferno.

Schettini: Por que o senhor foi condenado?

João: Minha condenação é de um fato ocorrido em 1999, quando era vice-prefeito de Pinhalzinho. Eu apenas assinei o início de uma licitação, a abertura de um edital licitatório para abertura de compra de uma retroescavadeira, no valor de R$ 100 mil, na época. O prefeito Darci Fiorini homologou, praticou todos os atos daquele edital e fez absolutamente tudo como é, orientado por seu assessor jurídico. Depois de lá, foi oferecido uma denúncia pela oposição ao prefeito da época, foi para o Ministério Público Federal (MPF), que enviou para a Polícia Federal, que fez uma investigação e indiciou quatro pessoas. O meu nome nunca foi citado em nada, em absolutamente nada, e nem o do prefeito. Em 2003, eu já tinha me elegido prefeito de Pinhalzinho e era deputado estadual, quando o MPF oferece uma denúncia e aí, em 2006, se não me falha a memória, eu já era prefeito de Chapecó e fui dar um depoimento na Justiça Federal de Chapecó. Foi apenas um depoimento, acreditando que aquilo não era nada, pois não tinha nada para ser. Em 2008, fui reeleito prefeito de Chapecó com 60% dos votos. Em 2009, fui condenado no TRF-4 por 3 votos a 2, por fraude e dispensa de licitação. Fui surpreendido com aquela decisão, porém, quando foi feita a minha condenação foi dito, pelos desembargadores, de que não havia dano ao erário e nem favorecimento a ninguém, mas que havia um erro formal. Então para mim, de qualquer forma, não havia problema e meus advogados disseram para não se preocupar. O tempo passou, eu renunciei a Prefeitura de Chapecó, em 2010, fui candidato a deputado federal, sendo o quarto mais votado em Santa Catarina com 134.558 votos e exerci meu mandato como secretário de Estado da Agricultura e Pesca. Fui reeleito o segundo deputado mais votado do Sul do Brasil, não só de Santa Catarina, com 221.409 votos, exerci meu mandato na plenitude. Estava como pré-candidato a majoritária, andando por Santa Catarina, com o mandato encaminhado, trazendo recursos espetaculares para a região. Só em Chapecó foram R$ 29 milhões, sendo R$ 15 milhões para a Arena Condá. Para a construção de uma nova escola, o prefeito Buligon esteve aqui na semana passada, viabilizando mais cerca de quatro ou cinco milhões. Esse é meu mandato. De repente eu sou condenado por fraude e dispensa em licitação com cinco anos e três meses, inicialmente em regime semiaberto.

Schettini: Mas isso não está prescrito?

João: Exatamente. O fato da prescrição conta em condenações abaixo de quatro anos, pois são duas penas, uma de três anos e um mês e outra de dois anos e um mês. Abaixo de quatro anos prescreve em oito. E essa pena prescreveu em 16 de dezembro de 2017, então eu tinha tranquilidade. Me diziam: “não tem problema, João, começa um processo, automaticamente eles encerram porque está prescrito”. Mas não foi assim que aconteceu. Estranhamente, começou o julgamento, o relator do meu processo, ministro Luiz Fux, pediu minha absolvição dizendo que não tinha dano, crime e desvio nenhum. Mas estranhamente houve um voto divergente que acabou com essa posição, mudando o posicionamento daquele grupo, quando fiz dois votos daquela turma de cinco. Eu fiz dois, mas precisava de três votos. Mas três votos acompanharam o voto divergente e pediram minha condenação e a prisão imediatamente. E foi isso que aconteceu. Só que não observaram a prescrição naquele momento, porque quando se iniciou o debate da prescrição, encerraram a sessão, discutiram a prisão em segunda instância e acabou. Desde então estou preso. E aí não consigo mais sair porque a prescrição é matéria de ordem pública. A qualquer momento teriam que ver isso e automaticamente encerrar o processo porque o Código de Execuções Penais diz isso. Mas até agora nada. Estou aguardando e isso não aconteceu. Fiquei quatro meses e dez dias fechado dentro de uma cadeia. O que me deixou revoltado, com sentimento abalado, é por não dever absolutamente nada, por um crime que não aconteceu e não foi praticado, ter que ficar dentro de uma cadeia, no período que estive lá, onde continuo dormindo toda noite. Hoje somos oito numa mesma cela. Na minha cela tem latrocida, assaltante de banco (que foi um dos mais procurados do Brasil), ex-policial, enfim... E eu estou lá, sem dever absolutamente nada.


A VIDA NA PRISÃO

Schettini: Lá dentro, o que lhe marcou?

João: Eu vivi um momento de emoção incalculável, quando estava em regime fechado. São setenta presos na ala que estava. Eu dividia cela com Luiz Estevão (ex-senador), Zé Dirceu (ex-ministro) e Celso Jacob, que é deputado federal e também injustiçado. Numa sexta-feira, de manhã, recebi uma visita da Fabi, com os olhos inchados de tanto chorar, mas emocionada... [choro]. Me disse: “Tenho uma notícia boa para te dar. O STF, o ministro Barroso, determinou que você saia daqui e vá para o outro lado para poder trabalhar”. Era o que eu mais esperava. Imagina você quatro meses e dez dias sem ouvir o ronco de um carro, um palmo de grama, uma criança na rua, sem ver um ônibus, sem ver um prato, um garfo, sem mastigar uma carne...

Schettini: Por que você fala das coisas mais simples? Talher, ronco de carro? Por que observa isso?

João: Porque quando você está preso, as coisas mais simples são as mais importantes. Curioso. Até pela força da atividade profissional, tanto na televisão quanto deputado federal, você tem acesso a algumas coisas boas, algumas luxúrias. Às vezes, você toma até um vinho caro na companhia de alguém que te convida para isso. Isso não faz falta alguma. Você não sente falta, nem do ambiente, nem do conforto de algum avião, de alguma viagem internacional, nem do hotel. Você nem pensa nisso. O que tu sente falta é o abraço carinhoso de um filho, o aperto de mão de um amigo, de uma água com gás, eu gosto de água com gás [risos]. Você sente falta de chupar um limão, uma bergamota, comer um pinhão, do pedaço de grama... Isso eu não tive.

Schettini: Como são as pessoas dentro de uma cadeia?

João: Tudo me deixou muito emocionado, por que eu convivi naqueles quatro meses e dez dias com esse grupo de pessoas. Cada um, que ali estava, cometeu seu pecado, alguns mais, outros menos. Uns criminosos, outros não. Até inocente tinha. Era a ala dos vulneráveis, com pessoas acima de 60 anos. Então fiz relações, alguns contavam histórias, algumas tristes, com tragédias devido a bebida, a droga... Cada um tinha uma tragédia para contar e a gente acabava convivendo. Era ali onde eu vivia. As pessoas que ali estavam, muitas delas, eram pessoas do bem que cometeram erros. Pais de família...

Schettini: Como foi o momento de sua saída?

João: No dia em que fui sair, pena que não tinha um celular para gravar. Imagina, um corredor de celas, com 70 pessoas. Geralmente quando você sai, o carcereiro vai à noite. Quando você ouve um batido de um cadeado, dá um eco, parece que entra no tímpano. Aquele cadeado bateu muito forte. São várias portas que se abrem até chegar naquele corredor. Quando ele veio, os detentos daquela ala sabiam que eu poderia sair, pois eu sempre dizia que uma hora a Justiça ia se feita. Todo dia eles me perguntavam: “Vai ou não vai?” Curioso é que neste grupo tinha vários evangélicos, até um pastor, que nem sei o crime que ele cometeu, pois a gente não perguntava até por questão óbvia. Eles cantavam, todos os dias, sentavam numa mesa, em dez ou doze, e cantavam. Eu ficava ouvindo e assistindo. E tem algumas músicas que eu gostava muito, que acabei cantando uma ou duas junto com eles. Aí toda a bandidagem, como eu chamava eles, eu dizia: “bandidagem, se reúnam aqui”, mas num tom de brincadeira, vinham e nós cantávamos. Naquela noite, quando bateu o cadeado, o carcerário veio e foi até a cela onde estávamos eu, Luiz Estevão e Zé Dirceu. Celso Jacob havia saído na noite interior. Quando o cara bateu o cadeado para abrir, ele chamou meu nome: “João Rodrigues”. O eco foi um barulho muito alto e os detentos começaram a bater na grade. Quando eu sai, me despedi de Zé Dirceu e Luiz Estevão, com quem convivia muito tranquilamente, por volta das 22h, naquele silêncio ensurdecedor, aquela coisa gelada, aquele piso, aquelas grades de ferro. Quando eu sai, a cada cela que eu passava, todos os detentos vinham para a grade, independente de terem cometido crime ou não, todos vinham. Todos, unanimemente todos, em cada grade que eu parava, eles falavam uma palavra, diziam um boa sorte, um vá com Deus. Isso me marcou muito.

Schettini: Isso era solidariedade?

João: Eu não sei. Até pode ser. Mas eu aprendi uma coisa. Independente de que cada um tenha feito ali, exceto que tenha cometido uma barbaridade que seja imperdoável por nos humanos, temos o costume de querer pré-julgar as pessoas. Eu fui muito disso.

Schettini: Você julgou muito as pessoas, João?

João: Eu já pré-julguei muito. Eu já tive muito pré-julgamento, tanto na televisão, em programa de rádio, na tribuna da Câmara... Eu acho que a gente não pode pré-julgar ninguém. Obviamente que condenar pela indignação, pela expressão, quando se vê uma criança sendo covardemente assassinada, uma mãe sendo estuprada, um trabalhador sendo assassinado covardemente... Isso sim nos indigna. Agora, um erro qualquer que o cidadão comete, um equívoco de vida, isso todo mundo está sujeito. Então quando eu estava saindo, vi todas aquelas pessoas com caras sofridas, com 70 e 80 anos, alguns jogados pelas famílias. Alguns muito emocionados, chorando, porque tinham uma relação comigo. Eu era meio confidente de todo mundo, era o motivador. Tinha gente que pensava em suicídio. Depressão total. Então eu ficava animando eles. Eu que era o mais sofrido, mas tinha que me superar. Acho que era uma força que vinha de Deus, só pode ser Deus. Não tem outra coisa a não se Deus e a família. Aquilo me emocionou tanto, vendo toda aquela gente sofrida, nas grades, gritando, vibrando como se fosse um gol, porque para eles parecia que era a saída de cada um que ali estava. Muitos deles por saberem que eu sou um deputado federal, acreditando que se eu retomasse meu mandato, pelo menos poderia fazer alguma coisa, não por eles que estão cumprindo pena, mas para que a vida deles possa ter uma oportunidade de a hora que saírem de lá, estarem melhor que quando entraram. A maioria, pois alguns não têm conserto. Mas tem muita gente que errou e pode ser consertada.


NOVOS COMPORTAMENTOS E POSTURAS

Schettini: Quem é o João Rodrigues após a prisão?

João: O que muda muito é o aprendizado. Você sempre aprende. A primeira coisa, você aprende que a família sempre está em primeiro lugar. Mas não é só de boca para fora, porque todo mundo diz “eu amo minha família”. Mas na tensão do dia a dia, ou quando possível, você não dá a devida atenção que a família precisa. A família em primeiro lugar é o carinho, a atenção de verdade. Eu fui muito ausente ao longo da minha vida, devido a minha atividade, pela televisão, rádio, por ser deputado. Então, muda muito a minha visão de amigo. A palavra amigo para mim é uma coisa muito forte. Você não pode dizer para qualquer um: meu amigo. É um sentimento que você tem que guardar por pessoas que são especiais para você. Eu, graças a Deus, só fui saber, depois que eu estava fora, depois aqui na Câmara, o quanto de amigo a gente tem. Por mais que distante estivesse e pouco pudesse fazer pela gente, eram muitos rezando, acendendo uma vela, mandando uma mensagem, um recado, um telefonema, um vídeo gravado, e então eu percebi o quanto de amigo de verdade a gente tem. Acima de tudo, também, a gente precisa ser mais ponderado nas avaliações quanto às outras pessoas. Tomar mais cuidado com o apontamento de dedo. Não podemos sair atirando feito uma metralhadora, eu já fui uma metralhadora, é bem verdade. Não pode ser assim, ninguém pode ser assim. Então acho que devemos ser mais comedido.

Schettini: Sua postura perante aos presidiários mudou?

João: Nós temos pessoas que erram e os criminosos. Os que erram, qualquer cidadão pode errar. O criminoso é aquele que fere, que não para nunca. Então precisa se diferenciar um do outro. Meu pensamento em tempo de televisão, rádio e na tribuna da Câmara, era de que “bandido bom é bandido morto”. Não é bem assim. A gente tem que tomar um cuidado muito grande porque destes quase um milhão de pessoas, juntos somam um número maior que as Forças Armadas, todos eles, todos, um dia estarão nas ruas novamente. O Brasil precisa investir em educação, prioridade número um, não de boca para fora, é de fato. Outro fato importante é cuidar da massa carcerária, não é privilégio e nem transformar cadeia em hotel, mas não podemos transformar preso em monstro, que é o ocorre na maioria do sistema prisional brasileiro. Então a visão muda, muda muito o comportamento. Ainda estou vivendo um verdadeiro inferno na minha vida, de algo que não fiz, não pratiquei, algo que não devo, algo que não existe. Mas eu não desejo para o pior inimigo, onde estive e onde estou ainda. Se Deus quiser a Justiça será feita e logo quero voltar para meu lugar, que é minha casa, para meus amigos, para meu Estado e minha cidade.

Schettini: O senhor disse que não votaria de maneira alguma em Jair Bolsonaro...

João: Não é o fato de não votar. Eu até tenho uma amizade muito forte com Bolsonaro, entendo seus princípios e entendo seus desejos. O que ele fala é o sentimento do povo brasileiro. Mas entre o sentimento e colocar em prática, tem uma distância muito grande. Eu, por exemplo, fui um abnegado defensor de que deveríamos flexibilizar o porte de armas. Não dá. Eu já revi essa posição. Porque boa parte daqueles que estão lá, presos comigo, muitos dos quais, cometeram crimes, como matar a esposa ou atiraram em famílias. Todos eles me disseram que estavam embriagados, drogados ou tentaram reagir um assalto. Eu acredito que todo cidadão tem o direito de ter uma arma para proteger sua família, desde que haja preparo psicológico e tenha condições. Você não pode dar uma metralhadora a um macaco, não se pode dar a alguém que não tem condições de uso. Se você der para uma pessoa que não sabe utilizar, corre o risco de ela matar alguém por não saber usar uma arma. Precisamos ter um cuidado entre a prática e o discurso.

Schettini: E o sistema carcerário?

João: Eu vivi isso aqui, em Brasília, numa cela onde cabem oito pessoas, tem trinta. Você acha que quando cumprirem suas penas, eles sairão melhores ou piores? Absurdamente piores. Alguns dos quais convivem comigo e conversei demais. Muitos deles já cumpriram muitos anos de cadeia, vão sair agora e dizem que não sabem o que fazer. Dizem que não tem família, profissão, emprego e não tem dinheiro para pagar o ônibus. Afirmam que ficam 20 anos presos, em alguns casos, e não tiveram a oportunidade de fazer nada. Por isso mantenho a minha tese de que todo preso tem que trabalhar, como é na Penitenciária Agrícola de Chapecó e no Presídio Industrial de Jaraguá do Sul, que são modelos para o Brasil. Preso deve trabalhar o dia todo, ter uma atividade profissional, ter a oportunidade de ressocializar, porque se o governo não der a oportunidade de ressocialização, quando saírem farão a primeira pessoa que passar na frente como vítima. Isso é óbvio, é lógico, não precisa perguntar a nenhum intelectual. O sujeito fica 15 anos na cadeia, sai desempregado, sem família, sem dinheiro para o ônibus. O que ele sabe fazer? O que ele sabe é o crime. Isso pode ser bater uma carteira ou um latrocínio, que acontece quando a vítima reage com R$ 100 no bolso ou o celular na mão. O que comete o ato não é vítima, mas acaba se tornando porque o governo não fez o que deveria ser feito na hora certa. Hoje, tenho uma visão diferente. Não estou defendendo bandido de jeito algum, mas mudei minha forma de ver como é o sistema carcerário brasileiro de dentro. Santa Catarina está acima da média nacional, mas distante do ideal.


NOVAS VISÕES E RELAÇÕES

Schettini: Como a imprensa se comportou?

João: Vou se muito sincero, exceto nossa imprensa local e regional, que fala o que conhece e vê de perto, a grande mídia nacional, tenho certeza, 70% do que ela diz não é verdade. A mídia nacional, quando deu o fato da minha prisão, deu a entender que eu era da Lava-Jato. Não disse que era de 1999 e jamais mencionou que não teve dano ao erário e nem desvio de dinheiro. Mas tentou induzir a opinião pública de que eu era um deputado envolvido em uma grande corrupção. Isso vale para mim e para os outros.

Schettini: Sua visão sobre Lula mudou?

João: Não é que o PT passa a ter minha admiração. Não é que o Lula e o Zé Dirceu passam ter minha admiração. O fato é que não posso satanizá-los, em hipótese alguma, pois todo ser humano tem algo de bom e algo de errado. Quem sou eu para julgar Zé Dirceu, Lula ou qualquer outro cidadão? Não farei mais isso. Cada um tem seus defeitos e suas virtudes, eu não sei quais são os atos praticados, só o que a imprensa diz. Quanto ao presidente Lula, pode ter cometido seus pecados, que eu não sei quais são, pois não sei o que é verdade e o que é mentira de tudo isso que a imprensa diz. Eu vivi isso na carne, que direito tenho eu em apontar o dedo ao outro e dizer que sou o bom e você é o mal. Muda, muda muito sim. Evidentemente que se me perguntarem se o Lula fosse candidato a presidente eu votaria nele? Não, não votaria no Lula. Não é meu candidato e não seria meu candidato. Mas isso não quer dizer que eu odeio o Lula e que eu acho que ele é um bandido. Não acho isso. Boa parte do que se diz não é verdade. Agora, boa parte do que se comenta, pelo menos que estão nos autos do processo, pode até ser.

Schettini: E sobre José Dirceu?

João: Quanto a Zé Dirceu, tive uma convivência com ele por uns 20 dias, aproximadamente, muito respeitosa. Não conhecia ele. Foi um cara que me respeitou e me tratou muito bem, eu o tratei muito bem, e caminhávamos juntos durante o dia. Falamos muito, muito mesmo, mas não entramos nas pessoalidades, até por respeito às posições ideológicas e partidárias. Mas eu confesso que me surpreendi e fiquei impressionado com a inteligência deste homem. Não estou defendendo e nem dizendo que serve de exemplo, nem para o mal e nem para o bem. Mas não posso ser mentiroso, sair de lá de dentro, chegar aqui fora, e satanizar só para fazer média com alguém, eu não preciso fazer média com ninguém. Fiquei surpreso com a história, se não me falha a memória, com 21 anos começou viver política. Foi revolucionário, praticou seus atos durante a ditadura, certos ou errados, mas tem sua história. Não sou um admirador e nem seguidor desta história, mas não estou aqui para satanizá-lo. Convivi harmoniosamente e conheci um sujeito inteligentíssimo no seu conceito e me respeitou muito. Não sou admirador, as minhas posições não mudam, mas não são radicais. Não são ao ponto de satanizar alguns e endeusar outros.

Schettini: Qual é o seu olhar sobre os políticos presos?

João: Se me perguntar qual a diferença entre Eduardo Cunha e Lula, eu acharia que Eduardo Cunha é muito pior que Lula. Se me perguntar a diferença entre Sérgio Cabral e Lula, diria que Lula é muito melhor que Sérgio Cabral. Se me perguntar a diferença de Aécio Neves para Lula, diria que difere muito do partido. Um foi um grande governador de Minas Gerais e o outro teve muita coisa boa que fez como presidente do Brasil e outras que não foram boas, que ajudou o Brasil a entrar na crise que está. Mas, inegavelmente, fez coisas boas para o país. Vamos dizer que tudo foi errado? Não, teve muita coisa que ele fez de bem. Mas não estou aqui para ser o bom samaritano e dizer que todo mundo é bom. Continuo tendo divergências e continuo achando, por exemplo, alguns homens públicos como talvez próximos, para mim, para ser um bom presidente da República. Admiro Geraldo Alckmin, admiro Ciro Gomes, respeito Bolsonaro, com o qual convivo, mas hoje já teria uma pequena dúvida quanto a um voto.

Schettini: Qual dúvida?

João: Tenho um medo. Se por tudo isso em prática, como seria? Não vejo em Bolsonaro um homem desonesto, de jeito nenhum. É um homem sério e um homem correto. A minha preocupação é um país deste tamanho, cheio de problemas, um dos quais eu convivi, como o sistema carcerário. Então fico preocupado quando ele deu uma declaração que eu aplaudi, quando ele disse que o presídio de Pedrinhas, no Maranhão, era a melhor coisa que tinha, quando degolaram duas ou três dezenas. Eu paro e penso, será que todos que foram eliminados eram bandidos de verdade? Ou será que não eram filhos de lavoureiro, um pequeno produtor rural, um desempregado que cometeu um pequeno delito? Geralmente quem morre em presídio não são bandidos, quem mata são os grandes bandidos. Quem morre são os mais fracos, pois os mais fortes sobrevivem, essa é a lei de presídio. Então eu fiquei com essa preocupação, mas quero dizer que meus conceitos mudam, minhas posições se mantêm, mas não espere um sujeito que escancara o dedo para todo lado, batendo em todo mundo, e que ninguém presta.

Schettini: E os partidos de esquerda?

João: Gente boa, séria e descente tem em todos os partidos políticos. No PT, PCdoB, MDB, em todo lugar. Assim como tem pessoas desonestas e desleais em todos os lugares, no PSD, MDB... Todos têm. Precisamos começar a nos respeitar mais como pessoas, pois as ideologias não existem mais. Existem pessoas honestas e competentes, e os desonestos e incompetentes.


RELAÇÃO NA CÂMARA

Schettini: A Comissão de Ética está posicionando ao seu favor...

João: Eu fiquei surpreso e isso são coisas que me motivam. Por exemplo, enquanto estou conversando aqui, passou o deputado Eduardo Bolsonaro (filho do presidenciável Jair Bolsonaro). Geralmente, quando há um deputado presidiário dentro do Congresso, todos evitam, ainda mais quando está concedendo entrevista a um veículo de comunicação. Ninguém quer está perto de alguém que pode ser contagioso. Mas tivemos que interromper a entrevista para nos abraçar e conversar, quando até comentou que encontrou minha filha no aeroporto junto com Jair Bolsonaro. Isso é a reação dos parlamentares que estão inconformados com a situação que eu vivo. O parlamento saiu em minha defesa em sua maioria absoluta. O deputado Fraga (DEM-DF) subiu à tribuna e fez um discurso inflamado em minha defesa, publicamente, pela TV Câmara. Isso nunca foi visto no Congresso Nacional. Quando o presidente do Conselho de Ética abre a sessão que pede minha cassação, no meio da sessão o discurso não é mais a cassação, mas sim pedir uma audiência com a presidente do STF para que julgue imediatamente meu processo, por sentir que há uma injustiça muito grande. Tudo aquilo que era contra começou a se inverter, a virar ao favor, porque as pessoas notaram e sentiram que há uma grande injustiça, pela qual eu estou passando, talvez a maior que um parlamentar passou na história do Congresso Nacional.


TIME DO CORAÇÃO

Schettini: E a Chapecoense?

João: É meu time do coração. Assim como muita gente teve sua participação desde sua fundação, eu tive a minha, nos piores momentos, lá em 2005. Quando eu, Ludovino Costella, Sextilho Hans, Moacir Fredo, Casquinha, Ivan Carlos, a figura de Edir De Marco, juntamente com Nei Maidana, Jandir Bordignon, Valdecir Scalvi, o Pita da Prefeitura e uma dezena de pessoas. Nós nos unimos. Fomos em busca de patrocinadores para poder reabrir um time que ia trocar de nome. De 2005 para cá houve uma ascensão. Depois veio Izair Gambatto, Maurinho Stumpf, Sandro Pallaoro, Maninho... Veio todo mundo que queria ajudar e hoje vemos este time que é destaque nacional, o segundo time de todos no Brasil, que nos dá orgulho. É meu time de coração em qualquer circunstância. Recentemente usei meu mandato, a minha influência, se é pequena, média ou grande, não se sabe, usei tudo que eu pude e consegui R$ 15 milhões para fazer obras na Arena Condá. Para o bem da cidade, para o bem da região e não somente para um time de futebol, mas para economia da cidade. Olha o que a Chapecoense movimenta na economia de Chapecó. É meu time de coração e sou torcedor eternamente.

Schettini: Defina Plínio David De Nês Filho, o Maninho...

João: Meu amigo, uma pessoa do bem, um cidadão que teve uma contribuição extraordinária para a cidade de Chapecó como empresário, nos áureos tempos do Frigorífico Chapecó e é um abdicado na diretoria da Chapecoense, cumprindo um mandato exitoso, cumprindo sua missão como presidente do clube. Faz o que pode e o que não pode, é um homem que se dedica e faz do clube sua vida. Eu o respeito e o quero muito bem.

Schettini: Tem uma eleição neste fim de ano, inclusive com o nome dele...

João: Como estou longe de tudo, já não consigo acompanhar nada. Eu desejo e torço que o melhor seja feito pela Chapecoense. Aquilo que o torcedor desejar. Aquilo que for melhor para o clube, que assim seja.


ELEIÇÕES 2018

Schettini: E o governador de Santa Catarina nestas eleições?

João: Como preso não fala, só diz sim senhor e não senhor, essa é minha missão neste momento. Estou lutando para sair de onde estou, resolver essa situação de injustiça que eu vivo. Depois que sair daqui, que Deus quiser que seja o quanto antes, pretendo ser candidato a deputado federal pelo PSD, que é o meu partido, e acompanhar o projeto do PSD, em liberdade. Com os direitos políticos recuperados, acompanharei o projeto do meu partido.

Schettini: Júlio Garcia...

João: É meu amigo, meu amigo demais. Sempre foi meu parceiro. Devo ao Júlio Garcia porque foi muito leal a mim sempre. Sempre foi um grande amigo meu.

Schettini: Gelson Merisio...

João: Meu companheiro político. Afinal de contas, o Gelson Merisio assumiu o meu lugar como deputado estadual, levei ele para Chapecó e transferi seu Título de Eleitor. Juntamente com meus amigos e a cidade de Chapecó, demos a ele, se não me falha a memória, 12 ou 14 mil votos, que garantiu sua reeleição. Fizemos grandes parcerias, que ajudaram muito Chapecó e o Oeste de Santa Catarina, com um projeto político em que a região ganhou muito, com esforço político de todos nós.

Schettini: Ele merece ser governador de Santa Catarina?

João: Capacidade e competência tem para isso. Todos são bons nomes. É do meu partido. Mas Esperidião Amin é meu grande amigo, assim como Merisio. O Mauro Mariani é meu colega deputado federal, foi meu colega deputado estadual, e não posso desqualificar, obviamente, nenhum deles. São todos nomes qualificados e preparados. Mas é uma opinião. Como candidato, se assim for, com meus direitos políticos recuperados, filiado ao partido que estou e candidato a deputado federal, é uma outra situação. Neste momento, assistindo de fora, emito uma opinião como eleitor. Santa Catarina tem grandes lideranças, eu também era um nome ao Governo, até recentemente, e me sentia qualificado para isso.

Schettini: Qualificado por quê?

João: Tenho sete mandatos, fui três vezes prefeito. Em Chapecó deixei um legado de grandes, médias e pequenas obras. Juntamente com a Fabi, fizemos um grande projeto social, que repercutiu no Brasil inteiro, a Cidade do Idoso. A Chapecó Criança foi uma obra do nosso governo com as nossas secretárias da Educação, a Marlene e a professora Astrit Tozzo. Com auxílio da professora Zelita Panegali, fizemos a Escola Parque Cidadã Leonel de Moura Brizola, em período integral e em bairro carente, porque entendo que com esta educação as crianças estão em um mundo mais socializado. Então acho que tenho muita competência também para ser, mas neste momento está descartada esta possibilidade. Se eu tiver meus direitos políticos recuperados e for absolvido deste processo, pretendo retomar minha vida pública como pré-candidato a deputado federal e continuar trilhando o caminho junto com meu partido, o PSD.


SOLIDARIEDADE E GRATIDÃO

Schettini: E a família, João?

João: É o meu maior patrimônio. Na minha vida pública eu me dediquei ao povo e não me arrependo disso, deixando em segundo plano a minha família. A partir do momento em que eu vivi tudo isso, eu percebi o quanto é importante. A Fabi não é para ser minha mulher, conheci ela quando eu tinha 14 anos. Temos quase 30 anos de convivência, 26 anos aproximadamente. Ela não é uma esposa e uma mãe, ela é uma guerreira... Toda mulher, toda mãe é guerreira por natureza. Mas enfrentar o que a Fabi enfrentou, o que ela encarou, muitas mentiras, enganações, muitos nãos. Mas por outro lado, muita lealdade, muita gente ao lado, parceiros, de todos partidos políticos, adversários políticos... Vou citar o Dr. Írio Grolli, meu adversário político histórico, mas foi uma pessoa que ligou no celular da minha mulher e se colocou à disposição, inconformado com essa injustiça que fizeram comigo. Então a política ficou em segundo plano, em primeiro plano ficou a pessoa, o ser humano.

Schettini: Como foram as manifestações públicas?

João: Eu sou grato a todos, indistintamente de partido político, que foram leais a mim. Esperidião, Jorginho Mello... Casildo Maldaner foi o primeiro, publicamente, a fazer uma defesa desta maneira. Eduardo Pinho Moreira também publicamente... Henrique Córdova, ex-governador, que eu não conheço pessoalmente, fez uma declaração pública em meu favor. O presidente do meu partido, Merisio fez a mesma coisa. Sou muito grato a todos que tiveram coragem, no meu pior momento, de colocar a cara para bater e me defender honrosamente como fizeram os senadores Dário Berger, Paulo Bauer e Dalírio Beber. Por que todos os partidos me defendem publicamente? Porque estão defendendo alguém que é honesto, alguém que não deve. Então, por si só, eu já sou um vitorioso. Mesmo que eu saia da vida pública hoje, se eu não puder mais participar dela, saio vitorioso, porque no pior momento de um homem público, suprapartidariamente, quem não foi publicamente fazer isso, pelo menos mandou um recado. Alguns não poderiam devido a posições ideológicas, mas enviavam um recado de solidariedade. Sou grato a todos, não tenho o por que desdenhar de alguém. Sou grato ao meu partido, aos deputados estaduais pela coragem, honra e hombridade em me defender publicamente. A exemplo de Júlio Garcia, que pegou o Sul do Estado todo, e fez uma nota pública de uma página no Diário Catarinense. Como fez o ex-prefeito Zé Cláudio Caramori, que publicamente fez sua defesa em meu nome. Ninguém deles esqueceu o quanto eu fui útil no passado e talvez eu seja útil no futuro, mas em um presente recente eu estava preso, mudo, surdo e não podia falar. Hoje, estou trabalhando com a voz livre para poder me manifestar. Em breve, livre como um pássaro, sem uma grade na frente para poder trabalhar e retomar minha vida pública para fazer aquilo que eu gosto. Agora com mais prudência, com a família mais ao meu lado, mas com os amigos de sempre, fazendo o que eu gosto e para quem eu gosto, que é o povo de Santa Catarina e da minha região.

Schettini: E Gigante Buligon?

João: Meu grande amigo, um grande prefeito. Também foi solidário. Num primeiro momento, procurando a Fabi, confortando minha família. Logo que chegamos de viagem, fui retirado da minha família, fui sacado do meio, fui extraído do seio da minha família repentinamente. Eu estava preso. Todos os dias as notícias eram, nos canais de televisão de rede nacional, “deputado preso, deputado preso”, dava de entender que ali estava um bandido. Naquele pior momento, enquanto eu estava com a cara estampada em veículos de comunicação, os amigos leais foram para guerra, fizeram uma muralha, colocaram o peito na frente, para que as balas não chegassem até minha casa. Assim construímos um muro com pessoas que me defenderam. A minha mulher virou gigante, minhas filhas viraram gigantes, porque se não fosse a solidariedade humana, do povo da minha região e de Santa Catarina, os prefeitos da região, como Lírio, o vice Adriano, o prefeito Menegolla, de Xanxerê. Se não fosse a solidariedade humana, acho que tínhamos sucumbidos, mas sobrevivemos. Saio mais forte que entrei, com mais coragem, mais raciocínio, mais paciencioso. O Buligon, mais do que nunca, tem sido muito leal. Todos sabem que sei o quanto cada um foi leal. Eu e a Fabi, a Maria Paula e a Caroline, guardamos todos no coração, independente de partido político. Servidores da Prefeitura de Chapecó, secretários que trabalharam comigo ou não. Sou muito grato a todos que estão sendo solidários.


A GRANDE FESTA

Schettini: Quando o senhor vai fazer uma festa com o povo de Chapecó e de Santa Catarina?

João: Sempre fui um homem temente a Deus, sempre fui. Mas hoje sou um fanático por Deus. Temente a Deus todo mundo é, até os ateus, que dizem que não acreditam, mas quando há uma emergência, dizem graças a Deus ou pelo amor de Deus. Sempre fui temente a Deus, mas agora tenho certeza absoluta do poder dele. Um poder tamanho que faz com que você renasça das cinzas. Se não fosse ele, eu não estaria vivo. Não tem como poder sobreviver há tanto tempo, injustamente, como eu estive. Quero é que Deus queira que eu saia logo, este mês de julho, na primeira quinzena de agosto. A primeira coisa que farei na minha vida é voltar para minha casa, sentar à minha mesa, abraçar as minhas filhas, olhar para minha família e pedir perdão por tudo que deixei de fazer junto a eles [choro]. Tenho uma filha de 21 anos, ela nasceu quando assumi como vice-prefeito de Pinhalzinho. Ela fez 21 anos, eu estava na cadeia. A mais nova, nasceu quando assumi a Prefeitura de Chapecó, ela fez 13 anos, eu estava na cadeia. A primeira coisa é pedir perdão a elas pela minha ausência, depois disso quero comemorar com elas, na minha casa, só nós, a minha família. A grande comemoração que vamos fazer em casa será com uma oração, rezar e agradecer a Deus por tudo que ele nos tem dado. A oportunidade de ter uma família, forte e guerreira. Essa família pode ser embaixo de uma ponte, é insubstituível. Depois disso tudo, pretendo fazer uma comemoração com meus amigos, pela vitória da Justiça, se é que ela vai acontecer, pela amizade, pela lealdade de cada amigo. Eu sempre fiz isso, há mais de 20 anos, em todo aniversário fiz questão de ter muita gente perto. Eu gosto de gente, de povo, do sorriso das pessoas, principalmente dos mais humildes, dos bairros, do cidadão que mora em qualquer município, do prefeito, vice-prefeito, independente, gosto de ver as pessoas perto de mim. Hoje sinto saudade de todos eles. Isso quero fazer logo em seguida que eu sair daqui, uma grande festa.

Schettini: Apartidária?

João: Vou reunir os amigos, independente do partido. Não precisa ser meu eleitor não.

Schettini: Vai convidar o PT?

João: Não a esse ponto. A gente precisa respeitar os adversários políticos, eu estaria desrespeitando todos eles. Primeiro temos que reunir os mais próximos, que são aqueles que me acompanham na minha vida pública. Mas jamais, em momento algum, não espere mais eu constranger qualquer adversário.

Schettini: Uma mensagem para Chapecó, Santa Catarina e região Oeste...

João: Quero agradecer a todas as orações. Principalmente das pessoas mais humildes, das mais pobres, que enviaram vídeos, fotos, lembranças, terços. Quero mandar um beijo no coração de uma pessoa que foi muito especial. Numa situação como esta, todas as visitas são importantes. Mas quando a Maria De Marco me visitou, lá em Porto Alegre, foi muito emocionante. Porque a amizade que eu e Edir De Marco tínhamos e temos, foi muito forte. Nós convivíamos, semanalmente, na casa de um e do outro. A Maria, apesar de tudo que passou, estava lá para me dar um abraço e transmitir uma energia que me ajudou a ter forças. Ela me disse: “Olha, João. Você está passando por um momento muito ruim, mas isso vai passar e a Fabi vai receber você em casa. Agora, eu, não vou receber o Edir nunca mais na minha casa”. Isso mexeu muito comigo, pois estava sendo ingrato com Deus naquele momento, porque estava desesperado. A partir daquele momento, passei a ter forças para entender. Mais injusto que aquele avião cair, não poderia ser. Quer injustiça maior que aquela queda de avião, que matou muita gente de bem? Então não é mais injusto que meu caso. Meu caso é uma injustiça da Justiça. Deles é uma injustiça de um piloto ou de uma empresa. Então quero deixar um beijo no coração da Maria, para a Fabi guerreira, para minhas filhas e para todos catarinenses. Vamos ser mais tolerantes, mais pacientes, mais compreensivos. Adversários, sim. Inimigos, nunca. É isso que temos que levar daqui para frente.


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