Nos últimos dias, multidões têm compartilhado fotos de suas faces, de seus amigos, filhos e familiares. Entre os efeitos, os mais comuns foram criar uma foto realista de uma pessoa com 20 anos, tendo 50 ou 60 anos, ou o inverso. Ou até mesmo “embelezar” com realidade aumentada com acessórios ou características novas, como barba ou um sorriso diferente.
É importante contextualizar tudo isso. Um aplicativo freemium, chamado Face App, que tem sede em São Petersburgo na Rússia, tem solicitado sua permissão para usar sua câmera, ter acesso à sua galeria de fotos e ao seu histórico de navegação. Ele está entre os aplicativos mais baixados pelos brasileiros e também em muitos países do mundo nas lojas da Apple e Google nas últimas semanas.
Seu fundador, Yaroslav Goncharov, afirmou em entrevista na última quarta: “Desenvolvemos uma nova tecnologia que usa redes neurais para modificar um rosto em qualquer foto, mantendo-o fotorrealista. Por exemplo, pode adicionar um sorriso, mudar de sexo e idade, ou apenas torná-lo mais atraente”.
Ao ler sua política de privacidade, é possível verificar, entre diversos pontos, o seguinte: "Também podemos compartilhar suas informações, bem como informações de ferramentas como cookies, arquivos de log e identificadores de dispositivos e dados de localização, com organizações terceirizadas que nos ajudam a fornecer o serviço para você".
Esse não é um fato isolado de uso de faces de maneira que a maioria das pessoas não têm conhecimento ou consentimento. Recentemente, a IBM foi acusada de utilizar quase um milhão de fotos da base do serviço do Yahoo, conhecido como Flickr, sem o consentimento dos proprietários das fotos. Assim como o Facebook á identifica fotos automaticamente quando você publica, que ajuda, além de treinar seus algoritmos, os seus usuários a organizarem e marcarem com facilidade outras pessoas em suas fotos enviadas.
Tecnologias podem ter seus efeitos positivos ou negativos, e não é diferente com reconhecimento facial. Muitos podem alegar a necessidade de prevenção de crimes ou comodidade, mas ao mesmo tempo há quem diga que a tecnologia prejudica direitos e liberdades civis. Foi o que ocorreu recentemente em São Francisco, que proibiu o uso da tecnologia pela política.
Parece inevitável que nossas faces sejam utilizadas em algum local se já utilizamos alguma rede social, fomos filmados ou tiraram fotos nossas por meios digitais. Uma geração inteira já tem realizado exposições de seus rostos sem cuidados, sem que existissem regras claras para o armazenamento e uso delas por plataformas ou governos.
Mas tenha consciência que, ao expor fotos para esses aplicativos, há um preço. Apesar disso, ainda não temos como saber exatamente qual é. Por isso, destaco a importância do debate sobre os controladores de dados e dispositivos regulatórios como a nova lei de proteção de dados pessoais para buscarmos diminuir os impactos negativos para as próximas gerações.
Até lá, seja prudente, com você e principalmente com as imagens de seus amigos ou familiares. Que isso uma vez mais te sirva de lição e saiba que todos os seus comportamentos, suas ações, seus gostos e desejos cedo ou tarde estão sendo compilados um a um. Quanto mais você usar, quanto mais você clicar, quanto mais você interagir através de seu celular ou similares, mais saberão sobre você.
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