Por Vitória Schettini
Assim como as badaladas da Igreja Matriz São Luiz Gonzaga anunciam a missa, o som do apito da Aurora anuncia, desde a década de 1930, o horário de entrada funcionários na unidade. Durante todos os dias, já é de costume os xaxinenses escutarem o barulho característico do apito, oriundo do Centro da cidade, que soa às 7h, 12h e às 18h, que vem do frigorífico pertencente à Massa Falida da Chapecó Alimentos, hoje arrendada pela Aurora Alimentos.
O LÊ NOTÍCIAS conversou com os ex-funcionários da Chapecó Companhia Industrial de Alimentos, Valdemar Mendo e Emílio Angoleri, que trabalharam décadas na unidade e contaram um pouco sobre a história do apito, que se transformou em uma tradição no município.
Seu Valdemar Mendo, de 71 anos, atuou na empresa entre 1962 a 1997 e relata que trabalhou na área da sala de máquinas no tempo em que ainda havia o abate de suínos e, já que havia menos máquinas, era necessário apitar de madrugada, às 4h45. Eu dava três apitadas bem longas, tanto que o pessoal acabou reclamando e o diretor da unidade pediu para eu diminuir, que não era para segurar muito. Quando o abate de frango foi iniciado, eu saí da área do apito porque havia muitas máquinas, mas continuei apitando na madrugada, salientou.
Ele permaneceu por quatro anos e meio apitando às 4h45 da manhã, despertando o foguista e os outros funcionários do frigorífico, que iniciavam o expediente às 7h da manhã. Mais tarde, ele passou à sala de máquinas e o apito saiu de suas mãos. O pessoal sempre disse que o apito era de um navio ou de um trem, mas até hoje não sei direito qual a origem dele, eu só tenho certeza que o som é lindo, explicou.
Segundo Juca DalBello, que tem memórias dos primórdios do frigorífico em Xaxim, com a alternância de empresas que controlavam o frigorífico, a cidade por muitas vezes deixou de ouvir os apitos para sentir o silêncio da fábrica que havia parado de operar. Um silêncio assustador porque por de trás dele havia milhares de vidas que não estavam trabalhando, produzindo, transportando, gerando riquezas e sustentando suas famílias e seus ideais. Era uma situação angustiante para a cidade, exagerando poder-se-ia usar o termo macabro, conta. Ele, em tom de brincadeira, diz que o apitador de hoje deve ser uma pessoa feliz. Porque este toque não é repetitivo, igual ao do turno anterior. É sempre diferente, com notas e intervalos desiguais. Quando acho que findou, passados alguns segundos, ele complementa com mais um toquezinho, relata, com um belo sorriso no rosto.