Mulheres movem o mundo. Sempre foi assim. Até pouco tempo tinham seus aventais molhados pela água do tanque ou pelo molho do macarrão do almoço. Nas horas que seriam para o justo descanso, pregavam botões caídos das camisas de pais, avôs, marido e filhos.
Também pintavam panos de pratos e faziam tapeçarias e tapetes para adornar a casa, pois obra de arte é coisa cara, que geralmente o marido não consegue pagar. Se faziam mais de uma, tentavam vender para aumentar a renda da família. De noitinha, ainda, cortavam e pintavam as unhas das vizinhas, pois, historicamente, mulher sempre foi pau pra toda obra, desde quando guardavam os filhos nas portas das cavernas enquanto seus pares saiam para caçar.
Na falta da lã, da tela ou da tinta, penduraram na parede um calendário que tinha uma imagem diferente para cada mês. Ao lado deste, o outro com o coração de Jesus e alguns versículos da Bíblia para meditar entre um e outro suspiro de cansaço .
Com a revolução industrial, acumularam afazeres domésticos em fábricas e minas de carvão, sempre ganhando menos do que um homem na mesma função.
Para o bem da humanidade, isto começou a mudar no século passado. Jornais, televisão e cinema começaram a dar mais atenção à mulher como um ser tão importante socialmente quanto o homem.
A minissaia, invenção de Mary Quant, não foi apenas uma manifestação libertária no sentido de expressão da sexualidade, mas, sim, de identidade.
A partir daí, além de mostrarem o corpo impunemente, começaram a provar que podiam desenhar e criar modelos como os grandes e consagrados estilistas.
Hoje, médicas e psicólogas dirigem grandes hospitais e clínicas; além de táxi, caminhões e poderosas empresas.
Administram clubes de futebol e escolas. Não mais se escondem e já sabem se defender em caso de injúria ou agressão.
Por isso tudo sou obrigado a concluir, já nesta minha idade avançada: se hoje eu pudesse escolher uma companheira, gostaria de uma mulher que desenhe, pinte e borde, podendo cantar enquanto lavo seu avental, esteja ele sujo de tinta, tomate ou giz.
Que ela me desenhe, se puder. Caso contrário, que me rabisque.
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