Lembrando o antigo dito popular “O pior cego é aquele que não quer ver”, decidi tecer algumas considerações que podem até sofrer contestações, já que estamos voltando à democracia.
Pouco tempo após o nascimento, nossos olhos já adquirem capacidade plena de captar o que está à nossa volta, mas eles não têm a capacidade de traduzir a situação “filmada” e gravada na memória. São as experiências sensoriais que vão nos diferenciar as imagens negativas das positivas.
À medida em que vamos crescendo, estabelecemos critérios éticos e estéticos. Começamos a distinguir o bom e o ruim dentre as imagens que nos surgem aos olhos; e, também, começamos a escolher as figuras que mais acalentam nossas almas, pois tudo se transforma de acordo com o nosso olhar ou de acordo com o que deciframos na paisagem.
Nem tudo o que vemos é real e nem toda realidade pode nos influenciar ou interessar. Porém, precisamos estar atentos à realidade para que ela não nos atropele enquanto admiramos um quadro de Kandinsky, Miró ou Dali.
Ver não é um ato, apenas consequência de algo congênito. Enxergar é um aprendizado. Quando aprendemos a verdadeiramente enxergar o mundo é que começamos a estabelecer valores que costumam passar desapercebidos pela maioria das pessoas (não por culpa delas, mas pelas informações e educação que não receberam).
O despertar para outras formas de olhar passa pela escola. Cabe ao professor despertar a curiosidade, instigar o aluno a procurar outras fontes de conhecimento ao invés de se ater às cartilhas distribuídas nas escolas. Temos alternativas de entretenimento de alto nível e gratuito em várias cidades do País. As administrações que ignoram isto são omissas.
Mas não vou me ater apenas às artes plásticas. A chegada da internet e a proliferação dos telefones móveis provocou uma ruidosa poluição sonora. Basta que se entre em um ônibus para ouvir raps e funks de conteúdo violento ou pornográfico. Um pouco de educação musical seria importante para elevar o nível de consciência destas crianças.
A música popular brasileira, além do próprio folclore, é uma fonte inesgotável para auxiliar a atividade pedagógica. Pena que tenha sido tão pouco utilizada, visto que nos últimos anos os artistas foram relegados para aquele plano abaixo do tapete.
Não é impossível unir o erudito ao popular. Tom Jobim, Vinicius de Moraes e os outros pais da Bossa Nova fizeram isto. Chico Buarque tem canções que explicam a história do Brasil (o samba “Vai Passar” é um exemplo).
Precisamos ter mais atenção à arte. Sem arte, não existe educação de qualidade.
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