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Ela vem de berço

Por: LÊ NOTÍCIAS
10/05/2017 09:17 - Atualizado em 10/05/2017 09:17

A corrupção não está em Brasília! Ela começa em Santa Catarina, na Bahia e no Tocantins. Ela está em todo lugar. A partir do momento em que a facilidade em conseguir aquilo que não é fácil utilizando de artifícios, que não a ética, caracteriza-se corrupção. Um benefício no trabalho, em casa, na escola, ou na faculdade que não for resultado do próprio esforço e/ou merecimento garante que o corrupto está em nós. O que se debate em relação à corrupção vem atrelado a Brasília, que nada mais é do que o centro dos holofotes da mídia, onde 513 deputados federais são fiscalizados e confrontados com o olhar de quem está esperando um simples deslize para promover o júri. Júri que se faz com o julgamento da massa, que, coitada, acompanha quase tudo de acordo com o que os grandes monopólios da comunicação apresentam.

O que dizer sobre aqueles que estão acostumados a furar a fila do mercadinho; a copiar o texto da internet para impressionar a professora; a fugir da aula durante a explicação e depois questionar o porquê não entendeu; a dizer para a mãe que foi o irmão quem quebrou o vaso que ela ganhou da sogra de aniversário? Difícil encontrar argumentos. Mas será que essas pessoas têm culpa? Será que, para os pais foi um erro ter feito o filho passar vergonha na frente dos outros por alguns minutos o fazendo admitir o que fez de errado? Deve ter sido. Agora o que resta é se conformar com o falso moralismo em cobrar aquilo que se aprendeu a fazer desde cedo.

Claro que não se compara desviar milhões, como na Operação Lava Jato, a centavos no troco a mais que recebeu do pão, ou não? É de se questionar onde é então que esses políticos que se dizem donos da verdade aprenderam a dar esse jeitinho de “ninguém vai saber”, ou então nem precisa. Tudo tem um começo. Tudo tem um meio e quem somos nós para dizer como será o fim? A base que cada um coloca é como um espeto de duas pontas: o cabo é que dá a sustentação, mas você é quem escolhe com qual das pontas vai espetar primeiro.

A realidade que é do rico, do pobre, do funcionário, do patrão, pode não ter tido um começo favorável ao que chamam de honestidade, mas será que dá tempo de corrigir ou vivemos na utopia de acreditar que o outro é pior do que nós mesmos? São inúmeros os questionamentos que cercam a relação entre a corrupção e o cidadão, mas as respostas infelizmente são escassas. A incerteza de acreditar num mundo em que as pessoas são boas e que lutam dignamente por seus direitos e conquistam seu espaço sem passar por cima de ninguém é alavancada a cada manchete de jornal; a cada chamada no intervalo da novela; a cada foto que aparece na timeline do Facebook. Mas se existem as pessoas que são honestas e que não afundam a cabeça no travesseiro articulando em quê pode prejudicar o outro no dia seguinte, que apareçam. Pelo jeito vai demorar. Quem sabe daqui a 15 ou 20 anos.

Parece clichê falar das próximas gerações, que virão com o olhar mais tecnológico, mecânico. Quem sabe em meio a essa turbulência de conexões vazias que abarrotarão a caixa de mensagens do celular ainda se abram espaços para que os princípios éticos e morais que estamos criticando hoje sejam apenas comentários do passado. Utopia? Utopia. Mas, se começarmos hoje a refletir sobre o futuro, passaremos a devolver aquelas moedinhas a mais, a dizer “fui eu”, “desculpa” e as mais mágicas e sábias palavras “por favor” e “obrigado”.


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