Qualquer situação de risco, principalmente aos pequenos, põe em xeque o que chamamos de “instinto materno”. Uma simples busca pela internet traz inúmeras definições à atitude que, sem pensar, impulsiona as mães ágeis a defender e proteger o fruto do próprio ventre. O calor do colo da mãe ao aquecer o corpinho e alimentar as pequenas e delicadas boquinhas dos bebês faz as mamães se encantarem ao contemplar o dom mais precioso, o de serem e se sentirem mães. O sentimento que é esperado por grande parte das mulheres, que aprendem desde pequenas a serem cuidadosas com as bonecas, por exemplo, sejam elas de pano ou então as que falam 135 frases. Imagine quando, ainda criança, elas encontram um bebê. Os olhos brilham e o sorriso brota levemente, muitas vezes acompanhado de um “deixa eu pegar” e “posso dar um beijinho?”.
Alavancada pelos comerciais que aparecem a cada intervalo da programação televisiva, a delicadeza do afeto materno é exaltada a trilhas sonoras suaves e que trazem a reflexão do que, de acordo com a proposta, traz o significado de relação entre mãe e filho. Campanhas publicitárias de fraldas, amaciante de roupas, produtos de higiene, de margarina, entre outros, têm de monte. Porém, basta esperar a volta do intervalo dos telejornais que a realidade de muitos brasileiros vem à tona. É mãe abandonando filho em sacos de lixo; é mãe espancando, humilhando e, em casos mais específicos, tirando a vida daquele que ela carregou nove meses na barriga - isso sem falar dos que perdem o direito a vida ainda antes de nascer, mas esse já é outro debate que não cabe a este editorial. Difícil analisar a dimensão de crimes por todo lado, pois ainda é pouca manchete perto da realidade que fica no anonimato.
Aonde é então que fica o tal do instinto materno, que teria como base fundamentada a de que é natural do ser vivo? Os discursos de que “mãe que é mãe não abandona o filho” são muitos nos grandes e pequenos centros. Pode-se dizer então que essa ideia maternal, que inicia quando o teste de farmácia dá positivo pela primeira vez, não passa de senso comum. Aí já é outra questão. Não natural, mas construído socialmente. Portanto não caracteriza instinto. Mas para quê se preocupar se é instinto ou não quando, cercados de bons exemplos, vemos mães fazerem de tudo pelo bem-estar dos filhos, sejam eles gerados, adotados ou emprestados. Avós que tomam à frente; madrinhas, tias, vizinhas que cuidam dos pequenos como se fossem seus. Mulheres que abdicam do tempo, dinheiro e vida particular em prol de quem necessita de atenção especial. São estas que merecem as homenagens deste domingo. Homenagens que, nada mais justo, deveriam se estender por todos os outros domingos, segundas, terças, quartas...
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