*Por Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira
Com todo esse enorme quiprocó que envolve a corrupção no Brasil, imagine se a imprensa não tivesse a liberdade de tratar dos fatos que cada vez mais enlameiam a política e sujam o nome do país? Certamente, saberíamos muito pouco dos subterrâneos dos crimes daqueles engravatados meliantes que usam alvas camisas, ou seja, os maléficos praticantes dos “crimes do colarinho branco”. Com toda a certeza, não teríamos o exercício - individual e coletivo -, do mais amplo, legítimo e imprescindível direito de saber.
É claro que muitas vezes os fatos não são bem processados, mas sim mal tratados, judiados. Entre os males de muitos veículos e jornalistas, especialmente quando opinam, está o de arvorarem-se em julgadores, ou seja, informam, analisam e sentenciam. Daí gaguejam, muitas vezes por outros interesses que não aqueles do verdadeiro jornalismo e o que esperam leitores, ouvintes e telespectadores. Porém, sempre é preferível ter um jornalismo que erra do que não tê-lo, e é melhor que ele seja forte, atuante, livre, perseverante.
O jornalista e escritor norte-americano John Steinbeck (1902/1968), autor, entre outras obras, de “As Vinhas da Ira” e de “Ratos e Homens”, deu o contexto da importância do jornalismo, ao afirmar que ele tem a maior das virtudes e o maior dos males: “É a primeira coisa que o ditador controla. É pai da literatura e perpetrador de lixo. Em muitos casos, é a única história que temos, embora seja a ferramenta dos piores homens. Mas, num período longo, e talvez por ser produto de tanta gente, é a coisa mais pura que temos”.
Precisamos, então, ter sempre o jornalismo que mostre os erros e as virtudes. Se não for possível mostrar também a vergonha dos agentes que se sujam na corrupção - sejam eles de qualquer ideologia ou partido, da situação ou da oposição, autoridade ou da iniciativa privada -, que o jornalismo mostre o sentimento de quem deles se envergonha.
*Jornalista e professor universitário
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