Giziani Maria Domingos nasceu em Xanxerê, é xaxinense desde os primeiros anos de vida e, mais recentemente, tornou-se conhecida em todo o País. Aos 28 anos, Giziani tem uma história de perda, recomeço e garra, que foi amplamente repercutida pela mídia e redes sociais. Em 26 de novembro passado, o primogênito dela Lucas Davi morreu aos dois anos e três meses por complicações de um tumor cerebral. O menino sorridente, que cativou a todos, demonstrou na feição o misto de sensibilidade e coragem. Giziani esteve com o filho durante os quase 50 dias de tratamento, período em que ela emagreceu 17 quilos. Hoje, ela se dedica aos cuidados com a caçula Maria Vitória e a encorajar outras mulheres a guardarem a lembrança dos filhos, mas a dar sequência às suas vidas após o período do luto.
LÊ NOTÍCIAS: Qual foi o diagnóstico enfrentado por Lucas Davi?
Giziani Domingos: Ele passou mal no Dia das Crianças do ano passado, teve vômitos e febre. O primeiro diagnóstico foi virose, mas sempre fui daquelas mães que querem ir mais a fundo. Fomos a outros médicos e descobrimos o tumor cerebral. A partir de então foi um laudo mais assustador que o outro. Do diagnóstico até o falecimento foram 46 dias de internação entre Xanxerê e Chapecó. Neste período, estudamos, inclusive, a possibilidade de transferi-lo para São Paulo, Curitiba e para os Estados Unidos. Eram muitas decisões para serem tomadas. O Lucas Davi passou por três cirurgias e muitos outros procedimentos. Quando recebi o diagnóstico, tive conhecimento de tudo o que poderia acontecer entre três e cincos anos, mas tudo aconteceu em sete dias. Me perguntei, por diversas vezes, o por quê de tudo estar acontecendo com ele e não comigo. Mas, foi preciso e o legado deixado por ele jamais será esquecido.
LÊ: Qual o legado deixado pelo seu filho?
Giziani: O sorrido dele, independentemente de qualquer dificuldade, é a maior inspiração deixada pelo Lucas Davi. Ele sempre se manteve feliz, brincando com os curativos. O olhar doce dele encantou toda a equipe médica, a região, o Estado e o País. Muitos ficam de cama três dias ao extrair um dente, então a força dele e o entusiasmo são os maiores legados. Olhar para a Maria Vitória e não ver seu irmãozinho é muito difícil, mas passarei justamente esta mensagem a ela: de luta, de força e de muito amor. Aproveito para agradecer a todos que de uma forma ou de outra estiveram comigo neste momento difícil.
LÊ: Qual foi a transformação em sua vida?
Giziani: Ele fez com que eu me redescobrisse e me tornasse muito mais forte. Hoje, digo com todo o orgulho que sou sindicalista, mulher e mãe separada. Crio minha filha com muito comprometimento e amor para que, assim como eu, ela também seja uma mulher de fibra quando crescer. Minha fé foi muito abalada, mas todos precisam de Deus. Ele é a base de tudo. E, principalmente, depois de tudo que vivi, aprendi a não reclamar mais. Perfeito ninguém é e nem vai ser. A maior mudança foi a de que antes eu me preocupava com o que os outros pensavam ao meu respeito e hoje eu não me preocupo mais. Hoje sei com quem posso contar, quem são os verdadeiros e a quem devo horar. Sou ainda mais uma mulher pronta para a luta.
LÊ: Quais os reflexos da sua luta?
Giziani: Há dois projetos em andamento. Neste sábado (10), ocorre a roda de conversa “Do luto para a luta”, com a palestra “Sou mãe de anjo”, a partir das 14h, no auditório da Atrax/Aciax, em Xaxim. Mesmo com esse vazio deixado pelo meu filho, continuo comunicativa e não vejo problema em falar sobre sua trajetória. Mas, percebo que há muitas mães que não têm essa facilidade. Estas acabam se fechando, adoecendo e não procuram ajuda psicológica. É preciso falar dos sentimentos e demonstrar isso. Muitos vínculos se criaram neste período. Não somos únicas, não fomos as primeiras e nem seremos as últimas. Juntas a gente é mais. O outro projeto é reflexo de uma promessa feita ao Lucas. Estou encabeçando uma campanha de doação de sangue e de medula para que muitas vidas sejam salvas. Aos poucos, essa campanha está ganhando força e muitos adeptos.
LÊ: Quem é esperado neste evento?
Giziani: A entrada é franca e esperamos a todos que sintam-se atraídos e motivados pelo tema. Será uma roda formada por mães que sofrem a dor da perda, mas que precisam seguir. Somos mães de anjos, seja através de uma perda na gravidez, numa doença, acidente ou outra decorrência. Precisamos nos unir, dar as mãos e nos abraçar. Essa é a primeira roda de conversa, mas não vai parar por aí. Existe muito tabu. É difícil conviver com a perda de um membro da família, mas a morte é a única certeza que temos e isso precisa ser abordado. Jamais deixaremos de ser mãe dos filhos que a gente perdeu.
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