Por Dr. Vicente Caropreso*
Moradores, estudantes de Blumenau ou mesmo da região sabem, desde a escola primária, que por trás da descrição do sujeito alto, magro, que era visto andandodescalço e com facão na cinta nas ruas da Blumenau do século 19, que adentrava a florestapara realizar seus estudos e observações, havia um homem simples e sábio. Um dos mais importantes cientistas brasileiros e também um dos mais ilustres fundadores da cidade.
Alguém que em 1865 passou a trocar cartas com o cientista britânico Charles Darwin, colocando à prova a sua teoria e auxiliando assim na consolidação de um dos principais estudos da humanidade: a Teoria da Evolução das Espécies. O conhecimento que produziu ultrapassou fronteiras. Colocou o nosso país no mapa-múndi da ciência.
Essa pessoa é Johann Friedrich Theodor Müller ou Fritz Müller. Professor, biólogo, médico, naturalista, ambientalista e poeta que aos 30 anos, em 1852, integrou a primeira leva de alemães que veio ao Brasil construir uma nova vida na então Colônia Blumenau.
Esta semana, no dia 31 de março, comemoramos os 199 anos do nascimento deste Alemão naturalizado Brasileiro. Iniciamos, assim, as comemorações do seu bicentenário (1822–1897) para que seus feitos em prol da ciência e de Santa Catarina sejam amplamente conhecidos.
Fritz Müller foi o único brasileiro a colaborar com o estudo evolucionista de Darwin. Em cartas que levavam meses para chegar ao seu destino, documentou com extrema precisão as modificações que observou em animais marinhos nas águas da baía de Florianópolis, quando a cidade se chamava Desterro, onde lecionou por 11 anos. Darwin o chamou de “Príncipe dos Observadores” e imortalizou seus estudos ao citá-lo 17 vezes na reedição do livro “A Origem das Espécies por meio da Seleção Natural”.
Quem é de Blumenau sabe, que antes de auxiliar Darwin e de desenvolver outras importantes pesquisas para o Brasil, Muller foi colono, cultivou a terra e dela tirou o sustento de sua família. Construiu a sua casa e nela educou suas filhas, ensinando-as a ler, escrever, desenhar, a escutar, ter pensamento crítico e, como ele, respeitar a natureza. Instruiu outros colonos, mas nunca abandonou a paixão pelos estudos, pela compreensão dos fenômenos naturais, que para ele iam muito além de crenças antigas e explicações superficiais. Foi um homem de vanguarda em todos os campos.
Fritz Muller deixou um gigantesco legado naturalístico, tanto da Flora como da Fauna da região Sul do Brasil.Porém, seus feitos ainda são desconhecidos por grande parte dos catarinenses.
Queremos que este culto prestado em Blumenau alcance todo o Estado. Para isso, ao celebrarmos o bicentenário de Fritz Muller, discutimos com a Secretaria de Estado da Educação algumas ações para que sua vida e a obra sejam componentes da grade curricular da rede educacional catarinense.
Assim, sua história e o seu legado científico servirão de inspiração para futuras gerações irem mais longe, se desafiarem na grande jornada pelo conhecimento.
*Médico neurologista e deputado estadual pelo PSDB/SC
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