Volto a escrever sobre as práticas adotadas na Islândia para reduzir o consumo de álcool, cigarro e outras drogas entre os adolescentes. Insisto no assunto por dois motivos. Um é pela importância do tema. Outro é que boa parte das práticas lá adotadas podem ser replicadas por aqui.
Após diversas pesquisas que foram feitas com os adolescentes descobriu-se alguns padrões de risco e outros de proteção.
Uma das grandes premissas de todo o trabalho preventivo era minimizar o tempo que os adolescentes passam sem a supervisão de um adulto responsável. Quanto mais tempo os pais passam juntos com os filhos, menor a exposição às drogas. Isso implica não só em participar mais da vida do filho, como também saber exatamente onde seu filho está e com quem.
Por lá, isso também implicou em diminuir a presença de adolescentes em festas sem a supervisão de adultos. Isso porque a maior parte do acesso ao álcool e outras drogas ocorre justamente nesses ambientes, em que não há o acompanhamento de ninguém.
Tudo isso é feito com um objetivo principal: retardar o acesso ao primeiro contato com álcool, cigarro e outras drogas, pois diversas pesquisas já comprovaram que quando mais cedo é o contato da criança ou do adolescente com essas substâncias, piores são as consequências, com maiores probabilidades de danos ao jovem.
Paralelamente a isso, diversas políticas públicas foram estruturadas com o fim de ocupar os jovens com atividades esportivas e culturais. Pesquisas mostraram que quanto mais as crianças e/ou adolescentes estavam envolvidas em práticas esportivas organizadas, ao estilo de escolinhas de futebol, com professores orientadores (muitas vezes aconselhando os jovens), menor o risco de uso de substâncias tóxicas.
Essas três práticas, aliadas ao fortalecimento dos laços comunitários, familiares e escolares, tem apresentado resultados notáveis.
E logo se vê que o modelo é plenamente aplicável por aqui. E como foi feito na prática? A ideia central foi usar os recursos da própria comunidade, indo além de um mero programa de governo, mas um modelo holístico de abordagem do problema.
A sua adoção implica em mudança de alguns comportamentos e atitudes de pais e educadores e, como toda mudança, provoca resistências. Pesquisa Nacional sobre a saúde de alunos, feita pelo IBGE em 2015 mostrou que os Estados do Sul tem os maiores índices de experimentação e consumo por parte de adolescentes de álcool, cigarros e drogas, apesar de ter padrões mais elevados de renda, no geral.
A pesquisa indica que fatores culturais e de formação da população podem explicar boa parte desse número elevado. Apesar de não ser tão fácil provocar mudanças culturais, elas acontecem. É só lembrar do sucesso mundial que foi a redução do consumo de tabaco em todo o Brasil, resultado de diversas campanhas e mudanças na legislação. O caminho é difícil, mas cada passo conta.
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