A política de gênero tem por escopo a decantada necessidade de inclusão social de todas as pessoas, em busca da promoção da identidade social de cada um e de todos, como realmente se sintam e queiram ser reconhecidos/as.
O Comitê Olímpico Internacional possibilitou que homens que optarem por fazer a redesignação sexual, declarando-se sob o novo gênero (reconhecimento civil) que logrem provar a quantidade de testosterona de até 10 nanomol por litro de sangue nos 12 meses anteriores à competição, poderão participar no naipe feminino.
A medalhista de bronze brasileira nas olímpiadas de 1996, no voleibol feminino, a ex-meio de rede Paula, relatou recentemente num programa de rádio, entender que a regulamentação do comitê olímpico internacional é controversa.
Argumentou, Paula, que sua carreira e de diversas atletas sofreram controles rígidos de hormônios desde as categorias de base, e que o fato de se fazer um controle circunstancial de testosterona não seria o suficiente, à medida em que ainda que haja uma redução do hormônio [continua Paula] em dado contexto da vida da pessoa há que atentar para a sua compleição física desenvolvida anteriormente, na maioria dos casos de quem nasceu com o sexo masculino, com cargas maiores de testosterona [ao longo da infância e adolescência] que as pessoas que nascem, a rigor, com o sexo feminino.
O debate não deve se focar no campo da política de gênero versus conservadorismo, muito menos fomentar a homofobia (que é crime!), mas na questão científica mesma, com uma análise do efetivo desenvolvimento físico, caso a caso, de quem nasceu aparentemente homem, e ao depois desenvolveu identidade com viés mais inclinado ao feminino.
O debate é polêmico, e a ex-tenista multi campeã, Martina Navratilova, ativista Gay, engrossa o discurso contra a flexibilização da competição no naipe feminino por transexuais nascidos fisicamente como homens, ao argumento que a formação de sua compleição física, por receber mais testosterona na infância e adolescência que quem nasce mulher, pode desiquilibrar indevidamente a competição feminina.
Há que se preservar a competitividade, para que se possa salvaguardar o espírito olímpico e de proteção às mulheres defendido pelo Barão de Cobertin (o francês criador dos jogos olímpicos modernos) e a um só tempo buscar franquear a todas as pessoas, independente de sexo, idade e religião, a possibilidade de competir em igualdade de condições físicas nos limites do desenvolvimento de cada qual, dentro dos padrões inerentes aos respectivos naipes.
Esse debate e desafio pode quiçá rumar para uma futura olimpíada LGBTQS? Ou para um mapa bioquímico que permita aferir se realmente as cargas hormonais de cada competidor (a), ao longo da vida, são fatores legítimos ou ilegítimos de desequilíbrio para se competir no naipe feminino?
Enfim, questão espinhosa que demanda debate profundo e longe de acabar, tanto da comunidade científica, como das federações de esportes e do comitê olímpico internacional, máxime porque tem sido em via de regra, até então, que quem nasceu com o sexo masculino querer participar de competições femininas, e não o contrário.
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