Brincar é um direito de todas as crianças. Pode ser algo simples de se dizer, mas ele está previsto no artigo 227 da Constituição Federal de 1988. E a importância dessa atividade vai muito além de um simples momento de descontração, é por meio dela que a criança constrói sua identidade.
Por entender que é algo indispensável, principalmente para crianças que estão hospitalizadas, a Unochapecó criou, em 2001, o 'Programa Sorriso para a Vida', e dentro dele, o 'Projeto Brincando no Hospital', que atua em brinquedotecas hospitalares. Mas neste período atípico de pandemia em que vivemos desde o ano passado, até as brincadeiras tiveram que ser reinventadas, e neste dia 28 de maio, quando se celebra o Dia Internacional do Brincar, vamos contar um pouco mais sobre como professores e estudantes continuaram levando alegria para os pequenos em um momento tão difícil.
“Ao brincar, a criança interage com o mundo a sua volta, e é nesse movimento, na complexidade dessas experiências lúdicas, que ela produz sua identidade social, cultural, política e até econômica, enfim, ela produz sua própria vida. Então, quando ela adoece, faz tratamento oncológico ou se encontra hospitalizada, no caso do nosso projeto, de certa forma ela é afastada dessas experiências e de sua cotidianidade marcada também por momentos lúdicos”, explica a coordenadora do Projeto, professora Lilian Rodrigues
Além da professora, mais nove estudantes dos cursos de Medicina, Odontologia, Fisioterapia, Nutrição, Educação Física, Psicologia e Artes Visuais integram o projeto. Para 2021, o projeto conta com recursos aprovados em Edital do Fundo da Infância e Adolescência (FIA). O Brincando no Hospital atende crianças em internação pediátrica e oncopediátrica, ou em tratamento ambulatorial, que vêm para o hospital, fazem quimioterapia ou radioterapia, e retornam para casa no mesmo dia. Seus cuidadores ou acompanhantes também participam das atividades.
Sempre realizado com muito amor e contato com as crianças, no novo momento, imposto pela pandemia, tudo teve que ser adaptado e reinventado. Num primeiro momento, foi proibida a realização presencial das atividades, tendo em vista o respeito ao distanciamento social e às demais normas de prevenção ao Covid-19.
“Logo quando nos recolhemos, houve uma identificação da nossa falta no hospital de uma forma geral, tanto pela equipe, quanto pelas próprias crianças, pois a ociosidade desse tempo dentro de um quarto hospitalar não é tão simples assim. Mas a situação exigia isso, tanto em relação aos próprios protocolos do hospital, na sua relação com a criança, seja na hospitalização ou no tratamento oncológico, ou então em relação às nossas atividades”, conta Lilian.
De acordo com a professora, para que as crianças continuassem tendo atividades no período em que estavam no hospital, a equipe do projeto trabalhou na produção de materiais didáticos, informativos, e kits lúdicos, que eram encaminhados para as crianças por intermédio das enfermeiras e assistentes sociais. “Voltamos a atender com protocolos rígidos de higienização dos materiais, das mãos, protocolos referentes ao uso de equipamentos obrigatórios, e também ao distanciamento. Isso aconteceu em outubro do ano passado, e em novembro tivemos que nos recolher novamente. No início do ano retornamos, mas em fevereiro, pela metade do mês, de novo tivemos que nos distanciar das crianças. Nesse período voltamos a investir muito nos kits lúdicos, tanto no âmbito das informações em relação à promoção e recuperação da saúde, quanto às atividades sobre as brinquedotecas e o brincar”.
Há duas semanas, voltaram os atendimentos presenciais nas brinquedotecas. Para que as crianças possam ter esse momento importante com toda a segurança possível, são seguidos protocolos de agendamento, e ele ocorre de forma individualizada. Além disso, essas atividades sempre são supervisionadas pela equipe de enfermagem do hospital.
“Mas foi, também, um momento de reinvenção, em todos os lugares e para todas as pessoas, da forma de ser e estar com as crianças, das formas de poder ainda possibilitar o brincar e o conhecimento no âmbito da saúde por exemplo. Nosso projeto vem no sentido de possibilitar que a criança, apesar da doença, das dores, do desconforto e do medo, ainda possa brincar. O brincar é um poderoso elemento de ligação com a vida cotidiana, dentro do hospital, com o fortalecimento de vínculos familiares, com a equipe médica e com a equipe de enfermagem que atende essas crianças. Ele também é um poderoso dispositivo na construção do enfrentamento da sua condição de criança hospitalizada ou em tratamento oncológico, então, ele assume um papel importante no processo de humanização desse tempo e espaço da doença, do tratamento e da hospitalização”, conclui a professora.
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