Por José Zeferino Pedrozo*
Há um problema na vida nacional que não está merecendo a devida atenção, provavelmente em face da pandemia e das crises cotidianas que ocupam a pauta do governo, do Congresso e das instituições em geral. Refiro-me à desesperança que acomete grande parcela da juventude brasileira. Sem perspectivas, metade dos jovens quer deixar o Brasil. Essa assertiva resume o drama: os jovens brasileiros querem imigrar para outros países. É a juventude desistindo do Brasil.
Essa melancólica constatação resulta de diversas pesquisas e estudos, incluindo o recém-publicado Atlas das Juventudes, FGV Social, pesquisas quantitativas do IBGE (PnadC e Pnad Covid-19), World Gallup Poll e até das Nações Unidas. Dos cerca de 50 milhões de brasileiros entre 15 a 29 anos, praticamente a metade (47%) deixaria o País. Em 2018, pesquisa semelhante do Instituto Datafolha já havia apurado que 62% dos jovens de 16 a 24 anos gostariam de deixar o País.
Gestores públicos, educadores, empresários, autoridades de todas as esferas, universidades e as famílias precisam olhar para esse quadro e priorizar tanto a compreensão desse fenômeno como a busca de sua solução. Isso é muito perturbador. O jovem, cuja missão em tese seria construir o futuro do País, não quer ter futuro na sua terra natal.
Evidente que muitas variáveis contribuíram para esse estágio, como as crises econômica, política e sanitária. A face mais dramática da crise econômica é o desemprego e este atingiu em cheio os estamentos mais jovens da população. A crise econômica potencializada com a pandemia elevou a desocupação de jovens (15 a 29 anos) de 49,5% para 56,3%. Mais de 70% tem dificuldade para encontrar trabalho. A conjugação de fatores negativos é causa e efeito da escolarização baixa. O IBGE constatou que mais da metade (51,2%) das pessoas com 25 anos ou mais não concluiu uma das etapas que compreendem o ensino infantil, fundamental e médio.
É necessário e urgente planejar e implementar programas de qualificação, valorização e inclusão do jovem no mercado de trabalho. Talvez haja um paradigma a seguir. A agricultura e o agronegócio desenvolveram ações pioneiras em áreas próximas, tangentes ou coincidentes com essa realidade ao tratarem a questão do êxodo rural. Na segunda metade do século passado, a migração regional das zonas agrícolas para os centros urbanos, em amplitude regional ou interestadual, foi amplamente estudada em várias partes do País. Em Santa Catarina ocorreu o esvaziamento dos campos e a concentração populacional nas regiões litorâneas.
O êxodo rural foi um fenômeno verificado em muitos países, mas a produção de alimentos não chegou a ser prejudicada em face da adoção de novas tecnologias. Entretanto, manter uma parcela da população no campo para garantir a segurança alimentar da Nação é essencial. Para isso, cresceu o investimento em infraestrutura – estradas, escolas, postos de saúde, energia elétrica, internet etc. – capaz de melhorar a qualidade de vida e de trabalho da família rural.
Paralelamente surgiram programas de envolvimento, motivação e qualificação dos jovens através das cooperativas, sindicatos, associações rurais, Prefeituras, universidades e, de modo especial, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). Em Santa Catarina, o Senar substituiu parte dos cursos de curta duração criados para aperfeiçoar os produtores em habilidades necessárias para o cotidiano das atividades agrícolas e pecuárias por cursos de alto nível e de média ou longa duração. Aqui se incluem a assistência técnica e gerencial, o curso Técnico em Agronegócio e os cursos superiores em Tecnologia de Gestão do Agronegócio, Gestão Ambiental, Gestão de Recursos Humanos e Processos Gerenciais, entre outros. Essas novas ferramentas educacionais têm os jovens como clientela básica e prestam grande contribuição na transformação de produtores em empresários rurais.
O resultado de todo esse esforço é gratificante. Os jovens estão ficando ou retornando ao meio rural porque ali exercem com sucesso as atividades típicas do agro e obtêm renda. E com a renda advêm os outros benefícios, qualidade de vida etc.
Governo e sociedade devem seguir o exemplo do agronegócio e criar novas perspectivas para os jovens. É vital restituir ao jovem a esperança, o otimismo e a crença no Brasil.
*Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
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