Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)
Um outro caso é o de quem costuma dar confiança com aparente amplitude para obter, em retribuição, a de seu próximo. Por trás de semelhante prodigalidade costumam esconder-se terríveis intenções, e os que aceitam tal temperamento, admitindo uma confiança que é alheia à idiossincrasia de quem a prodigaliza, correm o perigo de ser surpreendidos com exigências que nem sempre é possível atender. Mais ainda, às vezes acontece que, ingenuamente, caem nas armadilhas de situações embaraçosas, das quais com muita dificuldade e não poucos desgostos conseguem escapar.
É indubitável que a variedade de aspectos que surgem, ao se aprofundar este estudo sobre a confiança em suas formas éticas, é sumamente interessante. Assim o vemos quando aparece, por exemplo, nos lábios do brincalhão que, excedendo-se no tom e sem o cuidado de observar os efeitos que produz no ânimo de seus semelhantes, vê que pouco a pouco passa a ser recebido com prevenção no seio de suas amizades, quando não é excluído por completo. Essa classe de brincalhões fere a sensibilidade e incomoda o pudor comum.
Ao contrário disso, quão grata é para o espírito a brincadeira feita com elevação, delicadeza, e com propósito nobre, pois ameniza o ambiente e converte as reuniões numa atraente recreação espiritual. A brincadeira elevada, gentil e sadia, é aceita por todos; mais ainda, é buscada e apreciada. Esta é a que deve ser cultivada com prudência e, sobretudo, selecionando os temas que lhe servirão de motivo.
Quão grata é para o espírito a brincadeira feita com elevação, delicadeza, e com propósito nobre.
Quão necessário é que o homem seja circunspecto e fino em suas atuações, para que elas sejam felizes e não desditosas; e quão necessário é também que seja cauto e rigoroso nesses meios de observação e realização da própria cultura, para não ter que sofrer lamentáveis imprevisões que redundem em prejuízo de seu conceito, ao não saber comportar-se na vida de relação, quer dizer, com a sociedade à qual pertence e que frequenta.
Eis aí outro aspecto da confiança que a Logosofia utiliza para revelar deficiências e apontar uma conduta que enalteça e honre o ser, sendo uma garantia de convivência harmoniosa e agradável. A confiança que um povo outorga a seu mandatário, ao centralizar em um a vontade de todos, é uma prova de moral pública, mas, se ela é defraudada, a mesma moral reage e o usurpador perde a confiança de seu povo.
Adicionaremos que a confiança, do ponto de vista de sua expressão ética, deve constituir o fundamento de toda organização moral, política e social.
(Trechos extraídos da Coletânea da Revista Logosofia, tomo 2, p. 51)
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