Se colocando à disposição para disputar as eleições de 2022 em Santa Catarina, o secretário de Estado de Turismo de São Paulo, Vinicius Lummertz, concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e fez uma interessante análise do processo político nacional e catarinense, projetando cenários e necessidades da sociedade.
Homem de confiança de Luiz Henrique da Silveira, foi seu secretário da Articulação Internacional e de Planejamento, Orçamento e Gestão, dando eco às ações de SC em todo o mundo, resultando em importantes investimentos multinacionais em solo catarinense.
Tucano com alta formação, ex-ministro do Turismo e um dos maiores nomes do setor em todo o Brasil, Lummertz observa o Governo Bolsonaro em derretimento e aponta os motivos disso, mostrando os erros e equívocos que o presidente da República tem deixado como legado.
Durante a entrevista, disse acreditar que há espaço para construção de um terceiro nome, diferente de Lula e Bolsonaro, para ocupar o Palácio do Planalto. Nesta percepção, vê em João Doria todos as qualidades necessárias para pleitear o cargo, num grande projeto nacional, que passa pelas candidaturas ao Senado e na proporcional. Confira:
Marcos Schettini: O senhor, que já foi ministro do Temer, secretário do Luiz Henrique em SC e agora do João Doria em SP, como analisa o quadro atual da política brasileira em relação as eleições de 2022?
Vinicius Lummertz: Não há nada definido, só alguns contornos. A eleição ocorrerá daqui a um ano e três meses, e se olharmos um ano atrás o quadro também era muito diferente. Mesmo há um mês atrás. Vivemos um crescente grau de instabilidade e de expectativas frustradas.
Schettini: Teremos um segundo turno entre Lula e Bolsonaro? Neste caso, votaria em quem?
Vinicius: Talvez essa seja minha única convicção quanto a 2022: isso não vai acontecer. O Brasil tem um grande destino. Sessenta por cento dos brasileiros vão continuar apostando nas mudanças, porque o voto continua sendo a única forma que temos para dizer o que não queremos, mas também o que nós queremos. No fim das contas, o progresso da democracia depende de que haja mais acertos do que erros.
Schettini: Quais seriam exemplos disso?
Vinicius: Os estados de Santa Catarina, São Paulo e Ceará, por exemplo, têm acertado muito mais do que errado ao longo das últimas décadas. O Rio tem errado muito mais. É um aprendizado, até porque a democracia é um grande esforço histórico da nação e é pelo voto que aprendemos a fazer as escolhas certas.
Schettini: Qual é sua avaliação sobre o Governo Bolsonaro?
Vinicius: Tende a se constituir no pior governo da história do Brasil. Ele está preso num pequeno repertório de indignação no qual enredou toda a frustração que veio às ruas em 2013 e na Lava Jato. Tornou reféns muitos esperançosos por mudanças, mas não soube e não sabe o que fazer. Não entrega. Agita e faz confusão. Não sabe trabalhar nem estudar, por isso radicaliza e sinaliza com ameaças de um golpe militar, ao qual os grandes generais patriotas não se submeterão.
Schettini: O presidente Bolsonaro não poderia mudar e melhorar a sua aprovação, que caiu muito recentemente?
Vinicius: Não. Menos, talvez, porque não queira, mais porque não sabe construir. Sabe demolir, e neste sentido cumpriu um papel histórico importante. Demoliu a velha esquerda, mas ressuscitou a velha política. Bolsonaro não tem experiência de resolução de problemas complexos, nem conhecimento do Brasil, um país continental, diverso e complicado, nem do mundo contemporâneo e dos seus desafios ambientais, demográficos, econômicos e sociais.
Schettini: Em Santa Catarina há essa percepção?
Vinicius: Aqui em Santa Catarina esse desencanto tende a ser ainda maior.
Schettini: Por quê?
Vinicius: Porque os valores familiares, históricos e étnicos dos catarinenses de capacidade de trabalho, esforço e meritocracia foram muito feridos pelo ciclo lulopetista e essa foi a razão do “chute no balde” que os catarinenses deram escolhendo Bolsonaro e Moisés em 2018. Mas chutes no balde servem para dizer um basta, mas não são suficientes para construir. Para isso, é preciso ter uma visão ampla e profunda, moderna, grandiosa e generosa de país, que este governo não tem. Infelizmente, muitos catarinenses também viraram reféns dessa “psicologia bolsonarista”. Os mais conscientes já estão se libertando, mas não é fácil. Há, em certos aspectos, uma espécie de síndrome de Estocolmo, em que a vítima se identifica e até simpatiza com seu raptor. Outros tantos projetaram no bolsonarismo uma importância pessoal e política maior do que na verdade têm no nível da sociedade a que pertencem – e daí vêm a arrogância e a “valentia”. Ou seja, são ativos nas redes, com xingações, ameaças e bravatas, mas sem qualquer estrutura política. São desejos e êxtases. Muitos dos novos “politizados” das redes não sabem o nome de dois ou três vereadores da sua própria cidade.
Schettini: Isso não é um grande problema?
Vinicius: É o mais sério dos problemas. Ainda não temos cultura de participação democrática suficiente para obrigar os nossos representantes a responder ao comando do sentimento majoritário difuso. Mesmo nos mais altos níveis da chamada elite brasileira existem lapsos graves. Ou seja, em muitos graus “terceirizou-se” a política e agora reclamamos do resultado. Veja este exemplo: quando Luiz Henrique enfrentou Renan Calheiros para a presidência do Senado, os catarinenses que desaprovam – e certamente ainda desaprovam hoje – a conduta de Calheiros se manifestaram em favor de Luiz Henrique? Pouquíssimos. Estes “lapsos” ajudam a explicar a identificação de alguns com a escatologia do atual presidente.
Schettini: Por isso mesmo não se desenharia a eleição de Lula e a volta do PT?
Vinicius: Infelizmente, se Lula for candidato, se elegeria contra Jair Bolsonaro, mas como já disse no começo da entrevista, isso não vai acontecer porque não será Bolsonaro que Lula encontrará no segundo turno. Bolsonaro se isolou, construiu um muro em volta dele, para não deixar seus apoiadores escaparem, mas uma boa parte já pulou o muro. Com esse isolamento do presidente, Lula ocupa provisoriamente uma parte do centro. Mas, a maior parte deste centro, tendo outra alternativa eleitoral real, rechaçará o lulopetismo.
Schettini: O senhor acredita numa candidatura de centro, ainda?
Vinicius: Sim, mais por ser alternativa do que por ser centro. E este quadro está evoluindo. Já saíram Huck, Moro e Mandetta, por falta de estatura para assumir esse papel. Ciro Gomes tem porte e inteligência, vai durar e tentar tirar do Lula a primazia do centro-esquerda. O PSDB virá com João Doria, provavelmente em aliança com o MDB, com muita estatura e os resultados do trabalho que realiza em São Paulo, uma grande referência para o país. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pode ir ao Senado, como forma de construir uma significativa liderança nacional de futuro. Mas são apenas conjecturas lógicas. O tempo dirá.
Schettini: Como secretário do Governo João Doria, como o senhor vê o cenário em São Paulo? A ruptura com Geraldo Alckmin não causará uma divisão prejudicial?
Vinicius: As desuniões do PSDB já custaram muito caro ao partido e ao país. O ex-governador Geraldo Alckmin é um homem extraordinário e tem condições de montar o jogo e dar as cartas. É um player muito importante no atual momento e pode ocupar o lugar de Fernando Henrique no pódio da alta política brasileira - que entrou numa etapa de contradições que vão de Huck até Lula. Já o nosso Dr. Geraldo tem o jogo na mão para ajudar a tirar Bolsonaro e Lula das primazias. Se concorrer ao Senado, apoiando João Doria a presidente e Rodrigo Garcia a governador, faz canastra, pega o morto e bate o jogo em favor do Brasil. Sim, porque isso o povo vai observar e levar em conta na hora de votar: quem está por si na política ou por trabalhar pelo Brasil.
Lummertz tornou-se homem da linha de frente do Governo Doria em SP. Na foto, ambos apertam as mãos no início do mandato, em 2019 (Foto: Governo de SP)
Schettini: É natural a sua aposta no governador João Doria, por ser seu secretário e amigo, mas quais são as condições objetivas?
Vinicius: O governador João Doria está construindo isso no dia a dia de 20 horas de trabalho, com uma grande equipe da qual tenho a honra de participar. Nos últimos três anos, São Paulo cresceu 50% a mais do que o Brasil, o que não acontecia desde 2006. Vamos crescer quase 8% este ano. Em obras e privatizações ultrapassamos o Governo Federal, que sabota o Estado de todas as formas. Mas isso não é novo para os catarinenses: o Governo Federal não deu nada a Santa Catarina, só pede e ainda atrapalha, como no caso dos R$ 200 milhões que o Estado está aportando na BR-470, mas o Ministério da Infraestrutura exige escolher onde vai colocar o dinheiro dos catarinenses. Mas, voltando a São Paulo, também nas áreas sociais, na educação, na produção e autonomia das vacinas, de forma geral os resultados do governador João Doria, quando revelados na trajetória das eleições do ano que vem, farão os brasileiros voltar a acreditar no Brasil. Como me disse o Bruno Covas durante as eleições no ano passado: vou ganhar porque tenho muito o que mostrar.
Schettini: E as eleições em Santa Catarina, serão afetadas por estes movimentos?
Vinicius: Sim. Obrigatoriamente, e isto reforçará a posição do PSDB no Estado.
Schettini: Poderia ter candidatura própria?
Vinicius: Deveria, para criar uma base sólida de discurso para a candidatura presidencial e fazer o partido crescer com as eleições de Senado, deputados estaduais e federais. Mas, é claro, será importante compor uma aliança, porém com lugar central na coligação.
Schettini: O senhor será candidato?
Vinicius: Poderia sim. O PSDB tem nomes fortes para a majoritária como o Clésio Salvaro, excelente prefeito, o Gelson Merisio, bom articulador político, a deputada federal Geovania de Sá, presidente do partido, mulher, jovem e aguerrida, e os novos, como o prefeito Clenilton Pereira, presidente da Fecam. Temos craques experientes como o ex-senador Paulo Bauer e o ex-governador Leonel Pavan. Como disse, meu nome está à disposição do partido. Tenho boas experiências, desde a construção do Sistema Sebrae, assim como ao lado de Luiz Henrique, Michel Temer e agora na linha de frente do Governo João Doria.
Schettini: Poderia ser candidato a governador?
Vinicius: Sim, se esta fosse a escolha do partido, dos nossos prefeitos, vices e vereadores. Mas não como projeto pessoal. Isto não funciona mais. É preciso ter um grande “porque ser”. De projetos pessoais e aventuras o povo catarinense, como o povo brasileiro, está mais do que cansado. Santa Catarina precisa voltar a se projetar no cenário nacional e internacional. Precisa tanto de novidade quanto de experiência.
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