Nos seis primeiros meses deste ano, 20 mulheres morreram em Santa Catarina vítimas de feminicídio. Os dados obtidos via Lei de Acesso à Informação na Secretaria de Estado da Segurança Pública mostram redução no número de mortes em comparação ao mesmo período de 2020. Foram 24 mortes nos seis primeiros meses e 57 ao todo no Estado.
Apesar do contexto difícil, o momento exige uma quebra de paradigma. Não são apenas as mulheres, as vítimas, que precisam de atenção. Hoje, cuidar do agressor não é só proteger a vítima em si, mas também a família dela, a família do agressor, o próprio agressor, e também a sociedade como um todo.
Com foco na transformação das relações de gênero e na ressignificação das masculinidades, surgiu em 2020, a partir de diálogos com a coordenadora de Projetos Especiais da Secretaria de Administração Prisional (SAP) do Estado, o projeto 'Ressignifica Maria: Atenção Psicossocial em grupos a homens autores de feminicídio, no sistema prisional'. A proposta é inovadora e investe na atenção à saúde mental dos homens participantes, em experiências grupais conduzidas por equipes multidisciplinares (psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros) que atuam nas unidades prisionais.
"Após relatos de experiências no sistema prisional, percebeu-se a necessidade de qualificar a atenção psicossocial a homens punidos por feminicídio. Constatando a ausência de ações voltadas a ressignificação das relações de gênero e a importância do cuidado em saúde e saúde mental articulados, mobilizaram-se, junto a SAP, o curso de Psicologia da Unochapecó e o Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Udesc. A partir destes contatos, iniciou, já de forma interinstitucional, o desenvolvimento do projeto", explica o coordenador do Ressignifica Maria, professor Murilo Cavagnoli, da Unochapecó.
PRIMEIRA ETAPAS
O projeto será desenvolvido em três unidades prisionais do Estado: Chapecó, Lages e Florianópolis. A primeira atividade inicia no dia 21 de julho, com encontros de formação online às equipes que atuam nestes locais. Em três módulos, serão abordados os temas ‘Saúde do homem no sistema prisional’, 'Gênero, Saúde e Violências' e 'Atenção psicossocial em grupos, grupos reflexivos e perspectiva esquizoanalítica'. Após, a formação segue com atividades presenciais no laboratório de Pesquisa e Experimentação em Processos Grupais do curso de Psicologia da Unochapecó. No mês de setembro, inicia a terceira etapa. Nessa fase, serão realizados 48 encontros (16 em cada unidade) com os autores de feminicídio, conduzidos pelas equipes de saúde do sistema prisional.
O professor completa que, a pesquisa permitirá o desenvolvimento de uma metodologia adequada ao trabalho interdisciplinar voltado aos homens que cometeram o crime de feminicídio. A partir disso e com a divulgação dos dados e resultados, a intenção é ampliar as ações propostas no projeto para as demais unidades do Sistema Prisional de Santa Catarina.
''A Unochapecó situa-se neste projeto como proponente, assumindo a coordenação de um trabalho de abrangência estadual. A relevância desta pesquisa-intervenção é inquestionável, pois aborda, de uma forma que busca a inovação e a produção de tecnologias leves de cuidado em saúde e saúde mental, uma das problemáticas sociais mais graves de nosso tempo: a violência de gênero", finaliza.
UNIÃO DE ESFORÇOS
Coordenado pela Unochapecó, por meio do curso de Psicologia, em parceria com a Secretaria de Administração Prisional de Santa Catarina, o projeto foi contemplado no edital de fomento do Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), lançado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e conta com também com a participação de pesquisadores e acadêmicos dos cursos de graduação e pós-graduação da área da saúde da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
Após a aprovação do projeto, foram incluídos na equipe do projeto, pesquisadores do Núcleo Margens da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e da Universidade Regional de Blumenau (FURB), ampliando o caráter interinstitucional da proposta e os recursos para seu desenvolvimento e qualificação. A intenção é realizar um seminário de socialização e avaliação de resultados junto às instituições proponentes, em março de 2022, além de desenvolver produções científicas.
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