A questão polêmica do voto impresso, ou não, é nítida cortina de fumaça para tirar o foco da inflação galopante, da vergonha de um Ministério de Saúde que ao invés de negociar direto com fabricantes de vacinas viu-se no intermeio de “reverendos” e outros “atravessadores” que botam em xeque, em tese, a lisura de procedimentos etc.
O receituário é velho e surrado, em outras épocas se proibiu a briga de galo e o uso de biquíni pela mesma razão, a saber, enquanto a população se desgasta na discussão das polêmicas fabricadas o foco a respeito da inflação, do desemprego e de outros problemas realmente sérios eram (e são novamente) desviados.
O intrigante disso tudo é que quem põe em dúvida a lisura das eleições por urnas eletrônicas venceu absolutamente todas as eleições que disputou por meio delas.
Mas a cereja do bolo do balão de ensaio da ignorância é sustentar que somente o voto impresso é auditável e a urna eletrônica não o seria. Fosse sério o argumento, compras online por cartão de crédito clonado não seriam auditáveis e anuláveis, e o são numa simplicidade que derrui o argumento falacioso que somente o papel permite ser auditado.
A questão de os votos nas urnas não fecharem com as expectativas dos candidatos reside no fato de o voto ser secreto, o que permite justamente o cidadão, querendo, falar que votou em um candidato, e no recôndito da urna secreta, votar em quem realmente queira.
Não haverá nunca um sistema cem por cento aditável enquanto o voto for secreto, e se o voto deixar de ser secreto, não haverá democracia, pois, as pessoas serão obrigadas a votarem conforme as pressões de emprego, amizade, família, etc.
Essa questão de o voto ser impresso ou não é pura papagaiada populista da mais sem vergonha, fosse sério isso não esperariam 25 anos (sim, desde 1996 se utilizam urnas eletrônicas) para levantar a questão justamente em véspera de uma eleição em que o governo vê derreter sua popularidade por conta da inflação, do desastre no combate ao coronavírus, no intermeio de denúncias de possível corrupção na compra de imunizantes, etc.
O governo atual tem conquistas, na infraestrutura sobretudo, mas carece de um projeto sério de combate à inflação, ao desemprego, às assimetrias sociais.
Assim, como quem não tem norte a apontar semeia o medo, a desconfiança, que são fatores que unem as bases, e nivelam o debate por baixo, campo propício para vitórias na massa dos ignorantes.
De outro lado, uma Rede Globo carente de verbas publicitárias exagera o combate ao governo federal, e uma Rede Record (cujos bispos compõe a base governista) e a Jovem Pan (que para evitar desconfianças deveria abrir suas contas para a população ver quanto que recebe quiçá de verbas da União) exagera na defesa do Palácio do Planalto de outro quadrante (já que estamos em tempo de terraplanistas...).
Sim, que seja impresso os votos se assim o aprovarem por Lei ou por regulamentação do TSE (acaso possível), mas longe de ser esse o problema da nação. No fundo, não é isso que desejam, desejam a polêmica que isso gera para acobertar problemas de inflação, desemprego e outros. Acaso passe o dito voto impresso, a polêmica de amanhã será outra de mesma estatura sem vergonha para se evitar falar de inflação, emprego, renda e saúde. É essa a cara da política (velha ou nova) nas terras que Cabral ao acaso encalhou...
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