Aclamado por 72% da população de Blumenau no segundo turno das eleições de 2020, o prefeito Mário Hildebrandt foi reeleito em meio desafios importantes para os rumos do município. Terceira maior cidade de Santa Catarina, a terra da Oktoberfest cancelou as últimas duas festas alemãs e, com muita cautela, se prepara para que no próximo ano haja um evento grandioso caso a pandemia esteja superada.
Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, o prefeito de Blumenau pelo Podemos avaliou seu mandato, falou de sua relação com o governador Carlos Moisés e apelou para que a Secretaria de Estado da Infraestrutura olhe para as rodovias Werner Duwe e Doutor Pedro Zimmermann que cortam a cidade.
Ainda, afirmou que não irá disputar as eleições de 2022, mas que irá trabalhar para fortalecer a representatividade política da região de Blumenau. Por fim, fez uma análise da gestão e disse que grandes parcerias com a inciativa privada estão sendo realizadas em seu mandato ao lado de Maria Regina. Confira:
Marcos Schettini: Qual a realidade da pandemia em Blumenau?
Mário Hildebrandt: Enfrentar o coronavírus está sendo um desafio para todos os gestores e desde o início da pandemia trabalhamos com um propósito: salvar vidas. Estruturamos nossa rede de atendimento, transformamos a Vila Germânica, casa da Oktoberfest, na Central de Atendimento aos Casos Suspeitos, investimos em leitos de enfermaria e UTI’s, contratamos quase 300 profissionais, testamos, isolamos e monitoramos os casos suspeitos. Os resultados de todo o nosso trabalho estão sendo colhidos e Blumenau se tornou referência para o Brasil no combate à pandemia e também no processo de vacinação. Tanto que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, veio à cidade para conhecer o modelo aplicado, que garante que Blumenau seja referência nacional, com a menor taxa de letalidade entre os municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes e a menor taxa de mortalidade de Santa Catarina entre os maiores municípios. Continuamos alertas e atentos aos casos diários, à situação das nossas UTI’s, às novas cepas que estão assustando o Brasil, mas estruturamos e descentralizamos nosso atendimento para que a população seja atendida da melhor forma possível.
Schettini: O Sr. decidiu não realizar a edição da Oktoberfest. O que isso implica?
Hildebrandt: Como disse anteriormente, desde o início da pandemia nossa maior preocupação foi salvar vidas. Lá no dia 26 de março do ano passado, assinei a portaria que criou uma comissão de saúde, formada por técnicos da área, que tem a responsabilidade de nos orientar quanto ao cenário, projeções e medidas restritivas para frear a contaminação da pandemia. Desde lá, o grupo foi importante na tomada de decisão em diferentes momentos, como em julho de 2020 quando tivemos que fechar o comércio e os serviços da cidade por uma semana para conter o aumento de casos e controlar a ocupação dos leitos de UTI e agora, na decisão final sobre o cancelamento de mais uma edição da nossa Oktoberfest. O grupo se reuniu e a maioria dos membros orientou pela não realização da festa, principalmente pela baixa quantidade de pessoas ainda vacinadas no Brasil, pelo cenário incerto da pandemia nos próximos meses e pela chegada na variante Delta, que já está fazendo vítimas no país e já chegou a Santa Catarina. Minha vontade, e de toda a gestão, era realizar a Oktoberfest. Pensamos em diversas alternativas e formatos para um evento que não gerasse aglomeração, mas nesse momento precisamos garantir a segurança das pessoas. Sabemos da grandeza da festa e o que ela representa para a cidade, pois são mais de R$ 240 milhões que giram na economia durante o período da festa. Asseguro que assim que tivermos outro cenário da pandemia e da vacinação no Brasil e no mundo, o setor de eventos voltará a ser forte e teremos uma grande Oktoberfest em outubro de 2022.
Schettini: As eleições colocam Blumenau em qual direção no ano que vem?
Hildebrandt: Quando assumi a prefeitura, em abril de 2018, tinha como meta trabalhar para unir os municípios do Vale Europeu e é nessa direção que também trabalharei nas eleições do próximo ano. A cidade de Blumenau vai estar junto com aqueles candidatos e partidos que apresentarem bons projetos para a cidade e para a região. Os candidatos serão lembrados de que o Vale tem o maior colégio eleitoral do Estado e movimentamos quase 1/3 do PIB catarinense, com 29,9% de toda a arrecadação. Nos últimos anos fomos a região que mais cresceu em Santa Catarina. Nas próximas eleições, trabalharei para que o Alto Vale do Itajaí, a Foz do Rio Itajaí e o nosso Vale Europeu tenham o reconhecimento que nos é devido.
Schettini: Qual sua relação com o governador Carlos Moisés?
Hildebrandt: Minha relação com o Carlos Moisés é a mesma que os prefeitos da região possuem com ele. Como costumo dizer, não tenho nada contra a pessoa ou profissional Carlos Moisés, mas enquanto prefeito tenho o dever de seguir cobrando do ocupante do cargo que apoie e busque resolver as necessidades da cidade e região. Temos que ter celeridade nos investimentos e uma comunicação mais clara e rotineira com o Governo de Santa Catarina. Não é novidade que já tentamos nos reunir diversas vezes com o governador, mas tivemos poucas oportunidades de tratar os anseios da população, que depositou nele a sua confiança na última eleição.
Schettini: É a sequela da sua indicação no governo interino de Daniela Reinehr?
Hildebrandt: Não acredito que haja sequelas. Quando soube da possibilidade de alguém de Blumenau assumir um cargo dentro do Governo do Estado, entendi como uma possibilidade de potencializar as demandas da cidade e região. Tenho a convicção que a região precisa ter representantes que defendam as demandas locais junto ao Estado. Ninguém conhece melhor a realidade de cada região do que quem vive nela. Aliás, a nossa região poderia ter mais representatividade na equipe de governo.
Schettini: O governador Moisés está prejudicando Blumenau?
Hildebrandt: Vou repetir o que já disse anteriormente, nossa cobrança não é com a pessoa Carlos Moisés e sim com o governador de Santa Catarina. O Estado está longe da região e isso não acontece apenas no atual governo. Há muito o que ser feito e precisamos da presença do governo, principalmente com obras de infraestrutura. Nossa SC-108 estava parada há mais de quatro anos. O governador pode contar conosco para todos os temas que forem importantes, como na questão dos repasses para a nossa BR-470, que defendi desde o início da discussão e agora, aparentemente, se resolveu com o anúncio de mais recursos numa união de esforços feitas pelos senadores, deputados e Governo do Estado. É o ideal? Não, uma vez que entendo que as obras são de responsabilidade do Governo Federal e o Governo do Estado teria outras demandas para atender com esse dinheiro. Mas quando falamos de inúmeros municípios (e Blumenau está nesta lista) que deixam de se desenvolver pela falta de estrutura viária da BR, quando citamos há anos as dezenas de vidas já perdidas ao longo do trecho, e olhamos para uma rodovia que se encontra em estado precário, nós precisamos dela concluída. E aí independe de onde os recursos vem. Se é necessário que o Estado auxilie, que assim seja.
Schettini: O que seu município precisa neste momento que o governo ignora?
Hildebrandt: Há várias demandas que necessitamos de intervenção do Estado, como por exemplo, celeridade nas obras da SC-108 que são de mais de 15 km, mas teve ordem de serviço assinada de apenas três quilômetros. A região Norte de Blumenau é a que mais cresce nos últimos anos, por conta de sua geografia e por estar fora de áreas de risco como as enchentes e os deslizamentos. Então a não conclusão da SC-108 só atrasa o desenvolvimento da região e, consequentemente, de toda a cidade. Além disso, precisamos de atenção à manutenção das rodovias estaduais que cruzam a cidade e os municípios da Região, apoio na Rodovia Werner Duwe, recursos para revitalizarmos a pista do Aeroporto Regional de Blumenau e a autorização para municipalizar, com apoio financeiro, parte da atual Rodovia Doutor Pedro Zimmermann.
Schettini: Pelo fato de Blumenau ser uma cidade forte, não teria que estar na cabeça de chapa em 2022?
Hildebrandt: Blumenau sempre será protagonista em eleições, seja na cabeça de chapa, com bons candidatos da cidade ou apoiando bons nomes para governador. Acredito que uma eleição se faz com harmonia, convergência de ideias, agregando bons projetos, mas, sobretudo, buscando bons gestores, que unam a política e o trabalho sério em prol dos catarinenses.
Schettini: O senhor vai disputar a eleição no ano que vem?
Hildebrandt: Eu tenho um compromisso com a cidade de Blumenau e seus cidadãos. E ele se encerra em dezembro de 2024, quando meu mandato de prefeito termina. Como já confirmei em outras entrevistas que já dei, vou honrar meus quatro anos de mandato. Se Deus seguir me dando saúde e disposição, seguirei trabalhando pela cidade e pela região do Vale, pois sei que ainda tenho muito que fazer. O que não significa que estarei longe do processo eleitoral de 2022. Muito pelo contrário! Entendo e trabalharei para que nossa região eleja representantes que conheçam nossas necessidades, que vivam nossa realidade e que busquem as melhorias e tragam os recursos que precisamos. O Vale precisa voltar a ter protagonismo político no Estado de Santa Catarina, assim como já tem em setores como o Turismo e a Economia.
Schettini: Qual sua avaliação sobre o presidente Jair Bolsonaro? Ele está ameaçando a democracia?
Hildebrandt: Não nego a ninguém que votei no presidente Bolsonaro e acredito no seu projeto de governo. Estar à frente de um país da grandeza do Brasil, em meio a uma pandemia, é de extrema dificuldade. Além disso, qualquer gestor público está sujeito a erros e acertos, ninguém está blindado a isso. Por isso, como cidadão brasileiro, administrador público, prefeito da terceira maior cidade catarinense, preciso confiar no trabalho do presidente Bolsonaro, acreditando na aceleração da campanha nacional de imunização e na retomada econômica após essa pandemia.
Schettini: Como Blumenau está se reerguendo neste cenário de pandemia?
Hildebrandt: Estou na vida pública há mais de 15 anos e sempre trabalhei cuidando das pessoas. Entendo que a gestão pública deve ser feita dessa maneira e é assim que busco trabalhar sempre. Desde o começo da pandemia, nossa maior preocupação foi cuidar das vidas, cuidar das pessoas. Não medimos esforços para isso, atuando com planejamento, apoiados pela ciência e contando sempre com suporte da equipe técnica dos profissionais da área da saúde. Mas a economia nunca esteve fora das nossas pautas, mesmo nos momentos mais difíceis desse ano que passamos.
Acredito que o setor privado deve ajudar no crescimento e desenvolvimento de uma cidade e nosso pacote de concessões é a prova disso. O município deve cuidar de um todo, com olhos mais fixos na Saúde, Educação e Assistência Social. Os demais setores devem ser trabalhados em conjunto com a iniciativa privada e é isso que venho construindo em meu governo com a Maria Regina e nossa equipe de gestão. A pandemia centralizou nossos recursos no cuidado com a vida e a saúde, mas paralelamente trabalhamos com incentivo aos micro e pequenos empreendedores com a criação, ainda em 2020, do Programa Juro Zero, onde o município subsidia os juros dos financiamentos. Nesse ano uma nova etapa do Programa já foi lançada e auxiliará, novamente, quem precisa.
Nosso pacote de concessões segue em andamento e já assinamos quatro contratos de áreas e serviços que serão concedidos à iniciativa privada. A expectativa é que os projetos gerem cerca de R$ 250 milhões em ganhos para o município nos próximos anos. Apesar da não realização da Oktoberfest e dos desafios da pandemia, nunca tiramos os olhos da economia. Incentivando a abertura de novas empresas e concedendo créditos para empresas. Temos nesse momento mais de 100 obras de infraestrutura em execução e entendo que melhorar a mobilidade e as condições viárias de uma cidade também é pensar na sua economia. É dar melhores condições aos que aqui investem e trabalham diariamente. É diminuir o tempo que permanecem no trânsito e aumentar seu convívio familiar e, consequentemente, sua qualidade de vida. Somos, atualmente, a 2ª Cidade de SC e a 16ª cidade do país com melhor desempenho na geração de empregos. São quase 10 mil novas vagas de emprego gerada apenas em 2021. Em Blumenau, uma empresa pode ser aberta em cerca de 90 minutos, já emitindo sua própria Nota Fiscal. E isso é fruto dessa junção de esforços, que entende a importância da gestão responsável, mas trabalha prioritariamente pensando nas pessoas. Acredito que uma cidade que não trabalha cuidando e tendo sua população como prioridade, não consegue crescer e se desenvolver e em Blumenau nós acreditamos que cuidar das pessoas é construir o futuro.
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