Engenheiro agrônomo, aliado do agronegócio e ex-deputado federal pelo MDB, Valdir Colatto é reconhecido pela luta em favor do sistema cooperativista e pelos inúmeros discursos para promover as ações que possam desenvolver ainda mais a agricultura brasileira.
Vivendo sequelas em decorrência do coronavírus, Colatto concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e fez uma enfática defesa do já enterrado voto impresso auditável e do presidente Jair Bolsonaro, mesmo após cinco meses de seu desembarque do governo, ao pedir exoneração do cargo de diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB).
Embasado em números, comentou sobre o marco temporal da demarcação de terras indígenas, em discussão no STF, apontando argumentos que embasam seu posicionamento favorável à tese de que a demarcação de uma terra indígena só pode acontecer se for comprovado que os povos estavam sobre o espaço requerido antes de 5 de outubro de 1988.
Ao falar sobre o MDB, apresentou inclinação à candidatura de Dário Berger ao Governo do Estado e demonstrou vontade de disputar as eleições de 2022. Também, disparou contra o presidente estadual da sigla, afirmando que Celso Maldaner utiliza a estrutura do partido para promoção pessoal. Confira:
Marcos Schettini: O que aconteceu com sua saúde? Consequência da Covid-19?
Valdir Colatto: Como a maioria, apesar dos cuidados, fui infectado com esse misterioso vírus chinês Covid-19. Muitos ficaram com alguma sequela, eu com problema renal. Estou me tratando e buscando a solução médica o mais rápido possível.
Schettini: Com sua saúde debilitada, não seria correto ficar com a família e abandonar a vida pública?
Colatto: Estou bem e agora avaliando o quadro de saúde, recebo muitos apelos para voltar a política. Hoje, sou primeiro suplente do MDB e o décimo segundo deputado federal mais votado em SC em 2018. Temos quatro deputados federais eleitos com menos votos do que eu, tudo por uma legislação eleitoral manipulada por interesses dos legisladores. Penso que ainda posso ajudar o meu país pela experiência e conhecimento que adquiri nestes 20 anos de caminhada política. Você conhece algum político que faz o que eu fazia, de enfrentar os grandes temas estruturantes do país com independência e sem medo? Só para citar alguns temas que trabalhei muito, na dúvida perguntar aos prefeitos sobre as obras e infraestrutura, aos agricultores, cooperativismo, Apaes, transporte de cargas, meio ambiente, conflitos fundiários, indígenas, lei das parcerias agropecuárias, controle do javali, horário de verão, hospitais e municípios na área de saúde.
Schettini: O senhor não olha o presidente Jair Bolsonaro fora do esquadro? Muito louco?
Colatto: Convivi com Jair Bolsonaro 20 anos na Câmara Federal, posso dizer que conheci todos os políticos do Brasil neste período, nenhum com a coragem, determinação e coerência de comportamento e defesa dos princípios que sempre acreditou.
Do seu jeito, se elegeu presidente do Brasil e é o único que tem coragem e independência para enfrentar o sistema político corrupto instalado há mais de 30 anos no Brasil e defender a democracia e a liberdade que tanto queremos alcançar.
A pergunta é: se ele não fosse assim, teria sido eleito presidente do Brasil? Óbvio que não.
Posso afirmar que é o mesmo Bolsonaro que conheci há 20 anos, com sua maneira coerente, às vezes acima do tom na comunicação, mas tivemos tantos presidentes que se comportavam bem diplomaticamente e olha o que aconteceu com o país.
Aprendi lá no Congresso Nacional que fácil é aceitar as benesses do poder, mas muito difícil é não participar do sistema das facilidades e se diferenciar do político que tem preço daquele que tem valor, segui este caminho em todos os meus mandatos.
Schettini: O senhor foi eleito várias vezes pela urna eletrônica. É seguro ou mudou de opinião?
Colatto: No mundo eletrônico nada é seguro ou sigiloso, tenho um pé atrás com este mundo tecnológico, porque ninguém está seguro do sigilo em qualquer operação. Se vou ao supermercado e recebo a nota da minha compra, se faço uma operação bancária e tenho o recibo, porque não posso conferir meu voto impresso auditável? Sou pela maior transparência possível. Já dizia o ditador comunista Josef Stalin: “Quem vota não vale nada, o que vale é quem conta o voto.”
Schettini: O sistema cooperativista tem observado seu nome a deputado federal. Eles já não deixaram muitos no meio na estrada?
Colatto: O cooperativismo é uma filosofia de vida, se bem administrado resolve os problemas sociais e econômicos dos agricultores e outros ramos de atividades econômicas. Ajudei muito o cooperativismo brasileiro, fui superintendente da OCB, participei com o grande presidente Dejandir Dalpasquale na construção da Casa do Cooperativismo em Brasília. Implantamos o Sescoop em todos os Estados brasileiros, fui o negociador do Recoop e coordenador do ramo agropecuário da Frente Parlamentar do Cooperativismo na Câmara Federal. Os associados, direção e colaboradores do cooperativismo catarinense, que sabem do meu trabalho dentro do possível dentro dos princípios e legislação, me apoiaram. A decisão de recomendar vários candidatos a deputados federal nas eleições de 2018 pulverizou os votos e acabou dificultando a nossa eleição e de outros candidatos apoiados pelo sistema.
Schettini: Hugo Biehl e Odacir Zonta são dois exemplos de abandono. O senhor também viveu promessas não cumpridas pelo sistema. Por quê?
Colatto: Os deputados Odacir Zonta e Hugo Biehl foram competentes políticos e grandes defensores do cooperativismo e do agro. O Brasil perdeu muito com suas saídas da política.
Sempre estive próximo e apoiado pela direção de muitas cooperativas, talvez faltou informações aos associados e colaboradores da importância de nosso trabalho na Câmara dos Deputados em defesa do sistema cooperativista catarinense e brasileiro.
Schettini: O que é o chamado Marco Temporal que o governo quer aprovar para tirar a terra dos índios?
Colatto: O art. 231 da Constituição Federal determina: “São direitos originários dos indígenas as terras que ocupam em 05 de outubro de 1988”. Portando, os legisladores da constituinte aprovaram que, as terras Indígenas eram as que ocupavam, quando? No dia da aprovação da Constituição, isto é o marco temporal, do contrário, voltaríamos ao ano 1.500, no descobrimento, e o Brasil seria 100% indígena e nós, não indígenas, precisaríamos buscar outro país para morar.
Terras indígenas em números
Terras indígenas no Brasil hoje: 621 áreas ou 14,1% total de 119,8 milhões de ha.
Áreas reivindicadas: 487 áreas, mais 120 em estudo ou mais 13,3%, totalizando 117,12 milhões de ha.
Com as áreas previstas sem o marco temporal, as novas terras indígenas poderão alcançar 27,8% do território ou 236,93 milhões de ha do território brasileiro, totalizando 1.228 áreas. A título de comparação, SC possui 9,5733 milhões de há, 1,3% do país. As áreas indígenas demarcadas no Brasil equivalem a 19,4% do território europeu e as áreas equivalentes às terras indígenas que poderão ser demarcadas no Brasil caso, o marco temporal seja derrubado pelo STF, será de 38,4% do território europeu.
Os impactos econômicos e sociais estimados na demarcação de novas terras indígenas, caso o STF derrube o marco temporal serão:
- Perdas de 1,5 milhões de empregos;
- Diminuição da produção de R$ 364,59 bilhões;
- Queda nas exportações de US$ 42,73 bilhões de produtos não exportados;
- Grande aumento do preço dos alimentos;
Parâmetros de terras indígenas e sua população:
- Número de ha destinados a terras indígenas hoje: 119,8 milhões de há;
- Número de indígenas: população total são 896 mil, sendo 502 mil vivem em TIs e 315 mil fora das TIs, ou seja, equivale, 953 ha por família indígena. Sem o marco temporal serão 1.877 ha por família indígena. A média dos estabelecimentos rurais no Brasil é de 64 ha.
A média comparativa internacional das terras indígenas em ha, por índio:
- Bolívia: 4 ha;
- Estados Unidos: 9 ha;
- África do Sul: 17 ha;
- Colômbia: 28 ha;
- Canadá: 24 há, por índio.
Os números mostram que os indígenas são os maiores latifundiários do Brasil e não precisam de mais terra, mas sim de cidadania e integração na sociedade, preservando sua cultura.
Em SC, os impactos econômicos e sociais se darão nos municípios de Abelardo Luz, Ipuaçu, Cunha Porã, Saudades, Arvoredo, Chapecó, Seara, Palhoça, Ibirama e outros quatro municípios limítrofes a Araquari e Ibirama. Todas ocupadas por pequenos agricultores com escrituras públicas de até 100 anos, também avançando em perímetros urbanos densamente povoados.
Schettini: O que se chama de agronegócio não é um ataque irresponsável contra os povos indígenas, a floresta e o meio ambiente?
Colatto: Nenhum país dedica mais território à proteção da mata nativa. O Brasil ocupa 6,3% das terras continentais do planeta e suas áreas protegidas representam 12,3% das existentes. É o quinto em extensão e o primeiro em área protegida, desses países 11% são protegidas, no Brasil 30,3%. Quem ajuda o Brasil nisso? Ninguém. Ao contrário, somos alvo de críticas mediáticas nacionais e internacionais. Com 66,3% de seu território com vegetação nativa tem autoridade para tratar deste tema ante as críticas de campeão mundial do desmatamento. Ninguém preserva mais que os agricultores brasileiros, são 26,7%, ou seja, 226,6 mi de ha de suas propriedades estão dedicadas a preservação de florestas nativas, planta apenas 8% do território nacional e usa 22% para a pecuária.
Schettini: O MDB vive uma polêmica sobre as chamadas prévias. O que está acontecendo?
Colatto: Embora uma decisão importante e democrática para valorizar os filiados do partido, exige uma logística muito grande para tomar uma decisão deste nível. Os estatutos do MDB e a legislação eleitoral determinam a escolha os seus candidatos representantes, através de convenção estadual dos seus delegados e lideranças, dentro do calendário das eleições.
Creio que as prévias, em discussão, estão servindo mais com o propósito de alavancar a campanha do presidente do MDB estadual, Celso Maldaner, usando a estrutura do partido e o fundo partidário para promoção pessoal buscando se credenciar junto às bases do partido para uma eventual candidatura majoritária.
Schettini: Quem é seu candidato a governador dentro do MDB?
Colatto: Por hora, não temos candidaturas oficializadas, somente intenções de três candidatos a candidatos, destes creio que o senador Dário Berger tem o perfil, a experiência e o currículo que o credencia para ser o futuro governador de Santa Catarina.
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