Santa Catarina enfrenta uma estiagem histórica causada pelo baixo volume de chuvas especialmente nas regiões do Extremo Oeste, Oeste e Meio-Oeste. Dados da Epagri/Ciram mostram que em dezembro, janeiro e fevereiro as chuvas ficaram abaixo da média nessas regiões. A média atual de precipitações varia entre 30 a 40mm, sendo que o esperado seria em torno de 150mm.
O hidrólogo da Epagri/Ciram, Guilherme Xavier de Miranda Junior, explica que desde 2019 o estado sofre com a seca. No ano passado a situação amenizou um pouco, apesar das chuvas ainda terem ocorrido abaixo do esperado. Para este ano, a previsão é de pouco volume de chuva para os próximos três meses.
Clóvis Roberto Levien Correa, meteorologista da Epagri/Ciram, informa que, embora ainda não existam no estado estudos que comprovem essa hipótese, é provável que as situações das recorrentes estiagens estejam relacionadas com as mudanças climáticas. As queimadas na Floresta Amazônica também se refletem no clima.
“As regiões do Grande Oeste costumam receber umidade vinda da região amazônica, transportada pelos chamados rios voadores. É essa umidade que vai causar chuvas, no entanto, nos últimos anos, os rios voadores ficaram estacionados no Sudeste do país, não alcançando a região Sul”, pontuou Correa.
Preocupado com a situação recorrente e que assola principalmente a região do Grande Oeste, o Governo do Estado tem atuado em diversas frentes para minimizar os impactos.
INVESTIMENTOS EM AGRICULTURA
Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Secom
Na área da Agricultura, são R$150 milhões anunciados neste ano para o combate à estiagem no meio rural, R$ 50 milhões a mais que no ano anterior.
O Programa Reconstrói SC é uma das medidas e visa atender cinco mil agricultores. Com ele, os produtores catarinenses terão acesso a financiamentos de até R$ 10 mil, sem juros e com cinco anos para pagar. Caso o pagamento seja feito em dia, há um desconto de 50%. Os recursos totais de R$ 50 milhões disponibilizados pelo Governo do Estado podem ser acessados por produtores atingidos por qualquer evento extremo ou condição climática adversa, neste caso, a estiagem.
Para o Programa SC Mais Solo e Água são R$ 100 milhões em investimentos. Com o Programa, na linha Água para Todos, os produtores terão acesso a até R$ 100 mil, sem juros e com cinco anos de prazo para pagar. Podem ser feitos investimentos em captação, armazenagem, tratamento e distribuição de água na propriedade rural. Os beneficiários adimplentes terão uma subvenção de 50% no valor das parcelas, ou seja, o Governo do Estado pagará metade do financiamento.
As famílias em situação de vulnerabilidade social e de renda terão um apoio ainda maior. O limite será de R$ 20 mil, sem juros e com cinco anos de prazo, e o bônus chega a 75% em caso de pagamento das parcelas em dia. Na prática, se o produtor acessar o valor máximo do financiamento (R$ 20 mil), ele irá pagar apenas R$ 5 mil, sendo o restante garantido pela Secretaria da Agricultura.
Os produtores rurais contam com apoio, também, para isolamento e recuperação de mata ciliar, proteção e recuperação de nascentes, terraceamento e cobertura do solo. Na linha Cultivando Água e Protegendo o Solo, estão disponíveis financiamentos de até R$ 30 mil, sem juros e com cinco anos para pagar. Os beneficiários adimplentes receberão subvenção de 50% no valor das parcelas.
Foto: Antonio Carlos Mafalda/Especial/Secom
REFORÇO DOS SISTEMAS DE ABASTECIMENTO
Chapecó
Chapecó é uma das cidades com mananciais mais castigados no Estado. Para atender a uma população aproximada de 220 mil pessoas, o Sistema de Abastecimento de Chapecó exige captação, tratamento e produção de, em média, 50 milhões de litros de água por dia. Mas com a redução drástica do principal manancial da cidade, o Lajeado São José, essa produção está reduzida a 65%, exigindo manobras operacionais para fornecimento de água a todas as regiões.
“Com os melhorias e investimentos conseguimos prolongar o início do revezamento na cidade por vários meses, mas desde o final de janeiro foi necessário adotar essa medida. Hoje a maior parte da água que atende a cidade é captada no Rio Tigre, na Barragem de Guatambu, a 15 quilômetros de Chapecó. A captação de poços profundos colabora com o abastecimento, e agora vamos também captar água no Rio Uruguai”, explica o superintendente da Casan na Região Oeste, Daniel Scharf.
Desde 2020, já sob o impacto da falta de chuvas, a Companhia executa obras e melhorias, com investimento aproximado de R$ 21 milhões. Uma das ações foi a ampliação na captação no Rio Tigre, com bombas submersas, flutuante e geradores.
O Lajeado São José foi submetido a uma limpeza mecanizada do lodo sedimentado, que permitiu a reabertura do canal de entrada e aumentou a capacidade de armazenamento. Porém, em 2021 a falta de chuvas continuou, com déficit que cresceu para 523 milímetros, e intensificou o cenário de seca.
Para recuperar a capacidade de reserva no Lajeado, uma nova limpeza já está licitada e será executada pela Casan nos próximos meses, com previsão de retirada de 400 mil metros cúbicos de material. O objetivo é dar sequência ao trabalho iniciado em 2020 e aumentar a capacidade de reserva e captação de água.
A Companhia também ampliou a captação de água para o sistema de abastecimento com a perfuração de poços. Porém entre os três perfurados, o do Bairro Boa Vista não apresentou vazão para colaborar com o abastecimento de água da cidade.
A falta de chuvas tão prolongada prejudica o lençol freático, fazendo com que ocorram situações como essa, em que a perfuração de um poço não a fornece a água esperada. Os poços perfurados no Bairro Esplanada e na Efapi estão em plena em operação.
Planejamento Hídrico
Chapecó está contemplada nos investimentos previstos no Planejamento Hídrico do Governo do Estado e Casan, com aporte de R$ 1,7 bilhão para infraestrutura de abastecimento em Santa Catarina.
A maior cidade do Oeste será beneficiada com a maior obra de abastecimento, o Projeto Chapecozinho. A meta da Casan é colocar o sistema em operação em 2024. Aproximadamente 70% da adutora de água bruta, e 12% de uma macroadutora de 57 quilômetros, de água tratada, estão executados.
Está também concluída a concretagem da base do reservatório de 6 mil metros cúbicos, localizado em Xanxerê, e as paredes vão começar a subir. Em outra frente de trabalho, equipes executam a montagem de armaduras e formas da base do reservatório que terá capacidade de 4 mil metros cúbicos e ficará ao lado da Estação de Tratamento de Água do Sistema Chapecozinho.
Ao todo, o projeto prevê a construção dessa grande ETA com capacidade de produção de 1,2 mil litros por segundo, e quatro reservatórios de grande porte, proporcionando uma capacidade total de reserva de 17,5 milhões de litros e maior segurança hídrica para Xanxerê, Xaxim, Cordilheira Alta e Chapecó.
Em Caibi e Palmitos, para garantir o abastecimento, foi realizada outra captação e também a dragagem no Rio São Domingos. Além disso, a chuva ocorrida na semana passada ajudou a aumentar a captação e a recuperar o Sistema Integrado de Abastecimento. Desta forma, no momento, os dois municípios suspenderam as manobras operacionais, mas a Casan ressalta a importância da comunidade manter o uso econômico da água.
Cunha Porã
Com a situação crítica do principal manancial, o Rio São Domingos , o abastecimento está sendo feito com manobras operacionais, com alternância entre dois setores da cidade. Também está sendo feito o transporte de água, com caminhões-pipa, nas áreas onde há necessidade.
Concórdia
Em função da escassez de chuvas que prejudica os mananciais de Concórdia, foram retomadas, nesta semana, as manobras operacionais. A distribuição está organizada em duas macrorregiões do Sistema de Abastecimento. Regiões mais altas estão sendo abastecidas com caminhões-pipa.
Iporã do Oeste
Foi implantada uma nova rede de 4 quilômetros para buscar água bruta no Rio Macaco. O investimento foi necessário porque a principal captação no Rio Pirapó ficou prejudicada com a estiagem. Com a nova rede, a capacidade de vazão na captação no Rio Macaco chega a 30 metros cúbicos por hora, o que é suficiente para manter o abastecimento pleno na cidade.
Maravilha
A Casan executou uma captação emergencial, uma nova adutora e instalou um nova motobomba no poço reserva, recuperando o sistema que passou por situação crítica no final do ano passado. Com o novo equipamento, que é de alta performance, Maravilha terá, quando necessário, complemento de 30 litros de água por segundo. Com as melhorias o sistema está recuperado e não necessita de revezamento.
São Miguel do Oeste
A Casan instalou um novo sistema de bombeamento na adutora do Rio das Flores, aumentando a capacidade de captação de água. A ampliação na produtividade do Rio das Flores supre os baixos níveis de aproveitamento no Rio Cambuim, principal manancial de abastecimento da cidade. A Companhia também executou limpeza preventiva na barragem do Rio Cambuim e perfurou poços, que estão sendo finalizados. Caminhões-pipa de água bruta ainda são necessários, assim como algumas manobras operacionais para manter o fornecimento de água em toda a cidade.
Seara
Um poço profundo foi instalado, está em operação e a Companhia transporta água bruta do rio Uva para a barragem de captação de água da Casan no Rio Caçador. Estão previstas obras para aumento da barragem de captação nesse manancial. Manobras operacionais chegaram a ser necessárias, mas com as melhorias no sistema e alguns momentos de chuvas foram suspensas.
União do Oeste
O sistema local ainda enfrenta dificuldades no abastecimento, e está funcionando com manobras operacionais, recebendo água vinda do sistema de Pinhalzinho por caminhões-pipa. Um poço com vazão muito produtiva para o município foi perfurado e estão sendo providenciadas as bombas para início de operação.
Xaxim
O abastecimento recebeu reforço de uma captação emergencial em açude particular e perfuração de dois poços, que estão em operação. As melhorias e alguma chuva na região amenizaram a situação, porém com a continuidade da estiagem serão novamente realizadas manobras para revezamento e fornecimento de água a toda a cidade.
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