Morre Raul Varassin, um dos principais jornalistas brasileiros das últimas décadas

Por Luís Bogo

Fim de semana colorido pelo luto. No sábado completaram-se 11 anos da morte de meu pai, o professor Benito Bogo. No domingo pela manhã recebo a notícia de que meu amigo Varassin não resistiu aos maus tratos da diabetes e da Covid.

Quanto ao currículo de Varassin, reproduzo o texto de Simão Zygband, do site “Construir Resistência”.

Varassin, o Vareta como os mais próximos o tratavam carinhosamente, foi um dos criadores do Jornal Nacional, dirigiu o departamento de Jornalismo da TV Globo em quatro estados brasileiros (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Paraná) e teve a honra de ser contratado por Vladimir Herzog na TV Cultura de São Paulo. Foi ainda chefe de reportagem no SBT, TV Manchete e TV Record. Trabalhou no Palácio Iguaçu nos tempos do governador Álvaro Dias e foi um dos chefes da campanha vitoriosa de Roberto Requião no Paraná, em 1990.

Agora, currículo à parte, dedico-me a falar do humano Vareta, que muito contribuiu para a formação de dezenas de jornalistas que até hoje atuam em diversos veículos deste país.

Era extremamente generoso quando se tratava de ensinar e estimular talentos: colocava estagiários da redação para saírem em reportagens quando faltavam repórteres, e office-boys para a rádio-escuta, quando faltava algum. Orientava adequadamente a todos, mas não titubeava em colocar jovens repórteres – os “focas” – de cara para as trincheiras da verdade. Fazia o “peão montar no pelo”.

Tinha profundo respeito pela democracia, e sua formação em História lhe dava condições de nos ministrar aulas sobre fatos passados que ajudavam ao entendimento do presente. Na TV Cultura sobreviveu ao sombrio governo Maluf, que inflou a redação e a produção da emissora de capachos do governador que, na época, iniciava seu sonho de tornar-se Presidente da República.

Porém, sobre o jornalismo sério e competente que Raul Antônio Lacerda Varassin praticou até o fim da vida, outros falarão melhor do que eu.

Antes de contar uma passagem folclórica do meu convívio com esta figura extraordinária que agora nos abandona, também preciso dizer do nosso laço um tanto “comunista”, grosso modo, claro. Quando chegava o fim do mês e estávamos muito “duros”, um olhava para o outro e perguntava: - quanto você tem aí? – 10 – eu tenho 20, vamos para o bar trocar o dinheiro e ficam 15 para cada um!

E, agora, o folclore:

Era sábado e estávamos de plantão. Vareta na chefia de reportagem e eu no laboratório, revelando os 16 mm das reportagens. Quando terminei de enviar o último para a edição, toca o telefone e o Vareta me convoca: Bogo, me encontra no Aníbal pra gente tomar uma cerveja e bater papo.

Concordei e fui pegar minha moto no estacionamento. O carro dele havia ficado fora do pátio da TV para o “Pudim” (não é preciso explicar a razão do apelido) lavar.

Quando chego ao boteco do Aníbal, Vareta segurava Pudim pelo braço e despejava uma garrafa de cerveja sobre a cabeça do infeliz, vociferando: – você quer cerveja? Toma cerveja, então!” – Imediatamente, perguntei: – Cê tá ficando louco, Vareta?”. E ele me respondeu: – Vai ver o que esse §¢£§§§ fez no meu carro!

Embora a reação do Sr. Raul Antônio Varassin talvez tenha sido exagerada, ela tinha alguma justificativa. Imaginando que ele só fosse sair da TV à noite, “Pudim” lavou apenas o lado esquerdo daquele Chevette bege, o lado por onde ele entraria. Parecia que “Pudim” havia passado uma régua para dividir as laterais do carrinho.