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NASCIMENTO FELIZ

Parto domiciliar: a chegada humanizada do Théo

Por: Janquieli Ceruti
21/10/2016 10:56 - Atualizado em 21/10/2016 13:38
Théo cresce feliz num lar preparado para ele antes mesmo de sua chegada ser anunciada (Foto: Janquieli Ceruti/LÊ) Théo cresce feliz num lar preparado para ele antes mesmo de sua chegada ser anunciada (Foto: Janquieli Ceruti/LÊ)

“A cesárea não possibilita interação com o bebê. A mãe não fica responsável pelo nascimento; a incumbência de tirar o bebê dela é do médico. A diferença é que, em casa, tive a força suficiente para colocar meu filho Théo no mundo. Ele estava quentinho, com cheirinho de bebezinho. No hospital, quando o Murilo chegou, nós perdemos esse momento. É algo frio, que não deixa a gente se emocionar. Estava sendo costurada quando me mostraram o bebê enrolado, só com a cabecinha de fora”. O relato é de Jéssica Duz Machado, de 25 anos que, seis anos depois do nascimento do primogênito, deu a luz ao caçula na sala de casa.

O parto domiciliar humanizado, que aconteceu em 21 de maio deste ano em Xaxim, foi a mais pura expressão da natureza. Sem qualquer imposição, angústia ou violência, Théo chegou à nova realidade, nas mãos aconchegantes dos pais, que muito o aguardavam, mas souberam respeitar o tempo. Numa sexta-feira de muito frio, os olhos arregalados do bebê, que pesava pouco mais de quatro quilos e media 53 centímetros, encontraram com os dos adoráveis papais, depois de 40 semanas de gestação.

Jéssica e o esposo Davi Machado, de 33 anos, que moram no bairro Primavera, não estavam sozinhos quando o Théo chegou. Há seis anos, Murilo completava a alegria da casa, que ficou em festa novamente quando o segundo bebê foi anunciado. Na piscina com água quentinha, onde a fragilidade de Théo contrastou com a valentia de Jéssica, Murilo acompanhou cada suspiro da mãe à espera do irmãozinho. “Alguns familiares disseram que eu poderia deixar o Murilo na casa deles no dia que o Théo fosse nascer, mas fiz questão que ele estivesse. Tanto que ele pesquisou e assistiu comigo os vídeos de nascimentos humanizados em casa. Nunca escondi dele como um bebê nascia”.

O pressentimento de que Théo chegaria naquela sexta-feira de maio fez com que Jéssica preferisse que o filho faltasse à escola e acompanhasse a doce espera. “Se fosse rápido, eu queria que ele já estivesse aqui. A família é dele. O irmão é dele”. Quando imaginou a lembrança que Murilo teria do nascimento do irmão, Jéssica não chegou a pensar que seria tão especial. “Dias depois da chegada do Théo, perguntei ao Murilo sobre o dia do parto e ele disse que gostou. Fiz uma nova pergunta. Desta vez, indaguei sobre o que ele havia gostado mais. Ele me olhou e disse uma coisa que faz chorar até hoje. Com toda a inocência de uma criança, ele disse: - Eu mais gostei foi do sorriso que você deu quando o Théo nasceu. Esta resposta fez tudo valer à pena. Ele poderia ter dito qualquer coisa: a água, a piscina. Isso me fez ver o quão importante foi tudo o que eu e o Davi planejamos. Por mais que ele cresça, sei que irá lembrar-se de alguma forma deste momento”, destaca Jéssica.

DECISÃO EM FAMÍLIA

Aos 19 anos, quando Murilo nasceu, Jéssica ainda não conhecia o parto domiciliar humanizado. A falta de conhecimento fez com que ela optasse pela cesariana ao ser informada pelo médico de que o filho estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço. “Hoje sei que isto não é impedimento. Minha cesárea não foi ruim, mas, num comparativo, teria outro parto em casa ao invés do hospital”.

Jéssica e Davi, ambos enfermeiros, decidiram pelo parto ainda antes gestação do Théo. “Quando cursei Enfermagem aprendi como funcionava e decidi que meu próximo bebê nasceria assim. No ano passado fiz um curso de doulas, em Chapecó, e a vontade foi aumentando. Quando descobri a gravidez, já tinha certeza de que ele nasceria em casa. O Davi concordou e foi, sem dúvida, um sonho realizado para todos nós”.

PLANEJAMENTO

As seis aulas com as doulas (acompanhantes profissionais de parto) serviram para ampliar os conhecimentos de Jéssica e tranquiliza-la ainda mais para a chegada de Théo. Nos meses de gestação, a experiente mamãe comprou tudo o que era necessário para receber Théo – além do enxoval, a piscina e o lençol térmico, que seriam imprescindíveis naquele dia especial. “Não precisava ser na água, mas me senti à vontade assim. Comprei todos os itens e, com as enfermeiras obstétricas já contratadas, que também são doulas, deixei que as semanas se passassem”, expôs Jéssica.

Era por volta das 16h do dia 20 de maio deste ano quando Jéssica sentiu as primeiras dores. Às 18h, Davi chegou do trabalho e, como se somente faltasse isso, Théo anunciou que chegaria em algumas horas. As doulas foram avisadas através de mensagens no celular – num grupo de WhatsApp especialmente criado para conversar sobre a gestação do menino. Por volta das 20h, as três enfermeiras, vindas de Chapecó, chegaram ao lar. “Era uma dor forte, mas suportável. Me acomodei no sofá enquanto elas preparavam a água e aqueciam a sala. As horas foram se passando e em nenhum momento pensei em desistir e ir para o hospital. Até havia feito a mala do Théo caso acontecesse alguma emergência, mas não pensava nisso”.

O THÉO CHEGOU!

Às 5h55 da manhã do dia 21, Théo nasceu. Por muitas horas as enfermeiras, o Davi e o Murilo ficaram à disposição de Jéssica, mas respeitaram todas as vontades da gestante, que esperava mais do que ninguém por aquele pequeno, que se formou dentro de seu corpo. “A dor some na hora em que o bebê vai nascer. A vontade é de empurrar. Ainda tem um desconforto, mas não era mais dor. É muito natural. Mesmo que a mulher não quisesse o bebê iria nascer quando chegasse a hora. Foram três contrações e o Théo estava nos nossos braços”.

Théo não chorou quando nasceu. “Ele só deu uma gemidinha e ficou nos olhando sério. O Davi cortou o cordão e nós ficamos curtindo aquele momento juntos”. Após a retirada da placenta, mãe, pai e filhos acomodaram-se no sofá de casa, o que proporcionou ainda mais afago àquele momento.

“É algo totalmente diferente. Já havia vivenciado outros partos no hospital, mas nunca domiciliar e na piscina. Foi uma coisa única. Na cesariana do Murilo participei somente filmando, nada mais íntimo como pai. Nessa entrei na água, recepcionei o bebê e cortei o cordão. A mãe tem o contato com o bebê os nove meses e também depois, já o pai não tem esse contato mais íntimo antes. Na hora que nasce é uma maneira do pai estar mais junto. Ele tem uma ligação muito especial comigo hoje”, contou Davi.

RECUPERAÇÃO

No primeiro filho, a xaxinense pôde enxergar o rostinho do bebê, anestesiada, tempos depois do nascimento no hospital. “Na cesárea, não se pode levantar a cabeça por horas. Como se aconchegar para pegar o bebê e amamentar desta maneira?”, indaga Jéssica. Em casa, no parto do Théo, sem qualquer sedativo, corte e pontos, ela conta ter se sentido “nova” já no dia seguinte. “Não tem nem comparação. Minha cesárea foi tranquila, mas o pós-operatório com um bebê em casa é muito difícil”.

INVESTIMENTO

Para que o parto domiciliar humanizado fosse possível, a família fechou um pacote de serviços com as doulas – que incluiu o curso de gestante para os pais; uma consulta por semana a partir da 37ª; visita prévia à casa da gestante; o dia do parto; e duas consultas de pós-parto. Conforme Jéssica, o valor é mais barato que o pago por um parto normal no hospital e menos da metade do que o de uma cesárea. “Acho que ainda é pouco por todo o amor que nos dão. Se eu tivesse condições, pagaria mais. Nos tornamos uma família”.

DIFICULDADE NO REGISTRO

Jéssica recomenda o parto domiciliar humanizado, pois para ela foi uma experiência maravilhosa. O único imprevisto surgiu após o nascimento, quando a família tentou registrar Théo. “O profissional nunca havia registrado um bebê nascido em casa desta maneira. Mesmo com os papéis assinados pelas enfermeiras, meu caso foi comunicado a Florianópolis e demorou uns dois dias para que eu conseguisse a Declaração de Nascido Vivo, e então pudesse registrá-lo. Em Chapecó, a enfermeira atesta que o bebê é filho de determinada mãe e os dados dele e fica tudo bem. Acho que é porque há mais casos assim. Bom, pelo menos, acredito que ficará mais fácil a partir de agora para outras famílias que se interessarem pelo método”.


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