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CULTURA VIAJANTE

De cidade em cidade, a liberdade é essência dos hippies

Nem o preconceito tira a satisfação de Dédy e Natureza em desbravar os quatro cantos do País
Por: Felipe Giachini
20/09/2016 14:17 - Atualizado em 30/09/2016 15:58
Didédy Bitencourt aderiu ao estilo alternativo há quatro anos (Fotos: Felipe Giachini/LÊ) Didédy Bitencourt aderiu ao estilo alternativo há quatro anos (Fotos: Felipe Giachini/LÊ)

O maior dreadlock do gaúcho Didédy Bitencourt, de 22 anos, tem 1,60m. O cabelo e o estilo, comuns entre os adeptos à cultura hippie, que surgiu nos anos 1960 e até hoje atrai jovens e adultos a desfrutar da vida simples, longe do consumismo das grandes massas, chamaram a atenção dos xaxinenses na última semana. Quem passava pela Praça Frei Bruno pôde acompanhar a estadia do hippie e sua esposa Natureza, no gramado de um dos principais pontos de Xaxim. Além do intuito de vender os artesanatos confeccionados por eles mesmos à base de arame e linhas, a vontade de conhecer lugares diferentes e também disseminar o movimento pelo País são impulsos para os jovens aventureiros.

No Brasil a cultura hippie chegou na década de 1970 e se caracterizava como uma forma de viver muito pacífica e os adeptos acreditavam que podiam melhorar o mundo por comportamentos não violentos. Normalmente os hippies eram pessoas de famílias ricas e tinham uma visão muito crítica da sociedade, de modo a contestar o sistema consumista. O lema conhecido de “paz e amor” fazia jus aos costumes dos grupos, pois, fraternos, dividiam suas posses e viviam em comunidade, sendo que maior parte deles não tinha trabalho e nem residência fixa.

Dédy, como prefere ser chamado, aderiu ao movimento há quatro anos, quando começou a viajar por cidades do litoral catarinense e por toda a região Sul. Ele, que já foi topógrafo, técnico agrícola, açougueiro, entre outras ocupações, largou tudo para viver pela arte e sem compromissos rotineiros. Ele conta que não tem muita habilidade com o artesanato, que seu forte é o malabarismo. “Sou malabarista porque gosto. Se me mandarem capinar um lote ou levantar paredes vou fazer, mas o que gosto é isso”.

Desde os 12 anos Natureza, hoje com 16, seguiu o sonho de viver da arte, dessa cultura e “fora do sistema”, como descreve. Ela nasceu com uma deficiência nas pernas, que implicaram na má formação dos membros. Desde muito pequena, ela optou por utilizar skate ao invés de cadeira de rodas e, ao frequentar pistas de skate em Aracajú/SE, onde nasceu, conheceu vários hippies. Conforme crescia, ela percebeu que era o que queria. “Com 12 anos ouvi meu irmão dizer que eu nunca conseguiria subir num ônibus. Aquilo me machucou muito e a primeira vez que embarquei foi para não voltar mais”. De interior por interior, Natureza viajou por diversas cidades do Nordeste e Norte e apenas com 14 anos voltou para casa. Essa volta, que acontece periodicamente, dura em torno de duas semanas até que o próximo destino seja traçado.

Após dois anos conversando pela internet, o casal se conheceu pessoalmente há três semanas, quando, após Natureza ir para o Rio de Janeiro, durante os Jogos Olímpicos, em que aproveitou a grande movimentação na cidade para alavancar a venda de artesanato, se reuniram em Imbituva, no Paraná, e, juntos planejam percorrer o País todo. “A gente é chamado de ‘maluco de BR’, pois viajamos pelo mundo para vender nossa arte. Estamos no movimento para não deixar a arte morrer. A gente leva cultura de diferentes lugares para as pessoas de diferentes lugares”, expôs a jovem.

APARÊNCIA

“Se você vê pessoas lutando pela liberdade você acha estranho, incomum”, destaca Natureza. Passível de constantes julgamentos, o visual mais alternativo - com cabelo característico (dreads), até pela praticidade na arrumação, roupas simples e sem muita preocupação com a imagem - chama a atenção da população, que desconhece essa cultura. Eles acreditam que cada um tem o direito de trabalhar e viver como gosta, seguir suas ideologias e crenças. “Muita gente julga mais pela aparência. O fato da deficiência nas pernas também influencia bastante no preconceito das pessoas e inclusive por morarmos nas ruas. Seria maravilhoso se as pessoas conseguissem aceitar o seu próximo sem criticar”, afirmou. Ela conta ainda que é comum encontrar vários hippies diplomados, como médicos e advogados, que abandonaram a carreira para viver dessa forma. Com apenas um violão e um celular para ouvir música e se comunicar com a família o casal reforça a ideia de que “a vida é tão bonita sem ficar hipnotizado em frente à televisão ou na internet”.

FUTURO

Dédy e Natureza têm suas famílias nas cidades natais, têm terreno e casa para morar, mas preferem a vida pelas ruas. “É a vida que escolhemos e a vida que nos escolheu. Quando acharmos que é hora de parar vamos parar, mas queremos viajar muito até que a gente encontre o lugar certo para viver. Quem vive na estrada nunca vai desistir dela”. Ao partirem de Xaxim, o próximo destino é rumo ao Rio Grande do Sul e depois para o Nordeste, onde Natureza irá encontrar os familiares, inclusive o filho Dermitre, de quatro anos.


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