A história é como a de muitos, mas em um certo momento fez uma curva e entrou em um caminho aonde poucos – mas pouquíssimos mesmo – conseguem chegar. Nascido e criado no bairro Garcia, em Blumenau, na Rua Amazonas, Rafael José da Silva estudou do ensino fundamental ao médio na escola estadual Santos Dumont, no próprio bairro. Desde pequeno gostava das aulas de ciência e transbordava curiosidade pelo corpo humano. "Como é que funciona esse organismo tão incrível?", se perguntava, e daí foi natural seguir os estudos e definir um objetivo: entrar na faculdade de Medicina.
O blumenauense filho de pai pedreiro e mãe empregada doméstica e que colecionava notas altas na escola não quis qualquer universidade. Ele pesquisou e estabeleceu que entraria na Universidade de São Paulo (USP) – uma das mais conceituadas e concorridas do Brasil. Sem condições de pagar por um cursinho preparatório para o vestibular, Rafael foi atrás do sonho sozinho. De manhã ia para a escola, voltava para casa ao meio-dia e passava o resto do dia estudando, repetindo essa fórmula de segunda a segunda por quase dois anos. Em 2015, aos 17 anos, ficou entre os cem melhores do Brasil e foi aprovado na primeira chamada para entrar na Faculdade de Medicina da USP.
– Meus pais sempre me incentivaram muito nos estudos, mas eles não completaram a educação e não têm curso superior, então teve muita coisa que eu precisei estudar sozinho. Eu corri atrás para desenvolver um método de estudo, criar uma base que nem a escola me dava – conta o jovem, ao lembrar que pesquisou na internet todas as informações possíveis sobre o vestibular que iria prestar.
Mas o caminho de Rafael não parou na aprovação em uma das melhores universidades do país – vai levá-lo a uma das mais conceituadas do mundo. Atualmente cursando o segundo ano da faculdade de Medicina em São Paulo, o rapaz foi aprovado em um concorrido intercâmbio de um ano na Harvard Medical School, em Boston (EUA). Ele e mais 16 alunos da USP terão a chance de estudar e realizar uma pesquisa científica com renomados professores nos laboratórios da instituição em 2018.
– O processo começou com uma carta de apresentação em que listei o meu histórico escolar, minhas experiências pessoais e tudo o que fiz além da faculdade. Depois, passei por uma entrevista em inglês com um professor de Harvard – explica Rafael.
No dia 27 do mês passado veio a confirmação: uma carta assinada pelo doutor Masanori Aikawa, chefe do Center for Interdisciplinary Cardiovascular Sciences de Harvard, dizendo que havia gostado muito do perfil de Rafael e que ele era um dos selecionados para o intercâmbio. Na terceira semana de janeiro de 2018 ele deve estar em Boston para iniciar um projeto no setor de Cardiologia sobre o desenvolvimento de placas de gordura nas artérias do corpo – o que pode causar infarto e AVC – e outras doenças ligadas ao coração.
Como todo caminho tem suas pedras, o de Rafael veio com um grande problema junto à carta de aprovação. Ele precisa custear toda a estadia nos Estados Unidos durante o ano de intercâmbio, da alimentação à hospedagem. Em São Paulo, atualmente, o jovem já mora em um alojamento da própria faculdade de Medicina para estudantes de baixa renda e ganha bolsa e auxílios. Em Boston a situação ficará ainda mais complicada e, por enquanto, o único apoio garantido é de US$ 500 mensais que os 17 aprovados da USP receberão do banco Santander.
Como os pais não têm condições financeiras de bancá-lo, Rafael partiu para a internet. Lançou na semana passada um projeto de financiamento através da plataforma Catarse com o objetivo de arrecadar cerca de R$ 50 mil para completar a renda necessária para se manter por um ano. Desde sexta-feira, quando o projeto ganhou visibilidade ao ser divulgado na página do Santa na internet e em outros portais, Rafael conseguiu juntar R$ 15 mil e espera conseguir bater a meta para, nas suas próprias palavras, não só conseguir realizar o seu sonho, mas buscar incentivo à pesquisa científica no Brasil.
– Eu sonho em seguir carreira acadêmica e ser professor, e essa experiência em uma instituição de ponta, com os melhores laboratórios, vai ser única. Além disso, quando me tornar médico, prometo que vou ajudar financeiramente um estudante na mesma proporção que estou sendo ajudado – garante o futuro especialista.
As contribuições para a campanha podem ser feitas pelo site.
Com informações do Diário Catarinense.
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