Por Valdir Colatto*
Os ratos são seres vivos de sangue quente como qualquer outro. Mas nós defendemos intransigentemente alguns animais e envenenamos sem qualquer piedade os ratos. Não conheço ninguém que os defenda. Não há uma ONG, nenhuma instituição, nenhum órgão de imprensa que os proteja. Isso acontece por uma razão bastante lógica. Eles são altamente destrutivos ao patrimônio humano e grandes difusores de doenças. São repugnantes porque tem uma grande capacidade reprodutiva e nos atingem diretamente.
Existem muitos outros animais com grande capacidade destrutiva, contudo isso não nos atinge de modo direto, então fazemos de conta que não vemos. O javali come todas as sementes, brotos, ovos, filhotes e toda a forma de vida que encontra em nossas florestas nativas além de acabar com nascentes de água. A lebre europeia está dizimando nossa lebre nativa e causando grandes prejuízos à natureza e a nossa agricultura. A capivara, roedor como o rato, mas de grande porte é difusora da babesiose, está desertificando a margem de alguns rios e inclusive invadindo as cidades. Algumas pombas inundam de excrementos nossas cidades, e produzem grande difusão de doenças entre a fauna nativa.
Contudo, esses animais, alguns por serem “bonitinhos”, outros por estarem produzindo seus malefícios distante de nós, diferentemente dos ratos, são protegidos e tem estimulada a sua descontrolada reprodução, especialmente por aqueles que desconhecem objetivamente o funcionamento dos ecossistemas.
Antes que o homem produzisse as alterações na natureza, necessárias para sua sobrevivência, a natureza subsistia em equilíbrio. Uma vez que produzimos algumas alterações, acabamos por privilegiar alguns animais oportunistas, que encontrando nas ações humanas condições privilegiadas para sua sobrevivência, acabam preponderando sobre outros e sobre a flora, terminando por intensificar o desequilíbrio dos ecossistemas.
Ocorre que mesmo os melhores e mais bem intencionados cidadãos, não estão dispostos a discutir com maturidade e agir com coragem na defesa do equilíbrio dos ecossistemas. Parece politicamente correto defender um determinado animal, mesmo que ele seja um estrangeiro invasor. Seus danos não são aparentes a nossos olhos e não nos produzem impactos diretos e imediatos.
Os ratos são muito menos danosos à natureza que sua parente gigante, quando em desequilíbrio, contudo o menor envenenamos e a outra protegemos, unicamente porque os ratos interferem diretamente em nossas vidas e destroem nosso patrimônio, e a outra produz danos à natureza, ou somente às pessoas que vivem no campo.
Na verdade a escolha que fazemos, entre o que defender e o que combater não é senão fruto de nosso egoísmo, desconhecimento e hipocrisia. O manejo controlado de animais em desequilíbrio é a forma aceita e operacional de defesa do equilíbrio ecossistêmico em várias partes do mundo, especialmente os países desenvolvidos.
Aqui fazemos questão de fechar os olhos a defesa do que é verdadeiramente importante na natureza e preferimos midiaticamente defender aquilo que é mais fácil e mais aparente. O que parece mais correto e romântico é mais defensável. Contudo, a natureza não pode esperar que a ignorância e a covardia se percam no tempo. São necessárias medidas imediatas para a defesa do equilíbrio de nossos ecossistemas naturais. Há que discutir-se os mecanismos para isso sem paixões cegas e apelos emocionais que não se sustentam a qualquer interpretação realística e científica.
*Deputado federal (MDB/SC)
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