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Senhora da Saúde, Plácido e meu querido pai

Por: Luiz Dalla Libera
24/11/2016 11:20 - Atualizado em 24/11/2016 11:20
Frei Plácido visitava as famílias de Xaxim no lombo de uma mula (Arquivo da família Dalla Libera) Frei Plácido visitava as famílias de Xaxim no lombo de uma mula (Arquivo da família Dalla Libera)

Novembro tem dois dias de feriado: Dia dos Finados e Dia da Proclamação da República Federativa do Brasil. Já o Dia de Todos os Santos é útil, mas até 1965 era comemorado com festa e feriado religioso de muito respeito. Hoje, as celebrações são comemoradas nos fins de semana, com o Evangelho das Bem-Aventuranças, em Matheus C.5 e V. 1-12.

Dia 19 é Dia da Bandeira Brasileira Federativa. Dia 25 é comemorado o Dia da Padroeira do nosso Estado, a Santa Catarina. Ela, que viveu no século III, era culta, inteligente e bela. Santa Catarina recusou-se ao casamento com divorciado. Foi torturada sob rodas com pontas de ferro e martirizada no ano de 315.

NOSSA SENHORA DA SAÚDE

Dia 21 é Dia de Nossa Senhora da Saúde, segunda padroeira da Paróquia de Xaxim. A devoção iniciou-se em Portugal, na época da “grande peste”. No verão de 1569, pediram médicos espanhóis a fim de combater o mal. Os recursos humanos falharam e então recorreram à Nossa Senhora com procissões e penitência em honra à Nossa Senhora. O número de mortes diminuiu e Maria recebeu o título de Nossa Senhora da Saúde.

Um fato semelhante aconteceu com as famílias pioneiras de Xaxim. Elas estavam tomadas por muitas doenças e os hospitais eram distantes. Não havia meios de transporte para chegar até eles. Assim, todos se tratavam com remédios caseiros, bênçãos e benzimentos. Eram pessoas de grande fé, por isso escolheram Nossa Senhora da Saúde como segunda padroeira da Matriz.

FREI PLÁCIDO DE XAXIM

Tenho vivas recordações dos trabalhos religiosos de Frei Plácido, pois também era morador de Xaxim naquela época. Concordo em 100% com o resgate histórico deste Jornal LÊ NOTÍCIAS, na edição nº 1173, em forma de uma ótima matéria. A única dúvida que tenho nas minhas recordações é o livro “Uma história de fé construída em mutirão”. Na página 29 dele, mão sei se é certo ou errado, mas cada um tem sua recordação. Não vamos criar discussão. Mas, me recordo que após a chegada de viagem à sua terra natal, ele não viveu apenas 19 dias, salvo que ele, nos últimos 10 anos em Xaxim, tivesse feito duas viagens à sua terra natal.

Estou bem recordado que ouvíamos todos os domingos às missas pelo rádio, que ficava dentro das próprias igrejas em substituição ao terço. Nas homilias, ele comentava das conversas com seus familiares.

Os familiares perguntavam como ele fazia as viagens às comunidades do interior. Ele disse que ia de burrinho, então os parentes fizeram uma vaquinha e mandaram um certo valor para a Paróquia comprar um Jeep. A Paróquia tinha condições financeiras, diferente do que alguns pensaram, mas foi um presente de recordação. Mais tarde, o Jeep marrom foi de legítima propriedade do senhor Angelo Marinelo, e mais tarde de Sílvio Lunardi, ambos in memoriam.

Como o frei tinha problemas de saúde (uma hérnia), a Paróquia lhe deu um Fusca, que era o carro do ano e mais macio do que o Jeep. Mas, também não teve sucesso. Ele não tinha coragem de dirigir, conforme Angelo Botam (in memoriam), que o ensinou a dirigir.

Penso que entre a compra do Jeep e a tentativa com outro carro, em que desistiu e seguiu com as visitas a pé, não se passou somente 19 dias.

Conheci o frei no início de 1956, em uma visita em linha Limeira, onde ele foi no lombo de uma mula. Nesta época, a Paróquia já tinha mulas, que um frei antecessor, o Cornélio Abelar, usava para andar de charrete, que em italiano chamávamos de “aranha”.

Várias vezes o frei Plácido visitava à tarde para descansar e, durante a noite, aproveitava para fazer confissões. Naquele tempo não existia o perdão rezado na missa. Só podiam comungar os que faziam a confissão e, após as confissões, era rezado o terço com as ladainhas. Após, ele dormia na sacristia, pois as capelas tinham camas.

Quando vinha de manhã, e as missas eram matutinas, ao chegar os do conselho – naquele tempo se dizia fabriqueiros (i fabricieri) – o frei era acolhido e a mula era acomodada na sombra com água. Alguns levavam um feixinho de alfafa e algumas espigas de milho. As esposas dos fabriqueiros eram responsáveis por levar a janta e o café sortido. Quem queria somente ovos fervidos, chá de pata de vaca, pão e mel era o inesquecível e querido frei Bruno. O Plácido aceitava mais o sortido reforçado, e aconselhava os outros também a comer bem.

Ele não era gaúcho ou trabalhou em regiões gaúchas, mas a cavalo ele só usava botas modelo gaúcho. Ele costumava tratar e alimentar bem as mulas. Sei disso porque o meu pai vendia alfafa com carroça, que quando carregada parecia um furgãozinho. O freteiro era o senhor Hurbano Bissolotti, que vivia junto com seu padrasto, o Fioravante Pianta, ambos in memoriam.

Como ele era de ordem franciscana, aconselhava aos outros a tratar bem os animais. Um certo domingo, durante uma homilia na missa (la prédica), ele falou: “Estes dias vi na cidade uma senhora a cavalo, que estava carregado de galinhas que ela ia vender. O cavalo era manso e magro porque não comia milho”. Ele disse que “tem que dar milho também ao cavalo e não só para as galinhas, que ficam pesadas para a venda e servem de alimento para as famílias, em especial àquelas nos trabalhos pesados”.

Nas visitas, no tempo de jejum, ele ia muito longe e no verão de calor ele dizia, sem se queixar, que a mula tomava muita água, mas que ele não podia tomar pelo compromisso do jejum na missa.

Ele, por ser de origem alemã, era inteligente, muito bondoso e carinhoso, mas também era um pouco obstinado, não aceitava tudo. Foi difícil ele, após os Conselhos Vaticanos I e II, acostumar-se e habituar-se a celebrar a missa do Latim para o Português. Antes dos Conselhos Vaticanos, só se rezava o Evangelho em português, logo após, o próprio padre dava os avisos. O Sermão (la prédica) e os cantos restantes eram em Latim.

Cada um tinha seu pensar diferente. O frei Plácido entendia que a missa antiga também tinha seus bons momentos aproveitados em língua portuguesa, apesar que os fiéis rezassem pouco durante a missa por ser em Latim. A missa encerrava-se com a Benção do Santíssimo, Salve Rainha e três Ave Maria, ladainhas de todos os santos e orações a São Miguel Arcanjo e São Jorge.

Frei Plácido não foi somente um missionário evangelizador, desbravador e pregador, mas um grande colaborador em promoções e arrecadações. Não existia o dízimo, mas o quartal, que podia até ser pago com produtos agrícolas.

Me lembro bem que, em uma visita à linha Limeira, ele cobrou muito dos pais dos alunos que não pagavam o dízimo, já que a igreja também servia de sala de aula.

Ele foi grande colaborador nas homilias das missas e na construção do Colégio Neusa Massolini – que teve início com recursos próprios da população e que foi fundado com o nome de Senador Vidal Ramos. Mais tarde, o governador do Estado, Celso Ramos, assumiu toda a responsabilidade e fez novas ampliações, quando passou o nome de hoje em definitivo.

Frei Plácido foi um grande herói para Xaxim!

MEU FALECIDO PAI

No dia 21 de novembro de 1938, o casal Ricieri e Delicia Dalla Libera recebeu o Natal meio antecipado com o nascimento da primeira menina, a Elza, em sua terra natal, a linha Limeira, onde hoje mora o Carlos. Não tenho toda certeza que foi a primeira menina a nascer em Limeira, mas não tenho conhecimento de outras terem nascido antes dela, que hoje mora em Ponta Grossa, no Paraná.

Mas, não é só isto que marca o mês de novembro em nossa família. No dia 14 de novembro de 1979, recebemos um comunicado muito triste. No exame do saudoso pai Ricieri, confirmou-se um câncer maléfico e maligno. Ele viveu mais 84 dias com muito sofrimento e fortes dores. Meu pai veio a falecer em seis de fevereiro em sua residência, na linha Limeira. Após 36 anos, hoje, em nome da família, meu muito obrigado a todos pelas ajudas nos dias difíceis.


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