Em meio a tantos debates sobre o uso ou não uso de agrotóxicos, como de comum, busco analisar sem julgar ou criticar, e nesse momento me retiro e penso sobre a questão. Pensando sobre o que e porque usamos agrotóxicos, cheguei ao pensar que usamos porque não queremos vermes na nossa maçã ou porque não se podem ter frutas na prateleira do mercado com insetos, mas sim porque as frutas e verduras tem que estar belas, brilhantes e padronizadas. É o que o mercado pede, porque é o que os clientes pedem. E assim vai, o mesmo para com a soja e o milho, que deve sempre aumentar o número de produtividade sem se importar com a qualidade. O que move a balança comercial são os números, esses que também não medem os danos a terra, a água, ao ar ou as pessoas. E é assim que o tal progresso rege as ações. Até entendo que, por agora, seja impossível não usar agrotóxicos para grandes produções, mas o caminho sustentável, consciente e natural seria de que pesquisas e tecnologias caminhassem para um controle sem uso desses defensivos perigosos. Mas como o que rege o progresso são esses números e imagem, acaba que a pressa em resultados gera essa comodidade destrutível de usar agrotóxicos. Claro, pois é muito mais simples jogar um veneno e, pronto, acabou o problema ou mascarei um problema para seguir no tom que esse “progresso” exige.
E fazendo uma analogia do que somos como sociedade e ser humano, senti que estamos muito próximos as frutas e verduras do mercado, cada vez estamos sendo menos orgânicos. A cada passo estamos padronizando comportamento com uma imagem a um tom que agrade, mesmo que muitas vezes não nos aceitamos e não nos amamos, mas forçamos para estarmos brilhantes por fora e tóxicos por dentro, como o mercado exige. E rejeitamos maçãs com bichinhos, cenouras pequenas ou tortas, batatas que não sejam uniformes. E rejeitamos quem pensa diferente, quem se veste diferente, quem tem um peso diferente. Estamos sempre julgando, apressados, difamando e excluindo o que não está dentro do padrão de perfeição que o “progresso” impõe.
E muitas vezes acreditamos nessa falsa propaganda de felicidade e tememos sermos orgânicos por não estarmos no padrão de mercado, tememos o que verdadeiramente somos. E cheio de medo fica fácil afastar do “ser orgânico” e se aproximar do “ser robótico”.
Eu peço perdão ao mercado, mas eu sou um ser orgânico, cheio de imperfeição estética e por dentro cheio de minhocas na cabeça, que fazem eu me questionar e aceitar que nada sei. E, orgânico, vou seguindo o fluxo natural da vida, mais próximo à natureza que do mundano criado pelo homem. Sigo uma regência, como a da Terra que se deixa levar pelo Sol, o Sol por outra estrela maior e todos fluindo na expansão do universo. E nesse tom natural e humilde como de uma árvore, vou caminhando em paz a jornada da vida, não mais nem menos que essa árvore ou um animal da floresta, pois a Terra não é minha casa como muitos arrogantes falam, a Terra tem vida e eu apenas faço parte da vida na Terra.
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