Hoje resolvi me colocar à parte do Direito formal e da opinião áspera que me é peculiar, para comentar uma realidade com que eu vinha lidando muito superficialmente, desdenhosamente, posso dizer: essa geração de jovens problemáticos, apáticos, descomprometidos e frágeis.
Continuo acreditando que uma boa parte do comportamento e das tendências dessa moçada seja reflexo dessa amolecida que deram na disciplina e no ensino, na falta de atenção que algumas faixas etárias sofrem da administração e da proteção excessiva da lei, nessa necessidade que surgiu há algum tempo de identificar, documentar e descrever cada vez mais problemas psicológicos que tornam qualquer nuance de personalidade num desvio de comportamento. Parece que estão sempre doentes.
Acontece que eu vinha tratando isso com um pouco de leviandade, pois considerava essa geração uma molecada bunda mole e fraca, no entanto, fui estudar um pouco sobre isso e me deparei com um argumento que me fez repensar. Dizia um adolescente num artigo, mais ou menos assim: que “os mais velhos falam das nossas fraquezas como se fôssemos mimados e frágeis, mas não prestam atenção em pequenos detalhes nesse meio e nas consequências disso com o tempo. A criança que apanhava pode ter aprendido que o amor é assim e se tornou um agressor. As mulheres passavam as vidas encarceradas em casa apanhando quietas dos maridos, os depressivos não podiam falar das suas tristezas, questões de gênero eram tabu, muitos viveram e morreram silenciosos, escravos da consciência coletiva. Talvez a nossa geração de oprimidos seja a primeira a realmente falar o que sente, a procurar ajuda numa sociedade ensurdecida pelos seus ‘valores’”.
O guri está certo. Quantas pessoas passaram vidas inteiras enclausuradas por costumes toscos e prosaicos, que alguns teimam em manter por puro capricho, mesmo que possa resultar em comportamentos violentos, repressivos ou deprimidos. Essa geração conseguiu aproximar e fazer compreender os sentimentos deles com a vida que se leva nessa época, e repensar as atitudes das outras e o que elas reverberaram no tempo.
É logico que muita coisa é exagero, mas não dá pra afastar que deve existir uma preocupação com as queixas deles, embora passar dificuldades seja parte da formação do caráter e da personalidade. O que não se pode fazer é deixar que passem esses percalços sozinhos e sem apoio.
Juridicamente, diz a Constituição que é obrigação da família, da sociedade e do estado criar condições para que crianças e adolescentes se desenvolvam com qualidade de vida, entretanto, o balanço dessas condições aí é que está bem errado, estão dando atenção às mais supérfluas e esquecendo as essenciais, passando a mão na cabeça pelas atitudes erradas e dando exemplo do que não ser.
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