Falar em doação de órgãos ainda pode ser um tabu para a sociedade, mas necessário quando o objetivo é salvar vidas. Embora os números de transplantes realizados tenham aumentado no Brasil nos últimos anos, ainda assim há muitas pessoas em uma fila de espera aguardando a doação de um rim, pulmão, coração, córnea, entre outros órgãos, que podem lhes devolver a chance de realizar novamente atividades rotineiras e que, no momento, não podem ser desempenhadas em função do problema de saúde.
Setembro é considerado o mês de conscientização à doação de órgãos no país e para marcar a data e incentivar este ato, que pode ser feito tanto em vida, quanto em morte, o Rotaract Club de Xaxim aplicou o projeto Setembro Verde. A primeira ação aconteceu no Desfile Cívico de Sete de Setembro, onde companheiros do clube distribuíram flores de papel com uma mensagem sobre a necessidade de ser doador de órgãos. Para aprofundar o debate, o Rotaract foi além e trouxe visibilidade à causa ao mostrar casos reais de esperança. Então, foram entrevistadas pessoas que já fizeram ou estão aguardando um transplante. Confira as histórias de cada um:
SOLIDARIEDADE
O delegado da Divisão de Investigação Criminal (DIC), de Xanxerê, Vinicius Buratto Nunes, recebeu um transplante de coração há três anos, quando já não tinha mais esperança de sobreviver. Para ele, a doação do órgão foi um ato de solidariedade. “Se a família da pessoa que faleceu não tivesse essa consciência eu não estaria vivo, meus filhos não teriam um pai, minha mãe não teria mais um filho”, conta o delegado.
LONGA ESPERA
Há nove anos, Elisandra Silva Oliveira Angonese, de 38 anos, aguarda por um transplante de rim. Sua rotina mudou depois da gravidez do segundo filho, onde teve complicações de pressão alta e o bebê nasceu prematuro, trazendo problemas tanto para a criança quanto para a mãe, que precisou iniciar sessões de hemodiálise três vezes por semana, continuando até hoje. Elisandra conseguiu um transplante, no entanto, o organismo rejeitou o órgão e ela retornou à fila de espera. Segundo ela, o ato de doação é um momento feliz para quem recebe o órgão, pois pode continuar vivendo em outra pessoa. “A vida continua, como serve para mim, pode servir para outra pessoa, só quem precisa é que sabe do sofrimento para conseguir e o valor que tem uma nova vida, uma nova chance”, comenta.
CONTINUAÇÃO
Dona Maria Batista, de 72 anos, mãe de 15 filhos, também está em tratamento renal há seis meses porque foi medicada incorretamente para tratar uma doença que nunca teve e os rins foram prejudicados. Contudo, a ligação de dona Maria com a doação de órgãos já vem há muito tempo. Há nove anos, ela perdeu o filho Anildo, que tinha 22 anos, e que, um dia antes de falecer de forma trágica, manifestou a vontade de ser um doador. A vontade foi atendida pela mãe, que conta que, após autorizar a doação dos órgãos do filho, teve um sonho no qual Anildo pediu para ela não chorar com sua partida, pois todas as pessoas que receberam os órgãos estavam curadas. Dona Maria conta que entende que o filho dela não vai mais voltar, mas que os órgãos deles estão ajudando outras pessoas.
VITÓRIA
A luta das xaxinenses Marilene Lemos e Isabel Schuvierki, mãe e filha, começou quando Isabel tinha quatro anos. Marilene lembra que achava estranho que sua filha não conseguia brincar com outras crianças, cansava com facilidade e, quando corria demais, a boca e os dedos ficavam roxos. Em conversa com o médico da criança, ele afirmava que a menina estava bem, mas quando a menina tinha quatro anos, ao conversar com outro profissional, ele detectou que ela possuía um problema gravíssimo de coração, uma doença chamada de microcardiopatia restritiva e que apenas um transplante salvaria sua vida.
De lá para cá foi uma longa caminhada, que iniciou primeiramente em Florianópolis e depois em São Paulo, quando ficou por dois anos aguardando o transplante de coração. A mãe afirma que foi uma longa e difícil jornada, mas que valeu apena, e que hoje ela tem consciência da importância de ser um doador de órgãos. “É difícil para quem perde uma vida, mas para quem ganha uma nova vida, passou por essa batalha, sabe o valor de uma doação de órgãos”.
No dia 13 de novembro, fará cinco anos que Isabel recebeu o transplante, que foi de uma criança de 12 anos que sofreu traumatismo craniano e pesava 40 quilos. Hoje ela leva uma vida normal, estuda no sexto ano da Escola Gomes Carneiro, mas mantém sua rotina de consultas e acompanhamento médico em São Paulo. Para o resto da vida, Isabel precisa tomar 13 comprimidos e, segundo a mãe, isso não é nada perto de tudo que ela e a filha já passaram.
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