Já se arrasta, desde a inauguração das três esculturas de Auri Bodanese, Plínio Arlindo de Nês e Serafim Bertaso, diga-se muito bem feitas e digna de respeito, que o Ministério Público questiona o procedimento de contratação da obra e sua beleza na comemoração dos 100 anos de Chapecó. O MP está corretíssimo. Como envolveu dinheiro da sociedade, tem que questionar tudo e colocar seu ponto de vista para quer todas as dúvidas sejam, de fato, explicadas.
Mas arte precisa ir à concorrência? Se o talento é algo pessoal, apresentado com sua assinatura, suas digitais, precisa mesmo ir às menores disputas de preço? Como explicar que aquele artista faz a melhor pintura, escultura ou música se, de estimulação espiritual, algo que tira de si para gerar o que imagina, é criado por sensibilidade e fruto de sua impessoalidade?
Como colocar em licitação aquilo que é de sua riqueza natural e artística se, o outro, não sabendo o que vai ser criado ou gerado, pode concorrer entre eles sem saber a margem mínima do que podem realizar?
O Ministério Público está corretíssimo em seus questionamentos e assim deve prevalecer mas, sem saber o que de fato deseja com sua ação, quer imediatamente procurar uma agulha no profundo mar do oceano.
Só no Brasil que isso acontece de fato. O mundo, cheio de arte e belezas humanas, feitas do nada mas encantando por séculos, tem iniciativas de questionar a pessoalidade, a genialidade, o valor intelectual de um artista que, imaginando, gera. Como Michelangelo a Moisés, sua criação escultural, uma obra magnífica e perfeita, percebendo-se pleno, diz “Parla”.
Imagina, nos dias de hoje, um talento desta altura, realizar uma licitação para fazer uma obra histórica onde se exige o valor mínimo de uma criação intelectual, sem poder de cópia, pessoal, único e verdadeiro?
Respeita-se a iniciativa da promotoria, sua grandeza e força perante a transparência, mas há, ainda, coerência no que se precisa para emoldurar o mundo.
Coloca-se aí a falta de conhecimento do vereador que iniciou o questionamento. Sua altíssima ignorância cultural e história, raiva pessoal e falta de valor com o que é belo em arte, música e luz humana, estimulou-o nesta cegueira, ira e inconformismo com o talento que lhe falta e, por osmose, contamina seus iguais. Vê-se na escuridão em pleno meio dia intelectual.
Depois desta aberração, Chapecó retorna mais um passo rumo ao fosso em que estava, com as magníficas esculturas, saindo.
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