Lê Notícias - - Na Essência | Quando as pessoas desaparecem!
Close Menu

Busque por Palavra Chave

Na Essência | Quando as pessoas desaparecem!

Já tive a tristeza de olhar alguns amigos e familiares que cultivava tamanha amizade e que detinha muito respeito por eles e os olhei pálidos, cobertos de flores.

Aliás, deve ser por isso que não sou muito fã de flores, principalmente as de cores brancas. Aqui, em meu apartamento há hoje três pequenos vasos que sinceramente estou procurando cultivá-las. Lembrei-me, agora, que ontem não dei água, preciso ir correndo assim que terminar de escrever essa coluna.

Eu não reconheci nenhum deles. Sempre levei um susto, como se eu tivesse entrado no velório errado.

A morte modifica o rosto, a ponto dele ficar irreconhecível. O rosto do morto não é o rosto de quem dorme. A face adormecida ainda é bonita, com a respiração bombeando a tez da pele. Durante o sono, nossos traços têm o contorno do lápis e a tridimensionalidade da luz.

O rosto do morto é impessoal, uma máscara de gesso, uma moldura barroca numa tela em branco, uma dor sem grito e sem socorro. Não há palavras que emoldurem a pessoa morta!

Antes acreditava que não havia olhado bem o meu amigo em nossos encontros, não gravei as suas nuances, pois ele me parecia distinto. Depois fui aceitando a ideia de que o fim transfigura a identidade. Aquele não era mais o meu amigo, a minha tia, a minha vó, o meu avô. Meu ente querido não estava mais ali como eu o conhecia dentro da alegria. Toda morte troca o corpo. Nascemos e morremos em corpos diferentes.

Alma já teria se ido? Evidente?

Havia um estranho em seu lugar: feição sugada, queixo contraído, lábios menores do que o hábito da fala.

O choro vem porque nunca mais verei tal pessoa, triste e real constatação!

Até o morto não está em seu enterro - concluo, assoberbado. Chora-se pela sua lembrança mais do que pela referência presente daquele lugar sombrio de castiçais. A impressão é que estou diante de um berço de madeira e ele se apequenou, regrediu de tamanho, tornou-se um bebê adulto, de colo. Na morte, somos pequenos e encolhidos, longe da imponência do movimento.

O que me confere a certeza de que temos um espírito nos aquecendo pelo interior dos músculos, temos um sopro milagroso e extraordinário dentro da gente, um vento divino de sentido.

A diferença entre o vivo e o morto é a alma. Quando a alma sobe, não resta mais nada. Por mais que a saudade procure forçar os olhos.

Por isso em vida, procure ser sempre você, na humildade. Sim se agiganta quando for preciso. Mas lembre-se, você um dia vai se recolher todo (a), e ficar numa pequena urna e não vai parecer você. Lamento lhe informar. Todos!


Câmara Floripa - PI 14488
Publicações Legais Mobile

Fundado em 06 de Maio de 2010

EDITOR-CHEFE
Marcos Schettini

Redação Chapecó

Rua São João, 72-D, Centro

Redação Xaxim

AV. Plínio Arlindo de Nês, 1105, Sala, 202, Centro