Depois de uma eleição de enfrentamento entre líderes, o deputado estadual volta forte no comando pleno do debate catarinense. Com a disputa atípica que marcou 2018, tanto ele quanto Gelson Merisio, subiram ao ringue e criaram uma relação entre gigantes que marcou um dos maiores confrontos dentro do cenário político. Provavelmente chegando ao comando da Alesc por sua valente habilidade, concedeu uma entrevista reveladora ao jornalista Marcos Schettini, com informações do último processo e as movimentações em meio aos novos e antigos deputados.
Marcos Schettini: Qual é a leitura do primeiro turno?
Júlio Garcia: Essa eleição foi atípica e diferente. No primeiro turno, a impressão que dava é que iriam ao segundo turno, o Merisio e o Mauro, quando houve o surpreendente crescimento do Moisés. O eleitor enganou até os institutos de pesquisa. No primeiro momento, o eleitor estava revoltado e o protesto era no voto branco e nulo. Depois, com o crescimento do Bolsonaro, ele migrou para o 17. A televisão teve menos peso que as redes sociais e o eleitor decidiu votar sem comunicar. Tanto que os institutos de pesquisas erraram exatamente porque o eleitor não estava declarando voto. Nós estávamos no meio da campanha e não detectamos esse fenômeno. Não sabíamos para aonde o eleitor iria ir.
Schettini: Por que isso aconteceu?
Garcia: Acho que a grande responsável por tudo é a Operação Lava Jato. Quando ela desnudou tudo que aconteceu em Brasília, o eleitor ficou indignado e revoltado, decidindo votar branco ou nulo. Com o caminhar da campanha, ele fez o protesto de forma diferente, pois o Bolsonaro se mostrou um candidato competitivo, fez um discurso à direita e era o que a população queria ouvir. Estava todo mundo indignado com a falta de seriedade na maioria dos políticos, com a insegurança nas ruas e saúde falida. Então houve o voto de protesto, aqueles que se apresentaram melhor conseguiram capturar o sentimento do eleito.
Schettini: Onde Merisio acertou e errou?
Garcia: O Merisio acertou na estratégia de fazer uma grande coligação. Se fosse uma eleição normal, ele talvez até teria chances de vencer. Ele tropeçou porque a coligação ficou muito grande e, no meu entendimento, o Merisio não estava ainda preparado para disputar uma eleição ao Governo. Eu acho que essa construção deveria ter sido mais aberta, dando oportunidade aos demais candidatos dentro da coligação, podendo convergir para o candidato que fosse mais viável. Foi um erro, mas é legítimo que ele tenha montado. Ele conseguiu fazer a coligação.
Schettini: Se o senhor pudesse voltar no tempo. Quem seria o candidato ideal para uma chapa vitoriosa em Santa Catarina?
Garcia: Se fosse a coligação com o MDB, a chapa ideal seria o Udo Döhler [prefeito de Joinville] com o Merisio. Se a coligação fosse com o PSDB, a chapa ideal seria o Napoleão [Bernardes, ex-prefeito de Blumenau] com o Merisio. Agora estou dando uma de engenheiro com obra feita [risos]. Acho que foi isso que faltou. Também não pode querer que um candidato construa tudo, depois desista e apoie outro. Então é uma questão muito pessoal. A gente ficar avaliando isso... Eu alertei lá atrás que tudo deveria ser mais discutido e debatido. Mas, enfim...
Schettini: Por que Raimundo Colombo não conseguiu ser o maestro desta discussão?
Garcia: Ele não conseguiu porque não quis.
Schettini: Ele foi frágil, não teve pulso para conduzir?
Garcia: Não. É o estilo dele. Ele agiu exatamente como é o estilo dele. O Raimundo não gosta de brigar, não gosta de trombar, ele prefere dialogar, prefere que as situações decantem e encontrem um caminho natural. É o jeito dele. É o estilo dele e a gente tem que respeitar.
Schettini: Antes das convenções, qual foi a conversa que o senhor teve, em particular, com Eduardo Pinho Moreira para tentar canalizar um novo procedimento?
Garcia: Eu não tive nenhuma conversa com ele sobre isso. Eu não tinha o comando do processo. Não tinha como influenciar no processo. Eu saí do Tribunal de Contas em novembro [de 2017] e as conversas já estavam todas adiantadas. Então tivemos dezembro, janeiro e fevereiro, mas nós começamos a trabalhar isso em março. Eu não tinha comando no processo e nem influência no processo. Não tive nenhuma conversa com o Eduardo Moreira sobre isso.
Schettini: Mas o senhor estava construindo a candidatura de João Rodrigues...
Garcia: Eu achava que o João era um nome estruturalmente viável. Daí aconteceu o que aconteceu. Foi tentado. Com a saída do João, evidentemente que o Merisio aproveitou o vácuo e foi construir o projeto dele.
Schettini: Como estão as conversas para a presidência da Alesc?
Garcia: As conversas começaram na semana passada. Nós tínhamos, em princípio, o Milton Hobus (PSD) e o Mauro De Nadal (MDB). Eu fiz uma viagem e na minha volta comecei a conversar. A bancada entendeu em apoiar meu nome e então começamos as conversas. Demos uma caminhada esta semana, mas não foram conversas conclusivas. Na semana que vem iremos dar continuidade nas conversas. É muito cedo ainda para a gente fazer uma avaliação para saber o que vai acontecer lá na frente.
Schettini: O apoio ao seu nome passou por um entendimento com Merisio para um projeto futuro?
Garcia: Passou a eleição, não temos mais motivos e nada a disputar. Não assumimos nenhum compromisso de projeto futuro. O que houve foi um retorno à convivência partidária. Eu frequentando as reuniões da bancada e conversando com ele. Eu não tenho nenhuma dificuldade pessoal com o Merisio.
Schettini: O teor da conversa foi em qual direção?
Garcia: Essa conversa poderia ter sido publicada na íntegra. Não teve nenhuma conversa a mais. O que resolvemos foi que a eleição passou e vamos olhar para frente. O que vamos fazer para frente, não sabemos ainda. Ano que vem, a partir de março, vamos começar definir projetos do partido.
Schettini: E a convenção do partido?
Garcia: Será no segundo semestre do ano que vem.
Schettini: O senhor é um quadro de altíssima verbalização. Houve algum entendimento para a presidência do partido?
Garcia: Eu não tenho pretensão de presidir o partido. O Merisio é o presidente. As discussões que tiver que ter, teremos dentro do partido. Colocando minhas posições como sempre coloco. Então não vejo nenhuma dificuldade de convivência. Ressalto, mesmo naqueles momentos mais críticos, quando externei minha opinião sobre a candidatura, com meu modo de pensar. Nem naqueles momentos houve qualquer problema de ordem pessoal. Nem da minha parte e, tenho certeza, que da parte dele também não.
Schettini: Qual é a afinidade que está tendo com o PSL e com Carlos Moisés?
Garcia: Não tenho nenhuma afinidade. O governador eleito convidou a bancada para estar com ele na terça-feira, às 9h. A bancada deliberou que vai atender o convite e vai ouvir o governador. A partir do que ele disser, talvez haja algum pronunciamento, mas aí é da responsabilidade do líder da bancada, que é o Kennedy Nunes.
Schettini: Quem fala em nome da bancada?
Garcia: O líder atual é o Milton Hobus. Então será o Kennedy e o Milton Hobus que irão falar.
Schettini: Diz em questão da Mesa?
Garcia: Não. Vamos conversar com o governador a convite dele. Não sabemos a pauta.
Schettini: O que o senhor tem a dizer sobre o aumento dos salários dos deputados?
Garcia: Minha legislatura começa a partir de 1º de fevereiro.
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