Vivendo as mesmas agonias que a maioria dos prefeitos do país, o prefeito de Florianópolis fala dos desafios que tem pela frente, da questão da mobilidade urbana, Ponte Hercílio Luz, balneabilidade e a reeleição. Gean Loureiro concedeu entrevista ao jornalista Marcos Schettini, deu nota ao seu governo e se diz satisfeito com o que tem feito pelos seus conterrâneos. Lembra das relações espinhosas do MDB em 2018 e o racha interno vivido no partido.
Schettini: Qual nota o senhor daria para sua administração?
Gean: Eu acredito que hoje estamos pelo menos com oito. A gente cumpriu com todas as obrigações, tivemos uma aprovação nestas metas estabelecidas nos dois primeiros anos, mas sabemos que temos muito para avançar. Acredito que seja uma nota razoável, dentro do que a gente sente com a população, sabendo que a cidade ainda tem problemas, mas que são possíveis de ser enfrentados. Estamos com disposição, unimos a sociedade civil neste propósito, porque quem ajuda Florianópolis não tem cor partidária. A sociedade civil vem se unindo muito contra aqueles que querem dificultar tudo na capital.
Marcos Schettini: Qual é o sentimento do senhor ao chegar à metade do mandato?
Gean Loureiro: É um prazer prestar contas das nossas atividades. Estamos encerrando o segundo ano do nosso mandato. Florianópolis é uma cidade que merece uma atenção diferenciada, muito mais que uma capital, é uma capital referenciada em todo país, que possui um charme especial. Para isso estamos tendo um cuidado diferenciado, evitando os problemas que as prefeituras do Brasil estão passando, muitas com dificuldades para pagar o 13º e o salário de dezembro. Fizemos um grande esforço no primeiro ano, que foi de sobrevivência em função da situação das contas públicas, mas pagamos todos os salários em dia e atualizamos os fornecedores. Em 2017, arrumamos a casa, reequilibramos e revisamos todos os contratos, então em 2018 foi um ano de buscar as certidões, avaliar financiamentos e preparar projetos, iniciando uma diversidade de obras, inaugurar outras que estavam inacabadas. Em 2019 nossa esperança é entrar com o pé no acelerador, com grandes investimentos e verdadeiras transformações que o prefeito espera depois de equilibrar as contas públicas.
Schettini: Qual é o cenário atual das obras do Aeroporto Hercílio Luz?
Gean: A questão da mobilidade em Florianópolis, especialmente o sistema viário, depende de eixos principais. Um deles é no Norte da ilha, a SC-401, que a gente aguarda uma revitalização. Também a Via Expressa Continental, que estamos trabalhando, e a BR-282, que felizmente foi conquistado os recursos e agora vem sendo executado pelos menos a terceira pista. E o acesso ao Sul da ilha, quando em março iremos inaugurar o acesso ao Rio Tavares. Já o acesso ao aeroporto, atende também toda a região do Sul da ilha, resolvendo grande parte do problema de mobilidade desta região. Estamos acompanhando isso de perto, participando diretamente da liberação da licença ambiental que trancou por muitos anos a execução desta obra. A ordem de serviço já foi expedida e, mesmo sendo executada pelo Deinfra, estamos acompanhando, sendo que a expectativa é que, com a conclusão do novo terminal do Aeroporto Hercílio Luz, no segundo semestre de 2018, possamos ter um acompanhamento da execução desta obra para que ela possa ser concluída. Com o novo acesso ao aeroporto e ao Sul da ilha, a cidade vai viver um novo momento. Nosso aeroporto é acanhado, não tem capacidade e nem pista para receber voos internacionais e ampliação de rotas. Quem perde com isso é o turismo, a cidade e o Estado de Santa Catarina. Florianópolis é a capital política do Estado, é referência e nossa expectativa é que no segundo semestre do ano que vem, nós possamos virar a página deste passado triste, com um novo aeroporto e um acesso digno, com uma melhoria em toda mobilidade em nossa cidade.
Schettini: Como estão as obras da Ponte Hercílio Luz?
Gean: A Ponte Hercílio Luz é o maior marco e representação de todos os catarinenses, sendo reverenciada por todos os turistas. Ela tem um fator importante, quando se pode retomar sua travessia. Nós temos um estudo na área de mobilidade, defendendo que na ponte transite, quando concluída, apenas o transporte coletivo, numa fase inicial. No final de semana, a ideia é que ela seja utilizada por pedestres e ciclistas, com visitas turísticas, num referencial que possa ser trabalhado um verdadeiro marco turístico. O objetivo também é fazer com que o transporte coletivo tenha prioridade em nossa cidade. Independente das questões da execução, que cabe aos órgãos do Judiciário fazer a averiguação, diante da ação impetrada pelo Ministério Público, para nós o mais importante é a conclusão da obra. Temos a expectativa que ela possa ser concluída em 2019, conforme prometido em novo cronograma. Ela também da uma retomada no crescimento de Florianópolis, pois a cidade tem marcos importantes como também a possível implantação da marina na Beira-Mar, da melhoria da Via Expressa, do acesso ao aeroporto, ou seja, temos tudo para ter um novo momento, mais voltado ao futuro e ao desenvolvimento econômico.
Schettini: Por que existe essa grande dificuldade de mobilidade para entrar e sair da ilha?
Gean: Temos alguns problemas. A terceira pista minimiza, mas não resolve os problemas da Via Expressa Continental. Temos um gargalo na saída para a BR-101, que precisa de uma obra de infraestrutura maior. Nós estamos lançando edital para uma requalificação da avenida Ivo Silveira, ligando, desde a ponte, até o município de São José, na região de Campinas. Vamos investir R$ 11 milhões, criando um novo eixo de ligação interna dentro do continente, desviando muitos que precisam, muitas vezes, utilizar a Via Expressa. A gente vem requalificando também a região de Coqueiros, onde vamos revitalizar a orla, melhorar a beira-mar continental, ou seja, a prefeitura trabalha, dentro das suas limitações geográficas, alternativas que possam minimizar. Nós temos uma rodovia federal, que há muito tempo vem sendo negligenciada pelo Governo Federal, diante da importância, pois é o principal acesso que liga os municípios da região da Grande Florianópolis, com a nossa cidade, sendo o principal acesso rodoviário de chegada a Florianópolis. Está tendo essa obra agora, mas não pode parar por aí. Temos que cobrar a conclusão definitiva de ampliação das pistas, de pistas exclusivas para o transporte coletivo, para que possamos discutir uma mobilidade diferenciada, priorizando o transporte coletivo e, com isso, diminuindo o número de veículos de transporte individual.
Schettini: Nesta temporada, Florianópolis receberá turistas de todo o mundo. Como estão as praias e o fornecimento de água e energia na capital?
Gean: Estamos trabalhando de maneira planejada e organizada. A Operação Verão deste ano já estava totalmente planejada em junho. Nós tivemos mais de 300 ações, não apenas aquelas de competência exclusiva do município, mas também nas que dependem de órgãos nacionais e estaduais. Na questão da água, nós avaliamos toda a situação do abastecimento de Florianópolis, com uma capacidade ampliada para que isso pudesse ser concretizar não tendo falta. No último verão, já não houve casos em Florianópolis e nossa expectativa neste ano é atender na plenitude. Junto à Celesc, que é a empresa responsável pelo abastecimento de energia elétrica, vem sendo realizado um trabalho de ampliação de subestações, especialmente para alguns picos, como na noite de réveillon. Estamos com uma forte expectativa e com uma meta estabelecida pela Celesc para também atender na plenitude. Quanto à balneabilidade, nós avançamos consideravelmente com o programa Se Liga na Rede, onde identificamos condomínios de luxo, shoppings, prédios e residências individuais, que estavam com descarte irregular, então isso vem sendo trabalhado, envolvendo educação ambiental. Em conjunto com isso, uma série de atividades voltadas à ampliação da Rede de Esgoto de Florianópolis, onde com a Casan, nossa concessionária, estamos realizando um dos maiores investimentos em saneamento básico do Brasil. São R$ 400 milhões em obras que estão sendo realizadas. Nossa expectativa é minimizar os impactos que acontecem. Óbvio que a análise da balneabilidade, em todos os lugares do mundo, não acontece em dias de fortes chuvas, porque isso acaba trazendo um dado não real da verdadeira balneabilidade que acontece. Na análise recente, foi uma das melhores dos últimos anos em Florianópolis, com quase 80% tendo balneabilidade. Nossa meta é trabalhar junto a todos os órgãos competentes para que a gente possa ter uma cidade muito tranquila quanto à infraestrutura do turismo. Precisamos estar preparados para receber o turista. Com condições no abastecimento de água, de energia, em balneabilidade, em segurança, com um comércio forte e atrações turísticas, com belezas naturais, para trazer graça para nossa cidade.
Schettini: Por que há pouco espaço para estacionamento no Centro e por que algumas praças estão abandonadas no Centro de Florianópolis?
Gean: Quero lhe dar uma informação em primeira mão. Hoje [ontem] assino um termo de adoção da Praça Tancredo Neves, que fica em frente ao Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas e Assembleia Legislativa, por uma empresa privada do ramo da saúde, que atua próximo ao local e vai realizar uma grande revitalização naquela área. Tivemos ainda a área da Prainha, muito próximo, que foi um investimento compartilhado entre prefeitura e iniciativa privada, entregando área para comunidade de Prainha, no Morro do Mocotó. Temos quase 30 grandes unidades, onde foram feitas parcerias com a iniciativa privada, porque houve encaminhamento sem precisar de recursos públicos investidos, buscando a criatividade e a parceria público-privada. Na questão dos estacionamentos, estamos fazendo uma análise de diversos bairros e do Centro da cidade. Com o advento de aplicativos de transporte como Uber e outros, e a melhoria da qualidade dos Táxis em Florianópolis, houve até uma redução da demanda nos estacionamentos, em virtude de muitos não utilizarem o carro próprio. Mas isso não impede de continuar com os problemas da falta de estacionamento. Ali estamos fazendo uma reforma e estamos trabalhando a possibilidade de uma concessão à iniciativa privada, que poderá fazer um estacionamento subterrâneo, podendo explorar comercialmente, dando mais alternativa para Florianópolis. Temos contrato de licitação para sete áreas no Centro da cidade, para ter uma exploração que permita a utilização de estacionamento. Estamos estudando outras áreas para que possam ser ofertadas, permitindo que a cidade tenha uma realidade muito tranquila, na possibilidade de quem deseja vir até o Centro e estacionar. Mas não apenas no Centro, na Lagoa da Conceição estamos identificando espaços, inclusive privados, para que possamos estimular a utilização de estacionamento, permitindo diminuir, muitas vezes, vagas estacionadas, melhorando o trânsito nas vias para quem se desloca com veículo próprio.
Schettini: Qual é a sua relação com o governador Carlos Moisés?
Gean: Por enquanto, temos uma relação de torcida para que o Governo tenha sucesso. O sucesso do Governo do Estado é o sucesso da capital. Entretanto, respeitamos a posição por enquanto adotada, do governador eleito, que vem buscando iniciar contenção da sua equipe e definir estratégias de início de governo, que são necessárias. Eu passei por isso no início da administração, buscando reequilíbrio das contas públicas. Eu ainda não tive oportunidade de conversar com o governador, mas acredito que ele vai saber o momento adequado para discutir isso. Eu presido a Associação da Grande Florianópolis e nós temos uma série de ponderações que podemos trazer a ele e que podem ajudar o governo a ter sucesso, permitindo prioridades nas execuções. Quero ser um parceiro, mas estamos preocupados com a prefeitura estar bem com o Governo do Estado, não dos políticos estares bem em relação aos seus partidos. Meu papel é de torcida e de colaboração, quando ele entender que for necessário. Por enquanto ainda não temos relação, mas respeito o momento adequado que ele possa entender que isso possa iniciar.
Schettini: O que aconteceu com o MDB em 2018?
Gean: Foi uma resposta da sociedade à atitude de alguns integrantes, especialmente do MDB Nacional. Não é só a população que está indignada, nós do MDB de Santa Catarina também estamos indignados com essas atitudes. Não concordamos e estamos brigando internamente para mudar e ter um novo MDB, com uma característica que possa resgatar nossa história, na necessidade da modernidade, na atuação política e na gestão pública, que são característica que venho buscando implementar na Prefeitura de Florianópolis.
Schettini: Como está sua convivência com a Câmara de Vereadores?
Gean: Recentemente tive uma vitória. O presidente eleito foi meu líder de Governo nos dois anos. Foi o candidato apoiado por mim. A base do Governo se uniu nesta eleição e temos a possibilidade de ter uma bancada muito unida. Agora, na votação do orçamento, aprovamos integralmente o relatório discutido em conjunto com a Secretaria da Fazenda de Florianópolis, com uma ampla maioria de votos. Minha experiência no Parlamento e a coerência da maioria dos parlamentares, vem permitindo que a Prefeitura de Florianópolis, de maneira sucessiva, tenha vitórias nas decisões do Legislativo, com a consonância de que a Câmara possa permitir, cada vez mais, trabalhar em conjunto com a prefeitura, em favor da cidade. E não com um Legislativo que só diga não a Florianópolis e evite o desenvolvimento que vem acontecendo. Nós trabalhamos em janeiro de 2017 com projetos muito difíceis, que era de austeridade e contenção de despesas. Foram 40 projetos aprovados. Trabalhamos, no mês de junho, a questão da transformação da Comcap em autarquia, com uma vitória da cidade. Hoje está demonstrado que era o melhor para empresa e para Florianópolis. Tivemos a luta para implementação das organizações sociais, onde fizemos a licitação em fevereiro. Tudo foi aprovado pela Câmara. Agora tivemos uma grande vitória do governo, deixando a oposição isolada.
Schettini: O senhor tem um racha do MDB da capital...
Gean: Não. Não tenho racha. A gente tem uma boa convivência com o diretório, onde fui presidente por dois mandatos. O presidente atual do diretório, Celso Sandrini, é integrante do meu governo. Nós temos uma boa relação com a bancada de vereadores e uma integração com todos os partidos. Converso com os vereadores, que possuem características de distinção. Uns mais ligados a políticas de bairros, outros mais ligados a segmentos da sociedade e, respeitando essa diversidade que eu conheço bem, está sendo permitido que a gente possa ter uma boa relação com o Legislativo e com os partidos.
Schettini: Há possibilidade de o senhor deixar o MDB?
Gean: Não existe isso. Isso é conversa. Eu não estou é satisfeito com a postura do MDB. Cabe a mim e aos diversos integrantes do partido em Santa Catarina, brigar internamente para mudar essa postura, não aceitar e afastar aqueles que não têm condutas voltadas à condição ética, retilínea, com uma política moderna que a sociedade precisa. Mas essa possibilidade de sair do partido é inexistente, não sei por que o assunto me envolve, porque todos conhecem minha característica dentro do partido.
Schettini: Em 2020, o senhor será candidato à reeleição?
Gean: Eu estou preocupado em cumprir o mandato na plenitude. Nossa preocupação é não fazer um mandato preocupado em se reeleger. A reeleição, eventualmente, pode ser uma consequência para dar continuidade a alguns projetos, com o sentimento da população. Mas esse é um feeling que a pessoa tem que sentir no momento adequado. Agora, minha preocupação maior é fazer aquilo que eu acho correto e não aquilo que possa garantir uma reeleição.
Schettini: Caso dispute a reeleição, quem o senhor gostaria de enfrentar? Angela Amin, João Amin ou o Pedrão?
Gean: Meu enfrentamento será para não ter uma administração ineficiente. Não escolho as pessoas que possam, eventualmente, concorrer se eu participar da eleição. Acredito que se a gente estiver cumprindo as metas, como a gente vem cumprindo com todos os compromissos, apresentando uma gestão eficiente e moderna, eu acho que quem vai estar do nosso lado vai ser a população. Quem desejar enfrentar uma gestão moderna pode ter dificuldades. Esse é o meu maior princípio e escolha, trabalhar como eu faço, incansavelmente, se dedicando plenamente para ter uma gestão eficiente, moderna e que vá ao encontro com o que a população espera.
Schettini: Qual a mensagem o senhor deixa para o turista que vai a Florianópolis?
Gean: Nós queremos, cada vez mais, consolidar Florianópolis como uma referência turística no Brasil e no mundo. Hoje, nós não temos apenas a temporada de verão como o ponto alto do turismo. Florianópolis atingiu índices de ocupação hoteleira no mês de novembro que nunca havia sido registrado. Estamos fazendo um calendário de eventos esportivos, culturais e institucionais que vem trazendo turistas durante todo o ano para Florianópolis. Mas para aqueles que vêm na alta temporada, onde o fluxo é o mais intenso, terão uma cidade organizada, eventualmente com dificuldades do trânsito, pois não suporta essa quantidade de veículos que chegam, mas uma cidade que apresenta estrutura e condições, seja nos balneários ou no Centro, para que possa recepcionar bem o turista. Não é à toa, que tanto a Editora Abril, através da Revista Viagem & Turismo, quanto a Folha de São Paulo, através do Instituto Datafolha, apontaram que os turistas escolheram Florianópolis como o melhor destino turístico e de praia do Brasil. Isso é uma demonstração de que as pessoas que vem a Florianópolis, estão satisfeitas. A gente quer ampliar essa satisfação para que possam retornar e, com isso, a cidade ganhar. Isso aumenta o consumo nos restaurantes, nos hotéis, nas pousadas, aumenta a arrecadação, gerando mais emprego. A expectativa é que Florianópolis não viva apenas desta sazonalidade, mas sim durante todo o ano, com características de uma cidade moderna, com aspectos turísticos, mas também com desenvolvimento econômico muito forte.
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