Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini no anexo IV da Câmara dos Deputados, Carlos Chiodini se disse capacitado para presidir o MDB/SC, defendendo profundas mudanças na maior sigla de Santa Catarina. Em seu primeiro mandato como deputado federal, Chiodini reconheceu as lições de 2018, disse que ainda é cedo para avaliar o Governo Moisés e que não irá disputar as eleições municipais.
Marcos Schettini: O que aconteceu com o MDB na campanha para governador?
Carlos Chiodini: O ano de 2018 vai ficar para história. Foi um ano diferente. Nós que fizemos política há algum tempo, sendo essa minha quarta eleição, chegamos a uma conclusão que não tem como ser errada. Primeiro, as campanhas políticas futuras não serão mais como nós fizemos até 2014 e 2016. Outro fato certo é que também não serão como em 2018, quando houve um erro de cálculo, não só por parte do MDB de Santa Catarina, mas de todos os partidos tradicionais. A sociedade esperava a novidade e o novo, no Estado progressista como Santa Catarina, se sobressaiu muito mais. Nosso Estado tem a mudança em seu DNA histórico. Santa Catarina foi o segundo Estado em que o presidente Bolsonaro mais fez votos, sendo que seu partido ainda elegeu o governador e uma expressiva bancada. Mas se voltarmos para 2002, o presidente Lula fez mais votos em Santa Catarina do que em todos os Estados do país, mas também já perdeu na reeleição de 2006. O eleitor catarinense está sempre atento às situações e aposta em propostas, mas vai fazer sua análise no decorrer do governo. Nós iniciamos um novo ciclo, onde novas forças políticas começam a fazer parte do cenário catarinense. Então, a partir disso, vamos ter tempo para discorrer e ver como isso será avaliado. O MDB é um partido que fez grande votação nas proporcionais e, infelizmente, meu amigo e companheiro de caminhada, Mauro Mariani, encabeçava a chapa, mas não conseguir ir ao segundo turno, no meio deste turbilhão todo que aconteceu na política catarinense. O MDB demonstrou sua força, foi vencedor em mais de 80 municípios na eleição ao Governo do Estado e apresentou um DNA forte, que é a presença na maioria dos municípios catarinenses, com prefeitos e vereadores. Nós temos um patrimônio, uma torcida, uma história de trabalho prestado em obras, ações e programas de governo. Eu creio que o tempo será o juiz de toda essa história. O MDB precisa olhar agora para dentro de si mesmo, se reinventando e se respeitando.
Schettini: O que o MDB precisa fazer para se reinventar?
Chiodini: O partido precisa olhar para dentro de si, acertar alguns caminhos. Eu não sou o dono da verdade, não tenho essa fórmula toda, mas entendo que precisamos ter essa humildade. Algumas coisas precisam ser revistas, enfrentadas e inovadas, mudando práticas, para que o MDB continue sendo protagonista do cenário político catarinense. Nós temos todas as ferramentas para que isso aconteça, mas tudo depende de união, planejamento estratégico, cumprindo-o à risca para buscar resultados positivos nas próximas eleições.
Schettini: A presença do MDB na Mesa da Assembleia demonstra esse rumo?
Chiodini: É um sinal. O MDB tem todo esse histórico em Santa Catarina e não tem outra meta a não ser se manter como o maior partido do Estado, neste novo cenário, com PSL, Novo e o próprio PT, que manteve seu quinhão de representação. Ainda há outros partidos se fortalecendo, como o PR, que agora tem um senador. O PSDB com deputados federais. São cenários que temos que observar e levá-los em consideração para 2020. O MDB tem todas as condições e eu não vejo como não deixar de continuar sendo o maior partido de Santa Catarina nas eleições municipais.
Schettini: Como vai se dar a disputa pelo controle do MDB em Santa Catarina?
Chiodini: A convenção irá acontecer do primeiro para o segundo semestre deste ano, sendo que a convenção nacional está marcada, a princípio, para setembro. Isso é muito importante neste momento histórico do MDB e a gente vê vários nomes despontando com a vontade de presidir o partido. Isso é muito bom. Ruim seria se ninguém quisesse. Nomes de peso como Dário Berger, Eduardo Moreira, Celso Maldaner e Edinho Bez. Eu também não escondo a vontade de ser presidente do partido. O MDB é a única sigla que tive na minha vida, tive a oportunidade de ser presidente da JMDB/SC e também em Jaraguá do Sul, secretário-geral do partido e ainda sou presidente da Fundação Ulysses Guimarães no Estado. Temos então uma militância que nos dá condição de almejar este espaço e, que se for para o bem do partido, nós vamos buscar.
Schettini: A dificuldade de diálogo entre Moisés, imprensa e parlamentares implica em quê?
Chiodini: Eu creio que é um governo diferente, mas ele foi eleito nesta mensagem. Acho um pouco cedo para dar um veredito ou fazer uma previsão do que vai acontecer. Quanto ao relacionamento do nosso partido com o Governo do Estado, eu entendo que deve ser respeitoso, com apoio crítico, mas sem a participação direta do partido, com a nomeação de cargos. É o momento de o MDB ficar fora dos Governos Estadual e Federal, e se reestruturar internamente, com formação, capacitação e motivação dos seus líderes para os novos desafios.
Schettini: A Secretaria da Fazenda está nas mãos do MDB. Qual foi a relação de Pinho Moreira com Carlos Moisés?
Chiodini: Não devo isso à relação com o Eduardo. Devo isso à qualidade técnica do Paulo Eli, que é um servidor de larga experiência, sendo até um porto seguro para a Administração Pública Estadual, como também demonstrou isso nos outros espaços que ocupou durante sua trajetória. Também não considero a permanência do Paulo Eli como uma indicação partidária, muito pelo contrário, foi uma indicação do próprio governador, que escolheu ter, nesta função importante e preponderante para nosso Estado, uma pessoa com esse conhecimento técnico no início de governo.
Schettini: Qual a relação do Fórum Parlamentar Catarinense com o governador Moisés?
Chiodini: O Fórum Parlamentar Catarinense é a grande voz de Santa Catarina no Planalto. Os 19 representantes, sendo três senadores e 16 deputados federais, independente de partidos e ideologias, comungam nas grandes bandeiras de nosso Estado. Podemos citar nossos problemas, que são imensos, como é o caso das rodovias BR-280, BR-470 e BR-282 que estão defasadas em investimentos. Podemos incluir as bandeiras da Saúde, Educação, Ciência e Tecnologia, portos e aeroportos, que passam pelo Fórum, que é nossa voz. A bancada catarinense é forte, composta por pessoas de bem. Na minha opinião, o governador tem que ser um aliado dos pleitos da bancada e vice-versa.
Schettini: Qual ritmo de trabalho o Carlos Chiodini vai imprimir em Brasília?
Chiodini: Nós temos que saber decifrar o sentimento do cidadão, principalmente de um Estado exemplo e que nos orgulha muito, que é Santa Catarina. Não podemos decepcioná-los, então é importante criar canais de comunicação para extrair o sentimento da população, trabalhando 24h, seja em Brasília ou na base. Vir para cá, no plenário, nas votações e reuniões de diálogo com o Executivo, transmitir o exato sentimento do catarinense. Esse é o grande desafio que eu proponho fazer da melhor forma possível, aprimorando sempre durante o mandato.
Schettini: Qual é o futuro de Carlos Chiodini?
Chiodini: Minha meta primordial é fazer um bom mandato de deputado federal. Creio que Santa Catarina carece muito disso e agora, inevitavelmente, chegou a hora de sermos mais respeitados pelo Governo Federal. Infelizmente a gente não tem ministros e postos importantes no governo, mas nós esperamos que o presidente Bolsonaro coloque recursos nas obras que já estão licitadas, fazendo as coisas acontecerem. Trabalharemos para que nosso mandato seja reconhecido e respeitado pelas pessoas. A partir deste momento, nós vamos buscar novas oportunidades. Minha vida sempre foi de batalha, de discussões e presença ao lado das pessoas. Eu tenho certeza que, fazendo um bom trabalho, existirão e virão novas oportunidades.
Schettini: Ou seja, o senhor está fora do processo eleitoral de 2020?
Chiodini: Nunca disputei eleição municipal, sempre disputei eleições estaduais. Tenho no meu planejamento disputar novamente.
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