O título da coluna de hoje faz referência a uma obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez. Nesse livro, Gabriel tenta reconstruir, passo a passo, os caminhos que levaram a um assassinato.
Fico pensando na história recente do Brasil. Boate Kiss, Mariana, desabamento de prédio em São Paulo, Brumadinho, CT do Flamengo... Quantas “tragédias” tem acontecido! E, nesses pensamentos, minha cabeça – de Promotor de Justiça – só consegue ver, como vilão principal, o sistema corrupto e impune que se instalou em nossa República.
Eis aí algo que pra mim parece verdadeiro: em todos os casos houve um certo desleixo, um deixa pra lá, um deixa assim, um não vai dar nada; ignoraram-se avisos, notificações, exigências legais. Tudo em nome do “interesse econômico” e da “prosperidade imediata”.
Será mesmo?
Quantas construções, ao nosso redor, não são executadas de forma totalmente diversa do projeto só com o objetivo de maximizar lucros? Quantas construções nem sequer tem projetos ou alvarás? Quantos já não disseram que licenças ambientais, alvarás de construção, alvarás dos Bombeiros, alvarás de funcionamento, e todos os demais instrumentos preventivos são formas de burocratizar o avanço e a prosperidade?
Mas, daí, quando acontece uma “tragédia”, logo vem a explicação: não tinha alvará; não estava legalizado; não observaram os avisos... E por aí vai...
Será que o que hoje construímos durará mil anos, como as construções antigas? Ou será que vivemos todos em castelos de areia com prazo de validade prestes a expirar?
Pelo jeito, a única coisa que se mantém intacta, nos últimos anos, é o malandro jeitinho de ser...
Tragédia anunciada. Lamentável.
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