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Memórias do Campo | Coragem

Por: Luiz Dalla Libera
13/02/2019 11:17

Quando devemos usar a coragem? E quando não devemos usar de jeito nenhum? Em um certo lugar, havia um homem muito rico e simples, que vivia com os amigos menos favorecidos. Certo dia, ele resolveu fazer uma grande festa com seus amigos, um almoço de amizade no sítio no interior, na qual havia uma lagoa com muitos jacarés ferozes. Havia um mangueiro cevado igual a uma piscina, a fim de alimentá-los.

Após o almoço, ele convidou os amigos para ver os jacarés e levar as sobras do almoço. Na hora em que os jacarés estavam na piscina, o homem fez um desafio: ele daria um milhão de reais a quem tivesse a coragem de pular na piscina e sair ao outro lado. Depois, viram um clandestino corajoso na piscina que conseguiu sair para o outro lado. Ao aproximar-se, o homem rico disse “Aqui está o cheque do milhão. Está em suas mãos, mas quero saber quem foi que te deu esta coragem fantástica?” O clandestino corajoso perguntou “eu quero saber quem teve essa coragem traiçoeira de me empurrar cruelmente para a piscina?” Isso eu aprendi em uma rádio, num programa de fé, mas serve de exemplo para nós quando devemos ter coragem e quando não devemos ter.

Devemos ter coragem nas dificuldades. Isso eu aprendi há mais de doze anos, com o padre Adriano Roque Dotti. Nas horas difíceis, ele dizia “podia até ser pior e não a coragem a dizer meu Deus será que eu mereço isso?” Até sua morte poderia ter acontecido pior, mas foi uma morte trágica de carro.

Um fato histórico semelhante a dizer coragem construtiva, eu vivenciei em Xaxim na década de 1970, através do frei Joel Lorenzetti, nos programas diários na Rádio Cultura. Um certo dia, ele falou “está semana me encontrei com uma mãe e ela falou em italiano “naquele tempo, as mulheres usavam mais vestidos”. Quando elas saíam de casa “Le glia il vestido on palmo disotto dei ginosshi, lá de gento metri log lia on palmo disora dei givocchi”, ou em português, “Padre, não dá mais fazer a vida as filhas, quando elas saírem de casa com um vestido um palmo abaixo dos joelhos, após cem anos, elas têm um palmo acima dos joelhos”.

Isto pode até ser uma piada ou verdade, mas o padre teve a boa coragem a dizer a verdadeira lição de boa conduta. Devemos ter coragem nas dificuldades e penúrias a modo de vencer e não a coragem do desânimo de desistir a não vencer, ter a coragem nas lutas e não a coragem de se deixar vencer pela vaidade e comodismo.

Ter a coragem em nossas críticas e recebê-las, ser calmos com muita paciência e não a coragem no trabalho duro e árduo, não a coragem de ficar na moleza, desvio e desistir, ter a coragem de fazer o bem sem olhar a quem, e não a coragem a não ajudar ninguém, ter a coragem nas entidades, apoiar ajudar, orientar e não a coragem de criticar e jogar os companheiros de trabalho na piscina e na jaula de animais ferozes. Seria longa a ladainha da coragem, por último a coragem de ser vencedores e não a dos acomodados.

Nos meus tempos de escola, a melhor nota que ganhei desde o primário até o segundo grau foi a professora de Artes. “Você é um vencedor. Parabéns, continue”. Essa coluna crônica das coragens, pertence à nossa classe civil e pensamos. Agora faço uma boa crônica da coragem referente à classe autoritária política, tanto regional, quanto nacional. Será que essas classes têm a coragem de governar e beneficiar as classes médias e pequenas trabalhadoras? Ou será que só têm a coragem de defender as grandes classes, sejam elas ruralistas, pecuaristas, grandes indústrias e potências multinacionais? Será que as classes políticas governamentais têm a coragem de avaliar a política pública? Verificar se os atendimentos pelo SUS, esse SUS que temos, é o verdadeiro SUS que merecemos? Já vi e ouvi candidatos nas campanhas, terem coragem e dizer “foi o candidato eleito como tal a vereador, deputado mais votado, mais novo a ocupar o cargo e tal etc” e medrosos sem coragem a dizer “Ano tal consegui ser eleito”.

Muitos me perguntam sobre os novos governos ou comandantes eleitos na última eleição. Qual é a minha opinião? Se para a população vão ser negativos ou positivos, ainda é cedo para comentar. Mas uma coisa é certa: os governos têm o poder da caneta e a população tem a coragem e a liberdade a fazer greves, manifestações de desagrado, vaias. Temos governos militares, mas não estamos vivendo em tempo de ditadura. Fine qua lá dura mai paura andiano havanti coragio com la madona e tuti i santi.


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