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SERENA E TRANQUILA

Conhecedora do mundo, escritora conta como mudou sua maneira de ver a vida

Hoje vivendo nas montanhas no estado do Colorado (EUA), Letícia Mello morou em Chapecó quando criança
Por: LÊ NOTÍCIAS
31/05/2019 15:12
Arquivo Pessoal Livro ‘Do For Love’, escrito por Letícia, nasceu após suas experiências pelo mundo; hoje ela comenta sobre sua vida e experiências no Instagram @doforloveproject Livro ‘Do For Love’, escrito por Letícia, nasceu após suas experiências pelo mundo; hoje ela comenta sobre sua vida e experiências no Instagram @doforloveproject

Por Axe Schettini

Viver de maneira com que sua mente seja leve e tranquila, mas ao mesmo tempo busque entender o porquê de o mundo ser tão diferente, mas também igual, com diversas características e por outro lado cheio de traços de felicidade e tristeza. Caminhar pelas dunas dos lençóis maranhenses nunca será o mesmo que estar no deserto do Saara. Casar em Nairóbi, sorrir em São Petersburgo ou chorar às margens do Lago Michigan, em Chicago, independente do que estamos fazendo, sempre é uma aula de vida, onde temos a oportunidade de aprender, diariamente, a conviver num mundo muito mais plural, racional e humano. Tendo a plena convicção de que podemos ter uma vida sensata e compreensível, independente do local que estejamos na Terra, a escritora Letícia Mello mudou sua percepção de mundo ao conhecê-lo melhor e, consequentemente, a si própria, abandonando uma residência e emprego fixo para fazer o que realmente lhe faz sorrir. “A melhor escola da vida”, diz ela ao definir o mundo em entrevista concedida ao LÊ NOTÍCIAS.

Indicando que não há bússola capaz de nos mostrar o caminho certo ou incerto a seguir em nossas vidas, Letícia buscou uma nova maneira de estar na Terra ao lado de outros mais de sete bilhões de humanos. Ela já morou em inúmeros lugares ao longo dos seus 30 anos, mas foi por ter vivido em Chapecó que ela concedeu entrevista ao . Quando pequena, apenas com seis anos, a menina do mundo conta que estudou na Escola Bom Pastor e que possui poucas lembranças do local que viveu quando criança. “Lembro também que morava com meus pais em um apartamento no primeiro andar e tinha uma vizinha que eu adorava. Existia um vão enorme entre as nossas janelas onde era coberto pelo telhado que era a cobertura da garagem e eu fugia de casa por esse telhado e ia para casa dela sem minha mãe saber”, relembra em seu lapso de lembrança da cidade do Oeste catarinense. “Quando minha mãe ia me procurar e não me achava, ela já sabia que era só olhar para o apartamento da vizinha que eu estava lá. Ela costurava e era muito artística. Adorava ficar por lá”, completa, lembrando também que sua mãe mantém grande amizade com a antiga moradora.

Elencando a Índia como o país mais extraordinário dentre as dezenas de nações que já conheceu, Letícia que um dia teve o sonho de conhecer Butão, hoje garante que não há mais esses anseios por escolha de novos rumos. “Atualmente, deixo que os países me escolham. Tenho muita vontade de conhecer países pouco explorados ou que são difíceis de visitar”, explica, se considerando uma moradora do Planeta Terra, como ela mesma relata aos risos.

Contrariando as respostas que expusera ao ser indagada sobre sua morada, quando dizia que não era de lugar algum por se mudar muito, hoje a jovem escritora se diz de todos os lugares. “Tenho uma facilidade enorme de adaptação e uma paixão em estar sempre desbravando novos lugares, conhecendo novas pessoas. Então eu diria que sou uma moradora do lugar onde estou a cada momento”, expressa, lembrando que no momento em que respondia a entrevista, estava em uma montanha em Boulder, no estado do Colorado, nos Estados Unidos.

VIVENDO

Ao ser questionada sobre a história mais marcante de sua vida, ela é enfática ao dizer que “são tantas histórias, impossível escolher uma”. Mas com um olhar sensível ao mundo, ela comenta que as histórias e pessoas mais marcantes são onde esteve fazendo trabalho voluntário. “A mais recente e que me marcou muito foi morar com uma família nepalesa para ajudar os três garotos que tinham a distrofia muscular de Duchenne e por isso viviam em cadeiras de roda. Cheguei esperando encontrar muita tristeza e dificuldade, mas eles me apresentaram um mundo de alegria, sorrisos e gratidão. Foi com eles que aprendi que liberdade não é geográfica, mas sim está em nossa mente, na nossa maneira em ver e viver a vida”, conta.


Escritora com a família que conviveu durante voluntariado no Nepal


Com a experiência vivida em vários locais da Terra, ela explica que se fortaleceu muito quanto ao sentido da vida. “Também aprendi a lidar mais de perto com a certeza da morte, já que eles têm uma expectativa de vida muito pequena e estavam próximos dessa idade. Com isso, compreendi que mais do que estar lá para ajudar com a doença em si, estávamos lá para viver momentos junto com eles, compartilhar a vida e sorrisos”, completa.

Coisas que fizemos diariamente no Ocidente, por exemplo, pode ser algo magnífico para quem vive do outro lado do mundo. “Os levamos em um restaurante para comer macarrão à bolonhesa pela primeira vez e nos divertimos muito juntos. Um deles partiu recentemente e tudo que podia sentir era gratidão por ter escolhido ir até o Nepal viver momentos tão especiais com eles. Quantas vezes deixamos algo para depois e acabamos nunca vivendo né?”, indaga, refletindo sobre o sentido da vida.

PROJETOS

Em virtude das inúmeras experiências vividas, Letícia teve a brilhante ideia de relatar o voluntariado na Ásia em um livro, de sua autoria, o qual é o primeiro de uma próspera e criativa carreira. Ela lembra que, antes disso, realizou alguns projetos pessoais que foram essenciais para o desenvolvimento de sua personalidade. “O documentário que gravamos e o livro escrito, nasceram da essência das minhas viagens. Por ter começado do zero e batalhado muito por eles, me deu uma força gigante em acreditar que é possível realizar nossos sonhos. Eu sou só uma garota do interior, nunca me vi criativa ou empreendedora, acreditar em mim e dar meus pulos para realizar meus sonhos foi muito importante, me fez compreender que ter coragem foi mais importante do que ter dinheiro para começar. Investir em uma relação a dois também me transformou muito”, explica.

Mesmo assim, ela crê que é errado pensarmos que precisamos realizar grandes projetos para nos transformarmos em alguém melhor. “Nos transformamos em uma pessoa melhor nos pequenos detalhes do nosso dia-a-dia, sabe? Para mim cada dia é um pequeno projeto pessoal no qual temos a oportunidade de termos atitudes que nos deixam mais próximos da nossa essência, de quem já somos. Acredito que o homem faz grandes projetos para acabar percebendo que a transformação é sutil e singela, está em ver o outro, ser generoso, agradecer, agir com verdade”, explica.

LIBERTE-SE

Sem definir projetos como algo que a consuma, Letícia, ao ser indagada sobre seus planos futuros, mostra leveza na observação diária de que apenas precisamos viver. “Almoçar daqui a pouco (risos)”, diz sobre os projetos.

Com uma bagagem enorme de quem conhece bem a realidade do mundo, ela explica que para se fazer um trabalho voluntário, a primeira dica é pesquisar muito. “Pesquise a instituição que está indo, questione se eles são legítimos no trabalho que fazem, para onde vai o dinheiro, quem está sendo beneficiado. E questione também as suas razões”, conta, alertando para que o voluntário se prepare para uma experiência transformadora, “vá de coração aberto”.

Questionada em como minimizar a desigualdade social no Brasil, devido à sua experiência em inúmeras nações, ela diz que não precisamos ter medo de gerar riquezas. “Somos uma nação que vê o dinheiro de uma forma negativa e achamos bonito dar para o outro o que não temos. Eu falo isso porque já pensei assim, se eu não tivesse mudado a minha mentalidade, o meu livro ‘DoForLove’ teria morrido junto com as minhas boas intenções, mas percebi que gerando riqueza com algo que acredito, eu posso efetivamente ajudar outras pessoas, investir no sonho de outros e multiplicar projetos e ideias”, comenta, reafirmando que somos muito extremistas. Ainda, ela alerta que “gostamos de colocar a culpa no outro, mas não vemos o poder do coletivo, de cada um fazer a sua parte e influenciar o pequeno mundo a sua volta. Valorizamos muito o status das coisas e não questionamos as consequências das nossas escolhas diárias”, completa ela.


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