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Fundação Logosófica | Força existencial da natureza humana

Por: Fundação Logosófica
24/06/2019 11:20

Por Carlos Bernardo González Pecotche (Raumsol)

Entre os múltiplos aspectos que configuram a psicologia humana, o que diz respeito à sensibilidade é um dos mais importantes e que mais influem durante o curso da vida.

O estudo a fundo desta questão merece uma discriminação de seu conjunto, e será necessário classificá-la em duas categorias. A primeira abarcará tudo o que diz respeito ao próprio sentir nas relações do ser consigo mesmo; a segunda, toda a extensão que transcende a órbita da primeira. Em ambos os casos a sensibilidade costuma se aguçar, seja por aquilo que afeta o ser de modo íntimo e pessoal, quer dizer, pelo que o afeta diretamente, seja pelo que afeta exclusivamente os demais. O mesmo se dá com os acontecimentos felizes, de grata repercussão para a vida.

Uma circunstância, um acidente, uma desgraça, seja pela perda de seres queridos ocasionada por distanciamentos ou falecimentos, seja por perda de bens, etc., produz lógicos abalos sensíveis em quem é atingido por tais coisas, sendo sua própria consciência a que registra o fato que o comoveu. Mas, quando o que ocorre afeta a outro e igualmente se sente uma profunda comoção, o fato então assume um caráter diferente.

Quem preserva seus sentimentos de qualquer perturbação estranha a sua sensibilidade preserva, também, sua paz interna e a felicidade

Quando se chega a sentir, quando se experimenta um sentir de tal natureza por outro ser, estabelece-se de fato um vínculo existencial, ou seja, conectam-se duas existências sensíveis: sendo assim, produz-se uma espécie de prolongamento da vida de um em outro, pois tudo o que acontece com aquele a quem se estende o sentir é como se acontecesse com o próprio que experimenta o efeito sensível, adquirindo este maior intensidade ao manifestar-se pela força de um afeto, e mais elevada condição quanto maior for a pureza e o desinteresse que o inspire. Daí que seja tido em grande apreço tudo que se refere ao sentimento.

Também se podem estabelecer vinculações intelectuais, porém estas não passam de meras formas de convivência comum; não obstante, a vinculação intelectual pode criar a vinculação simpática, o que significa que se haveria dado, por influência da simpatia mútua, um passo mais em direção ao ser interno, com o que se pode condensar um sentimento de afeto cuja expressão sensível é o laço existencial que une e prolonga a vida de um em outro.

O exposto dá a pauta para julgar a importância de que se reveste o sentimento no ser humano e, ao mesmo tempo, mostra que o sentimento é uma força existencial que deve ser considerada como parte da própria vida. Se tal força é afetada, a vida sofrerá em idêntica proporção a repercussão da alteração produzida.

Portanto, quem preserva seus sentimentos de qualquer perturbação estranha a sua sensibilidade preserva, também, sua paz interna e a felicidade que a existência deles oferece a quem os cultiva com amor e conhecimento. A destruição de um sentimento implica a destruição de uma porção de vida, a qual teria sido animada pela força de um afeto que por si mesmo faz parte da própria vida.

(Trechos extraídos de artigo da Coletânea da Revista Logosofia Tomo 2 p.209)


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