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Vieses e consensos | Bolsonaro “versus” Moro e a nova política virando fumaça

Por: Ralf Zimmer Junior
26/08/2019 14:09

Chamou a atenção de todos, até mesmo dos “bolsonaristas” mais fiéis, o fato recente de Jair ter ido a público repreender o ministro da Justiça Sérgio Moro, ao argumento que ele, Jair, por ser presidente, é quem tem a palavra final em todos os assuntos que julga pertinente e que não há ministro algum em seu staff com carta branca para agir de forma totalmente livre.

O estopim da crise com seu mais forte ministro de outrora se deu, conforme noticiado às escancaras, pelo fato de o ministro Sérgio Moro ter procurado o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, para argumentar sobre a necessidade de a Corte Constitucional retomar entendimento anterior que dava maior liberdade de compartilhamento de informações pelo Coaf com os demais órgãos de repressão à criminalidade no intuito de combater os delitos de lavagem de dinheiro.

O presidente da República não gostou justamente porque a decisão de Toffoli de alijar os poderes do Coaf se deu a pedido (e para evidente benefício) da defesa do senador Flavio Bolsonaro (em inquérito que apura possíveis delitos de lavagem de dinheiro e organização criminosa), filho de Jair. Evidente que muitos outros na mira de investigação se beneficiaram com esse retrocesso que serve realmente a quem deve do que aos cidadãos que cumprem rigorosamente suas obrigações.

Em poucas palavras, somente bandido tem interesse de esconder suas operações financeiras dos órgãos de controle, essa a verdade. E, parece que Moro não tem bandidos de estimação, ou ao menos, tem menos que quiçá tenha o presidente da República.

Em suma, Moro foi fiel à sua agenda de buscar combater a criminalidade no seu degrau mais sofisticado, a lavagem de dinheiro, contudo, ficou claro que esse não é o interesse do presidente da República, que foi a público repreender seu ministro.

Não bastasse isso, Jair interferiu na Polícia Federal em posições que causaram o rechaço da própria categoria que, em nota oficial, clama por maior autonomia e sublinha, de quebra, seu histórico de combate a criminalidade independente de cores partidárias daqueles que estejam de plantão no poder. Há quem diga que por trás das interferências de Jair há o interesse de proteger seu filho Flávio, porque pressupõe não levar Queiroz a depor, pois se esse delatar, ninguém imagina onde e quando termina o governo.

Nesse ritmo, a “Nova política”, decantada na última eleição, que tinha por base a transparência das ações dos agentes públicos e o combate firme à corrupção vai se transformando pouco a pouco em moda ultrapassada, justamente, pasmem, pela cratera de entendimentos que se abriu entre o Presidente da República e seu principal ministro.

Enfim, a máscara caiu, as velhas práticas condenadas da chamada “velha política”, que tinha por marca as benesses da lei aos amigos e seus rigores aos inimigos, reencarnou mais forte do que antes, pelas palavras e atitudes daquele que foi chamado a presidir o Brasil porque “ao menos não era corrupto”, é bom “já-ir” se acostumando, o presidente da República protege retrocessos no combate à corrupção ao reprimir as investidas do ministro Moro que acaso vierem a ser levadas a efeito podem prejudicar seu filho Flávio. Na República das bananas mais uma vez os escancarados e ignóbeis interesses pessoais estão a se sobrepor ao bem geral da nação.

Dessa maneira, a repreensão de Jair a Moro por ter este buscado maior autonomia ao Coaf e ao combate à lavagem de dinheiro é o início do fim do engodo da nova política, e nesta toada, a depender da extensão de eventual veto na nova lei de abuso de autoridade, saberemos se temos um presidente apenas meio, ou totalmente, FAKE, ou seja, a velha política com verniz já derretido da nova escorrendo pelos pés chafurdados na imundície. E, no intermeio desse lamaçal, um Juiz de moral ilibada pela maioria da população prestes a se tornar um telespectador de luxo de um déspota que faz troça com seu ministro que está ser, de “qualquer coisa”, menos de Justiça.

Bolsonaro contra Moro, a fumaça da queimada do discurso fajuto já se sente até no Amazonas, resta saber se será fim de festa para a “nova política” ou para os personagens da “velha guarda” que estão a comandar mais que nunca a República das Bananas. A conferir.


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