Aplicar a teoria na prática é, sem dúvida, uma das partes mais desafiadoras e gratificantes da graduação. Então imagine o desafio de utilizar os conhecimentos vistos em sala para construir uma viatura que deve atender às principais necessidades da Polícia Militar. O trabalho dos cursos de Engenharia Mecânica, Elétrica e de Produção da Unochapecó durou dois anos, e o resultado do Projeto "Radiopatrulha: viatura modelo" pôde ser visto no último sábado (07).
A viatura, entregue a Polícia Militar durante o Desfile de Sete de Setembro, em Chapecó, foi adaptada para suportar as demandas diárias de um veículo que roda pela cidade constantemente, turno após turno. Há dois anos, o processo começou com um questionário, onde foram verificadas quais as principais necessidades. As peças utilizadas para modificar o carro foram, em grande parte, projetadas pelos acadêmicos, já que não existem itens similares no mercado.
Com tantas tarefas para serem realizadas, diversos estudantes participaram do projeto, que é inédito no país. Um deles, é o acadêmico do 4º período de Engenharia Elétrica, Evandro Crispin da Rosa. Ele ficou responsável por adequar o sistema elétrico, desenvolver um módulo chamado "modo furtivo", auxiliar na montagem e desenvolvimento de acessórios para o veículo, além de disponibilizar manuais técnicos para o grupo.
Para ele, a atividade promove um engajamento de diferentes profissionais da engenharia e possibilita aos estudantes experimentarem a profissão na prática. "O projeto nos oferece a oportunidade de vivenciar, desde já, o dia a dia da atuação de um engenheiro, que abrange pesquisa, desenvolvimento e promoção de adequações. Foi um projeto desenvolvido dentro da necessidade apresentada pelos policiais, onde obtivemos o resultado que esperávamos".
A parceria da Universidade com a PM surgiu por conta das viaturas atuais não serem preparadas para o uso contínuo. Para o comandante do 2º Batalhão de Polícia Militar, tenente coronel Ricardo Alves da Silva, a viatura adaptada terá um impacto positivo nas próximas ações da PM.
"É um grande orgulho ver esse projeto concluído. Esse é um veículo com uma suspensão melhor, mais forte e econômico. Em relação ao atendimento de ocorrências, vai ser muito mais útil que o veículo atual. Assim nós fechamos um projeto e esperamos que esse tipo de veículo melhore as condições de serviço do policial militar".
Segundo o comandante, a viatura é apenas o primeiro de diversos projetos que podem ser desenvolvidos em parceria com a Uno. "Sabemos da dificuldade da indústria automobilística de fazer um veículo em série que atenda nossas demandas, porém com o contato estabelecido com a Unochapecó, esse projeto passa a ser um modelo para as próximas viaturas que vamos adquirir", enfatiza.
MUDANÇAS
De acordo com o coordenador do projeto, professor Everton Rafael Breitenbach, foram realizadas nove mudanças importantes. No interior do carro, os forros das portas foram trocados por forros lisos, confeccionados em MDF, para proporcionar uma melhor disposição das pernas, já que o fardamento suporta vários acessórios. Os bancos traseiros foram substituídos por dois assentos e um armário para objetos foi colocado na parte de trás, juntamente com um porta-armas, uma das maiores solicitações da Polícia Militar. Além disso, a cela foi aumentada em 20cm para que o detido tenha espaço para sentar e acomodar os pés em um local específico.
Na parte externa, as partes plásticas que possuíam somente função estética foram retiradas a fim de aliviar o peso do veículo. O curso e a dinâmica da suspensão foram melhorados, deixando o carro com melhor dirigibilidade, e o pneu estepe foi removido, já que nunca é utilizado. O desempenho do motor também foi melhorado para aliar economia com eficiência.
Outra mudança importante foi a instalação do 'modo furtivo', Por meio de um botão que comanda uma central, é possível desligar toda a iluminação do carro. Ele foi pensado para quando o policial precisa fazer uma abordagem, mas não quer ser visto. Assim, com qualquer ação que o carro fizer, não será ligada nenhuma luz, o que ajuda a causar um efeito surpresa.
Além disso, a equipe envolvida nas mudanças pretende recolher um feedback dos profissionais da ronda, para verificar os resultados e também, estudar possíveis melhorias que possam ser feitas no futuro. "Vamos elaborar um relatório técnico para que o agente público, que faz a licitação, tenha o aval de uma Instituição que tem engenharias e responsabilidade técnica, para se basear no que pedir. Com esse projeto e esse relatório, será possível orçar e licitar esses itens depois de aprovados", completa o professor Everton.
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