Deputado federal eleito com 43.314 votos, destes, 28.825 somente em Joinville, Rodrigo Coelho tem entrado em um ritmo de trabalho intenso em Brasília, onde argumenta “retomar o protagonismo de Santa Catarina na Câmara dos Deputados”. Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, o parlamentar explicou sua busca pela saída do PSB, comentou sobre os desafios do Brasil, falou do Governo Udo Döhler e elencou as necessidades da maior cidade de Santa Catarina.
Marcos Schettini: Por que o PSB tem dificultado sua saída e impõe castigo partidário?
Rodrigo Coelho: A verdade é que o PSB se distanciou da realidade do país e começou a perseguir politicamente os filiados que pensam diferente. Isso começou logo após o falecimento de Eduardo Campos e se revelou, por exemplo, na expulsão arbitrária do prefeito de Chapecó, Luciano Buligon, em setembro de 2018, e na destituição desastrosa do Diretório do PSB de Santa Catarina, em maio de 2019, quando eu, inclusive, integrava a Executiva e sequer fui consultado. Não houve democracia interna no partido. Os deputados federais não fazem parte do Diretório Nacional, ou seja, nós, deputados, não participamos da decisão do partido que resolveu fechar questão contra a Reforma da Previdência (PEC 06/2019). Em julho, logo após o meu voto “sim” à Reforma da Previdência, o partido instaurou processo disciplinar que, mais tarde, resultou numa severa punição, quando fui expulso por um ano de mais de 10 Comissões na Câmara, o que diminuiu muito a minha atuação parlamentar.
Schettini: Qual é o caminho que o senhor tem utilizado para sair deste atoleiro partidário?
Coelho: Como não consegui a liberação de forma amigável, só me restou entrar no dia 16 de outubro com um processo judicial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pedindo permissão para me desfiliar do PSB, sem prejuízo do mandato como deputado federal. Infelizmente, apesar de ter sido eleito pela população, meu mandato está sendo prejudicado pelo meu partido. Também estou pedindo a reversão da punição sofrida por acreditar na necessidade de uma Reforma da Previdência.
Schettini: Por que se filiou ao PSB?
Coelho: Em 2015, quando me filiei ao PSB, a convite do ex-deputado Paulinho Bornhausen, foi por acreditar num projeto político iniciado pelo saudoso Eduardo Campos [presidenciável morto em acidente aéreo em 2014] que tinha o objetivo de trabalhar por um Brasil para todos, sem radicalismos. Era uma pessoa equilibrada e se pautava pelo diálogo. Infelizmente, o PSB de hoje tem se mostrado bastante autoritário.
Schettini: O Brasil vive qual realidade e onde SC se encaixa?
Coelho: Santa Catarina tem um grande potencial industrial, turístico, econômico e se destaca pelo povo empreendedor. Entretanto, enfrenta a mesma dificuldade de outros Estados brasileiros. Isso porque, infelizmente, não é a mais justa a maneira como os tributos arrecadados são distribuídos. Praticamente, a cada R$ 100,00 que se paga de imposto, R$ 65 ficam em Brasília, em torno de R$ 20,00 ficam no Estado e apenas R$ 15,00 voltam para o município, o que deveria ser o contrário. Conseguiremos inverter essa pirâmide assim que aprovarmos a Reforma do Pacto Federativo. O Estado de Santa Catarina é o 6º que mais arrecada no país, mas o 24º no retorno desses tributos. Em 2017, por exemplo, o Estado arrecadou R$ 50,3 bilhões em impostos, mas, no cálculo final, apenas R$ 1,2 bilhão voltou para cá. E isso torna muito difícil aumentar o investimento em áreas fundamentais dos municípios, como saúde, educação, segurança e infraestrutura.
Schettini: O senhor gostaria de ser prefeito de Joinville? Qual são suas ideias?
Coelho: Fico extremamente honrado com essa menção, mas neste momento, o foco é o mandato de deputado federal. Tenho para mim que a missão é longa e requer total comprometimento. Até aqui, foram oito meses de mandato e sigo trabalhando para resgatar o protagonismo de Santa Catarina e garantir que os desejos dos catarinenses prevaleçam nas votações que ocorrem na Câmara dos Deputados. A vinda de mais recursos para ajudar no progresso de Joinville, do Nordeste catarinense e de nosso Estado também é uma pauta que tem minha dedicação.
Schettini: Como o senhor observa o Governo Udo Döhler?
Coelho: O Governo Udo Döhler foi eleito gerando uma grande expectativa na população joinvilense que esperava uma gestão mais arrojada, que tivesse como foco a diminuição da burocracia nos serviços públicos, a realização de grandes obras viárias para melhorar a mobilidade urbana e assim por diante. Infelizmente, até o momento, isso não aconteceu. E a população tem razão quando reclama do excesso de buracos nas ruas, a injusta cobrança da Cosip – Contribuição para o Custeio da Iluminação Pública dos Municípios, a dificuldade de ainda abrir uma empresa ou regularizar um imóvel, bem como, a demora na conclusão da obra do rio Mathias, que tem causado muitos prejuízos, em especial, para os comerciantes da região central da cidade. Joinville tem pressa, mas, infelizmente, o Executivo Municipal não tem correspondido.
Schettini: Quais são as maiores necessidades para Joinville?
Coelho: Eu defendo que se concentra no enxugamento da máquina pública e na efetivação de concessões e de Parcerias Público-Privadas – PPPs. Sabemos que a tendência é que o município, cada vez mais, enfrente dificuldade para atender amplamente a comunidade devido à falta de recursos. A partir das PPPs, é possível dar as mãos com empresas privadas capazes de garantir o pleno funcionamento, manutenção e investimentos na iluminação pública, no tratamento de esgoto e em espaços públicos como a Arena Joinville, Mirante, Centreventos Cau Hansen, Cidadela Cultural, prédio da Estação Ferroviária e o antigo Museu da Bicicleta. Além disso, há a necessidade de parceria com os Governos Estadual e Federal para viabilizar grandes obras viárias, como a duplicação dos acessos ao município e da rua Dona Francisca e repensar o alto custo do Hospital Municipal São José. Precisamos, também, implantar um modelo de gestão que incentive o empreendedorismo e a geração de empregos.
Schettini: Quais nomes o senhor buscaria para fazer uma discussão da Joinville do futuro?
Coelho: Já estamos fazendo isso. Em Joinville tem muita gente competente e sintonizada com o que há de melhor e mais inovador no Brasil e no mundo.
Schettini: Por que Itajaí passou Joinville em arrecadação?
Coelho: O crescimento econômico de Itajaí tem sido maior do que o nosso, pelos motivos elencados acima e por conta das atividades portuárias se recuperarem mais rapidamente do que as indústrias e serviços, segmentos que se destacam em Joinville e região.
Schettini: Qual é a avaliação que o senhor faz de Jair Bolsonaro e Carlos Moisés nestes 10 meses de governo?
Coelho: Vejo que ambos os governos foram eleitos para quebrar paradigmas e mudar as velhas práticas. Isso não é fácil. Sou um entusiasta e acredito que tanto o governador Moisés como o Presidente Bolsonaro estão no caminho certo.Rua São João, 72-D, Centro
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