Defensor da Operação Lava Jato, o senador Alvaro Dias ganhou notoriedade nacional quando disputou a Presidência da República em 2018. Maior liderança do Podemos no Brasil, o parlamentar paranaense visitou Blumenau no final de semana e concedeu uma entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini. Articulando nomes para 2020, o senador diz preferir bons nomes do que quantidade eleitoral. Ainda, criticou o presidente Jair Bolsonaro, refutou a ideia do sistema parlamentarista e disse que as manifestações no Chile servem de alerta ao Brasil.
Marcos Schettini: Qual é o cenário do Podemos em Santa Catarina?
Alvaro Dias: Estive em Blumenau para visitar a Oktoberfest e, claro, conversamos sobre política e sobre a construção do Podemos, que hoje tem a liderança de Paulinho Bornhausen no Estado. Contamos com adesões importantíssimas, com organização em muitos municípios. Nós queremos ser essa ferramenta política inovadora, um movimento que tem por objetivo fazer a leitura correta das prioridades da população, colocando-as em prática. As prioridades mudam e as circunstâncias determinam as prioridades. Nós temos que acompanhar e procurar representar a vontade da população. O objetivo do Podemos é representar o povo.
Schettini: O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, está próximo ao Podemos?
Alvaro Dias: O prefeito Mário é bem cobiçado por todos os partidos e é evidente que o Podemos é um deles, mas ele faz a hora dele, porque é prefeito e está preocupado com a administração, com a cidade e a população. Ele tem tempo até abril para esta decisão. Se vier para o Podemos será muito bom, uma honra. Terá sempre nossa torcida de longe e nossa solidariedade de perto.
Schettini: O prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, está sem partido. Há uma proximidade com o Podemos?
Alvaro Dias: Já convidamos o Gean Loureiro e ele está na mesma situação do Mário, aguardando o momento mais adequado para uma definição. Ele é convidado a fazer parte do partido. Será uma honra, já que faz uma boa administração em Florianópolis. O prefeito de Balneário Camboriú [Fabrício Oliveira] também é nosso convidado e estamos aguardando a definição dele. Nós temos paciência de aguardar o momento e são eles que sabem a hora.
Schettini: O deputado Rodrigo Coelho está em conflito para deixar o PSB. Qual é o caminho a seguir?
Alvaro Dias: Nós conversamos com o Rodrigo Coelho, ele é dedicado, tem competência, é trabalhador. É uma liderança que desejamos no Podemos, mas entendemos a dificuldade da legislação. Entendemos que ele tem justa causa para deixar o partido sem colocar em risco seu mandato. Eu, no lugar dele, deixaria o partido sem nenhuma preocupação. Mas cabe a ele a decisão e estamos aguardando. A legislação permite, quando há justa causa, a mudança de partido sem prejuízos ao mandato.
Schettini: Como o senhor observa o Governo Bolsonaro?
Alvaro Dias: Eu tenho dificuldade de fazer uma avaliação crítica, porque eu sempre critiquei esse modelo de gestão. O grande problema do Brasil é esse confronto entre extrema-esquerda e a extrema-direita. A primeira fracassou, não mostrou competência e envolveu o país em escândalos de corrupção intermináveis. A extrema-direita, em razão dos seus objetivos, acaba se alinhando à extrema-esquerda. Uma alimenta a outra. Há um interesse em manter essa dicotomia, que é muito ruim para o Brasil. É preciso dizer que existe vida inteligente entre extrema-esquerda e extrema-direita. É caminhando para frente que vamos resolver os problemas deste país. O que está acontecendo agora é o que aconteceu na campanha, quando se estabeleceu esse confronto. Não houve alteração de rota e modelo, mas nós precisamos mudar isso.
Schettini: Quem manda no Governo Bolsonaro? O presidente ou seus filhos?
Alvaro Dias: Eu acho que ninguém manda [risos]. Essa confusão toda dentro do PSL é muito ruim ao país. Não há liderança, não há comando e nem organização. Não há paz, tranquilidade, disciplina e ordem.
Schettini: Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ex-senador Jorge Bornhausen levantou o debate do parlamentarismo. Como o senhor vê este modelo?
Alvaro Dias: Eu penso diferente em relação ao modelo de governo. Quando há o primeiro-ministro é o sistema parlamentar. Hoje vivemos essa confusão no partido do Governo, somado com a quantidade de partidos no Congresso e as mais de 70 siglas aguardando aprovação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), isso é uma balbúrdia. Alguns, segundo a Operação Lava Jato, são organizações criminosas. Então seria um péssimo momento para instalar o parlamentarismo. Neste momento não tem o meu apoio. Precisamos ter a felicidade de eleger um presidente da República que possa promover mudanças neste país, para que se possa se discutir o sistema parlamentarista. Hoje, no meu entendimento, seria um fracasso.
Schettini: O STF, com o voto da ministra Rosa Weber, caminha para derrubar a prisão após a segunda instância. Qual o posicionamento do Congresso Nacional?
Alvaro Dias: Não posso falar em nome do Congresso, porque lá tem a banda podre que é favorável à impunidade. É um golpe fatal no combate à corrupção. É uma vitória da impunidade. É um retrocesso deplorável. Isso ocorre também por omissão do Legislativo. Se o Congresso não votou, ele também é responsável. Se o Supremo Tribunal Federal é promotor desta afronta ao Brasil, neste golpe na Operação Lava Jato, o Congresso é coadjuvante, pois não votou no tempo hábil, quando iríamos legitimar constitucionalmente a prisão em segunda instância. O Congresso precisa agir. O Brasil está atrasado. Dos 193 países ligados à ONU, apenas o Brasil não tem prisão em 1ª e 2ª instância. Nós ou os outros estão errados? Evidentemente, nós estamos errados.
Schettini: De olho em 2022, Bolsonaro estaria desidratando o ministro Moro?
Alvaro Dias: Não há como negar a existência deste mal-estar. O tapete do ministro Moro foi puxado várias vezes, mas ele venceu essa tempestade com frieza. Hoje parece que ele readquiriu a confiança do Bolsonaro. Não há mais constrangimento entre os dois. Nós defendemos o ministro porque ele tem um papel importante que ele exerce em combate à corrupção, liderando também o Pacote Anticrime.
Schettini: As manifestações no Chile colocam em xeque alguns movimentos na América Latina. No futuro, essa reação pode chegar ao Brasil, já que a Reforma da Previdência, em tese, teve o mesmo modelo chileno?
Alvaro Dias: O que está acontecendo nos outros países é um alerta. As promessas em benefício da população não foram cumpridas. Eles tiveram uma expectativa exagerada, que gerou frustração, então agora a população cobra dos governantes. Isso leva a população à revolta e à violência. Estão prometendo demais. Aqui, a Reforma da Previdência foi anunciada como a “salvação da pátria” e, daqui alguns anos, chegaremos à conclusão de que ela é insuficiente, que não era tudo aquilo que diziam, que não economizou tanto assim e que sacrificou muito a população. Isso nós podemos prever, então é preciso que o governo brasileiro tenha esses acontecimentos como um alerta.
Schettini: O senador Álvaro Dias é candidato à Presidência da República em 2022?
Alvaro Dias: Ainda não é o momento. Eu sempre condenei aqueles que antecipam o processo. Eu sei que quando o governo é muito ruim e a população está insatisfeita, há uma antecipação do processo. Começam a surgir novos candidatos, mas isso só atrapalha o atual governo. Eu prefiro aguardar o momento exato, aí nós faremos uma avaliação popular. É isso que vai determinar uma candidatura ou não.
Schettini: Qual é o projeto do Podemos para 2020?
Alvaro Dias: Nós queremos crescer com qualidade, não basta crescer, tem que ter identidade. As pessoas do nosso partido têm que apoiar as nossas causas, como o combate à corrupção. Somos quase a maior bancada no Senado. Estamos com 12 senadores contra 13 senadores do MDB, nós estamos equilibrados. Crescemos com qualidade. Não queremos perder nosso perfil e nossa essência. Nas eleições municipais também, queremos eleger prefeitos, mas não tem desespero com números. Nós queremos eleger com qualidade.Rua São João, 72-D, Centro
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