A mulher no Brasil tem um superpoder a mais: o de fazer filho sozinha. Tem superpoderosas por todo canto sustentando sozinhas a responsabilidade de prover alimento, educação e carinho a filhos que, conforme a expressão popular “mãe solteira” já diz, normalmente carregada de preconceito, aparentemente fizeram sozinhas. Ao que se percebe, o homem não teve participação nenhuma na vida a mais concebida ao planeta, pois se a tivesse seria dele também a missão de gerar e depois criar o fruto do enlace físico e emocional.
A culpa neste País por gerar filhos sem pai recai integralmente sobre a mulher, esta que foi homenageada durante todo o oito de março que, um dia depois, foi enterrado na história. No mundo dos sonhos, este que a mídia e o comércio vendeu, a mulher é enaltecida, protegida e amada. Nas propagandas da TV, enquanto a margarina é passada no pão, aparece o filho e seu pai, que desfrutam de impecável momento de afetividade paterna. Mas, quando o Dia da Mulher passa e a TV se desliga, nas sombras aparece a mulher mãe humilhada, machucada e inferiorizada em todos os aspectos que a sociedade consegue explorar.
Todas vivem neste submundo? Não, mas boa parte delas amargam seus dias assim e, até que uma viver no constante drama do machismo e patriarcado brasileiro, o LÊ se posicionará para sair em defesa de um verdadeiro Dia da Mulher. Até lá este impresso diário, comprometido com o uso pleno da cidadania para todos, mostrará exemplos de conquistas e avanços alcançados por elas, mas também evidenciará os números e situações em que não há o que ser comemorado.
Por falar em superpoderosas, os brasileiros já deveriam ter se dado conta de que se trata de falácia. No início, acreditou-se que Eliza Samudio fez o Bruninho sozinha. Meses depois, em 2010, quando desapareceu deixando a criança órfã de mãe e de pai, a TV teve de confessar de que mesmo aqui, no País da impunidade, não existe essa de produção independente. Como isso foi descoberto? Quando o goleiro Bruno, do Flamengo, e sua tropa foram parar atrás das grades. O jogador, agora assassino confesso, foi condenado em 2013 por homicídio triplamente qualificado, sequestro, cárcere privado e ocultação de cadáver.
Solto nos últimos dias, Bruno passou o Dia da Mulher com a nova companheira. Já a mãe de Eliza, que cria o neto Bruninho, não recebeu como presente nem mesmo a possibilidade de dar enterro digno à filha Eliza, que até hoje não teve os restos mortais revelados. Parece duro demais para um filho e sua avó? Não é o que sentem dirigentes de diversos de times de futebol que fazem propostas vantajosas para que Bruno volte aos campos como atleta ou treinador de goleiro.
A usual lamentação de que todos merecemos segundas chances cabe neste caso, o problema é a veneração de um homem que, mesmo após mandar matar a ex-companheira para livrar-se de assumir a criança e pagar a ela uma pensão alimentícia ao filho que não foi feito com superpoderes, é disputado por clubes de todo o País.
Abaixo-assinado impresso e também petição na internet estão disponíveis para que a comunidade mostre a reprovação à atitude de líderes futebolísticos. Não se trata de impedir que Bruno siga com a carreira, mas de impedir a veneração de alguém que, neste Dia da Mulher, não merece o reconhecimento que está tendo.
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