Por Marcos A. Bedin
Jornalista; diretor regional oeste da Associação Catarinense de Imprensa/Casa do Jornalista de SC; e diretor da MB Comunicação
Não sei se todos os prantos foram derramados, se todas as lágrimas foram vertidas, se todas as dores foram curadas, se os dias cinzentos já são pretéritos... Minha convicção é de que, depois da tragédia com a delegação da Chapecoense na Colômbia, cumprimos legítima e fielmente todos os ritos de passagem e iniciamos a fase de superação.
Nada será fácil. Nada será como antes. A ausência de 71 pessoas será um buraco negro na vida de centenas de pessoas, famílias, empresas e organizações. Uma lacuna eterna que, para muitos, jamais serão plenamente preenchidas.
Todos os atores dessa tragédia amadureceram nesses dias pós-acidente. Familiares, jornalistas, médicos, amigos, dirigentes, amigos – cada um cumpriu com lealdade seu papel. Tenho a sensação de que todos nós fomos protagonistas e coadjuvantes, expectadores e agentes. Nenhum coração sensível permaneceu indiferente – e o Brasil e o Mundo acompanharam e sofreram com os chapecoenses.
Ficamos admirados com a atenção e o carinho que o planeta nos devotou. Nenhum outro advento da história recente da humanidade produziu este efeito: uma comoção sincera e genuína que envolveu os cinco continentes. Em nenhum lugar, nenhum evento cultural ou esportivo iniciou ou encerrou sem uma menção, uma homenagem, uma referência à Chapecoense. Tornamo-nos, subitamente, uma referência mundial. Saber o que fazer com esse imenso patrimônio comunicacional e reputacional é, por si só, uma oportunidade e um desafio.
Mas Chapecó decidiu que não vai se nutrir da dor, nem submergir na resignação. Chapecó decidiu reagir. Os dirigentes deflagraram uma corajosa e exitosa operação de reconstrução do time. Em menos de 30 dias contrataram dezenas de jogadores, técnicos e assistentes para recompor a capacidade operativa do clube, renegociaram contratos, renovaram parcerias e programaram mais de 70 compromissos entre Copa Sulamericana, Recopa, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro e Campeonato Catarinense.
Esse mesmo sentido de recuperação impregnou a comunidade chapecoense que participou, ativamente, de todos os momentos desse episódio. Do choque da notícia, às honras militares e ao sepultamente coletivo, aquela semana de 29 de novembro a 5 de dezembro ficará para sempre inconclusa e viva em nossas memórias com suas cenas terrivelmente indeléveis: uma aeronave destroçada ao pé do morro, aquelas fileiras de esquife, a homenagem dos colombianos, as lágrimas de Luciano Buligon, as honras militares, o funeral coletivo, a despedida final...
Tal qual o clube, a comunidade recolheu cada filamento de sua dor e pôs-se a trabalhar. Foi à Arena para as homenagens, para o amistoso com o Palmeiras e os jogos que se seguem; para chorar e para rir, para exorcizar a tristeza, sem negá-la. Reconstruir o clube e retomar a normalidade significa, na essência, honrar a memória de todos os que se foram e que faziam do futebol profissional um instrumento de alegria, projeção e integração. Voltar mais unidos, mais fortes e mais determinados é o nosso desiderato.
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