Um dos maiores líderes da esquerda catarinense, ex-deputado federal e importante peça no início do Governo Dilma, Cláudio Vignatti deixou o Partido dos Trabalhadores após três derrotas eleitorais consecutivas, ao Senado em 2010, ao Governo em 2014 e à Câmara dos Deputados em 2018.
Com importante influência política, foi chamado para assumir a presidência do Partido Socialista Brasileiro (PSB) em Santa Catarina, com o objetivo de retomar os ideais do partido e, segundo ele, poder se apresentar como “uma opção responsável e progressista”. Determinado em organizar a sigla, concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e falou das metas partidárias, futuro de Rodrigo Coelho e sua ruptura com o PT. Confira:
Marcos Schettini: O PSB ganha força com sua liderança. Qual o caminho do partido em outubro?
Cláudio Vignatti: O PSB, na consolidação do processo de reformulação aqui em Santa Catarina, engrena em uma nova fase, onde o foco imediato é o pleito de outubro. Vamos percorrer o Estado, organizar as comissões provisórias, filiar novos companheiros e construir uma estratégia, ouvindo as bases, para um desempenho em outubro, à altura do que a história e os princípios do PSB merecem.
Schettini: Os passos do PSB em coligações vão em quais direções partidárias?
Vignatti: O PSB hoje realiza entendimentos e constrói alianças, em nível nacional, em torno de ideias de centro-esquerda, em enfrentamento ao pensamento de extrema-direita, encabeçado por Bolsonaro, e essas diretrizes estarão presentes nas construções eleitorais do partido nos principais centros. Mas entendemos que o Brasil é muito grande, e Santa Catarina em seus 295 municípios têm particularidades que precisam ser compreendidas e avaliadas nessas eleições, com inteligência e convergência de princípios.
Presidente do PSB/SC, Cláudio Vignatti, em conversa com presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira (Foto: Divulgação)
Schettini: Qual a realidade do PSB nas principais cidades de SC e como fica Blumenau, Joinville e Florianópolis?
Vignatti: Em Florianópolis, teremos em breve importantes filiações e nomes com totais condições de formar uma chapa majoritária competitiva e uma excelente nominata de vereadores.
Em Blumenau, a filiação de Arnaldo Zimmermann coloca o partido em excelente posição para chegar ao paço municipal. Estamos construindo a estratégia para sermos fortes na disputa.
Já em Joinville, o processo ainda passa pelas definições na relação entre o deputado Rodrigo Coelho e o diretório nacional. Mas acredito que nos próximos dias essa situação seja encaminhada e poderemos avançar.
Não posso deixar de mencionar Chapecó, onde o partido se prepara também para disputar em posição de força, inclusive para a majoritária. Reforçando, que o trabalho se direciona para mapear o quadro em cada cidade e o PSB se prepara para disputar nos principais municípios do Estado.
Schettini: O PSB aprisiona deputados como Rodrigo Coelho que quer disputar em Joinville. Por que Carlos Siqueira age desta forma?
Vignatti: Quem vive a política sabe que, muitas vezes, o momento se impõe. O grande respeito que merecem os votos concedidos pelos eleitores ao deputado Rodrigo Coelho, pelo PSB, tenho certeza, será o condutor de uma solução que vejo para muito breve. Em conjunto com o diretório nacional, estamos trabalhando para o melhor caminho para Joinville. O partido tem seu posicionamento em âmbito nacional, responsável e consolidado, com o objetivo de construir e evoluir.
Schettini: Como você vê o processo municipal de outubro? É nos moldes de 2018?
Vignatti: 2018 foi um cenário de ruptura. A utilização das redes sociais, nem sempre positiva, potencializou os discursos mais extremos, o que não fez e não está fazendo bem ao país.
Agora é hora de os políticos responsáveis construírem o novo cenário, em 2020, para que o Brasil e nossas cidades tenham gestores e legisladores que mereçam o voto das pessoas que querem viver, trabalhar e estudar com liberdade e a diminuição das desigualdades, que é a fonte de boa parte das nossas barreiras e dificuldades. O PSB se coloca e trabalha nessa linha e assim será em Santa Cataria e nas cidades catarinenses onde o partido se apresenta como uma opção responsável e progressista.
Schettini: O PT não cometeu erro ao lançar três deputados federais em Chapecó? Não foi uma atitude kamikaze?
Vignatti: O PT, como partido, deve conviver e refletir com seus erros e acertos e se reconciliar com sua história. Mas em política, acordos são as pedras fundamentais. Não cumprir acordos, definitivamente, não é um bom caminho. E foi o que aconteceu. Mas é passado. Vida que segue.
Schettini: Qual é sua posição nas eleições de 2020?
Vignatti: 2020 também funciona como a projeção de 2022. Para as eleições municipais, trabalharemos duro e, em função do tempo, faremos o que for possível ser feito. É um desafio que aceitamos e vamos trabalhar muito, contando com os companheiros. Para 2022, estaremos muito fortes, com uma chapa para eleger 2 deputados federais e 5 deputados estaduais.
Schettini: Paulinho Bornhausen fez uma excelente bancada federal e estadual em 2018. Quais foram os erros do PSB?
Vignatti: Na verdade, o grupo que estava à frente do partido naquele momento, simplesmente não tinha DNA compatível com o PSB. O partido, em um momento em que a esquerda era dominante, nos governos do PT, serviu como plataforma para pessoas, que hoje nessa onda Bolsonaro, se sentem mais alinhadas com pensamentos de direita. Na verdade, não houve “erros”. Pessoas entraram no ônibus errado e se deixou que entrassem. Agora chegou a hora de cada um no seu caminho de convicção e crença. É por isso que hoje assumo a presidência estadual, na consolidação do processo de resgate da identidade e também da visão de futuro do PSB, alinhada com um projeto de país, de desenvolvimento, de políticas sociais consistentes e de defesa da democracia.Rua São João, 72-D, Centro
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