Quarentena na quaresma
No aniversário de Florianópolis, a capital mais linda do país viu as ruas ficaram vazias, as praias isoladas, desérticas e com a alegria desaparecida. O coronavírus tirou as comemorações e ampliou sua força. À tarde, o governador anunciou mais sete dias de medidas, ainda mais duras, para conter o avanço da doença. Se hoje é o Dia Mundial de Combate à Tuberculose, por ter vencido também este mal, tem-se alimentado a certeza de que, também, a humanidade vai suplantar este outro inimigo. Carlos Moisés está medindo as decisões à conta-gotas, conforme for a necessidade. A campanha “Fique em Casa”, ganhou altura de consciência. Os ilhéus, como em todos os lugares, deixam ruas, praças, o riso barulhento do brinde aos sábados do Mercado Público, para mais adiante. Comemorar a vida como sempre foi, vai demorar mais um pouco. Mesmo que Justus tenha, em seu sobrenome, toda a injustiça de seu raciocínio.
POIS
Talvez
o coronavírus faça as pessoas entenderem que a ciência é mais
importante que fazer arminha. E que o vírus do mal não se mata com
fuzil. Que é preciso investir no conhecimento. Que um ministro
idiota na Educação, tem efeito direto no cérebro da sociedade.
CERTO
Roberto
Justus falou muitas verdades. Talvez na frieza do cálculo egoísta,
mas no passar da régua, o sinistro quadro que vai ficar depois, é o
espectro do efeito que o desgraçado vírus vai fazer chegar na vida
de ricos e pobres. O empresário sabe, por sua competência e
dinâmica que, nem Dante, no seu inferno imaginário, faria
melhor.
DUREZA
O
coronavírus mudou tudo. E não precisa relatar para o leitor os
efeitos da existência deste monstro que ainda não feriu, de
verdade, o coração do sistema. Roberto Justus e Luciano Hang, que
falam na língua
cifrada, sabem que o tamanho do prejuízo indo a seus encontros, só
está taxiando.
EFEITO
Toda
a preocupação de que o desemprego em massa, miséria matando mais
que o coronavírus,
não está separado do todo. Não existe o raciocínio de que a
doença vai ser menor que as consequências. A desgraça que
observam, é o rastro. São como os pingos de sangue que levam até o
coração ferido.
ASTEROIDE
Se a anomalia, só mandando os meteoritos, faz o estrago agora
observado, o Armagedom nem entrou ainda na camada de ozônio. Ao bater no coração da
Terra, no Brasil
na metade de
abril, vai quebrando a espinha do capitalismo mundo afora. Se menos
em um lugar, mais em outro.
PODEROSO
A
fenda da queda do coronavírus, liberando a energia do caos que
Justus e Hang veem bater à porta, quebrando a coluna vertebral do
sistema, mostra a fragilidade do homem diante do invisível. O
noticiário falando apenas disso, morte física e financeira, é
exatamente a união da desgraça.
FRACO
As
pessoas sabem se proteger da doença. É confinamento, tomar banho,
lavar as mãos, álcool gel 70%, jogar truco, dama, xadrez, livros,
assistir ao Globo News, CNN e, à noite, ao JN. Pela manhã, novos
decretos parando tudo. Passam dias, repete tudo. Se sobrar tempo,
carinho e seus efeitos.
BACANA
Roberto
Justus e Luciano Hang, assim como todo o mundo, sobra tempo para,
também, filmar declarações de que o vírus vai matar 10 mil, ou 12
mil pessoas, não é nada diante do prejuízo no sistema. Colocar 22
mil desempregados na rua, mesmo com a desgraça lá fora, afirma
estar com o bolso sobrando dinheiro.
MATEMÁTICA
O que é morrer 12 mil pessoas diante do caos que os dois
empresários, Hang e Justus, veem após o anjo da morte passar pelo
Brasil como tem feito no mundo? A equação macabra não é perder
pessoas que se ama, isso não é nada. O ruim é o desemprego. A
miséria matando, depois, é só consequência.
CRUEL
Aqueles caixões que a Espanha e a Itália, quase Nova York,
tem mostrado, sendo cremadas porque não tem onde sepultar, seus
amados, ainda vivos, chorando sem poder se despedir, não é nada
diante do prejuízo no sistema. A dor, real, é ver os corretores das
Bolsas sentados no chão desiludidos com nova queda.
NADA
O
que são cidades
vazias, pessoas morrendo, tristeza expressa, diante do sistema? O que
é lágrima caída
de saudade pelos amados distantes? O almoço, o cinema, o parque com
crianças, o nado no rio, o flerte na loja, no semáforo, o
cachorro-quente da moçada se, para tudo, é preciso produção para
dinheiro comprar estes momentos?
ENTÃO
Como Roberto Justus, 65 anos, despreocupado com a quantidade de
pessoas que vão morrer, vai ter uma vida de felicidade ao lado de
brotos à metade de sua idade, desfilando em grandes cidades do mundo
e à mesa dos melhores restaurantes, com a desgraça do sistema
esvaziando seu cofre lucrativo? É o vírus matando o factoide.
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