É inevitável não tratar sobre a celeuma entre Moro e Bolsonaro, as duas personalidades de, talvez, maior importância do cenário administrativo do país, vou tentar ser breve e direto.
Ao sair do Ministério da Justiça, Moro apontou crime de responsabilidade do presidente, interferência na PF e outras revelações que estremeceram o Planalto. Tudo começou com a exoneração de Valeixo, diretor-geral da PF, de confiança de Moro, a mando de Bolsonaro, supostamente por não ter tido acesso a informações de investigações sigilosas que envolvem Carlos Bolsonaro e outros chegados.
Em razão das declarações, Aras, da PGR, pediu abertura de inquérito para investigar as declarações, dos dois lados, entretanto, sabe-se que Moro não tem mais prerrogativa de função e não pode ser investigado diretamente pelo STF, sendo um procedimento irregular, que caiu nas mãos de Celso de Mello.
Em resposta, Bolsonaro discursou muito, explicou pouco e acusou o fato de que Moro teria proposto a troca de Valeixo só após sua nomeação ao STF, sugerindo que o ministro negociou esse cargo. De certo, foi um argumento intuitivamente bem colocado para tentar corromper a imagem de impoluto de Moro.
Talvez prevendo algo, e pretensiosamente o profetizando, Bolsonaro contou que teria tomado café da manhã com deputados naquele dia e disse, mais de uma vez, que iriam conhecer uma pessoa que tentaria colocar uma cunha entre ele e o povo, numa revisita tupiniquim à imagem da última ceia, onde Jesus avisa sobre Judas.
Isso foi feito intencionalmente para que os extremistas, de um lado, considerassem Moro um traidor, e de outro, contradissessem a repulsa ao ministro pela condenação de Lula e passassem a defendê-lo.
Consultando meus gurus do contexto e da opinião política, acabei chegando em alguns pontos, opinião própria, claro: o discurso de Moro não será levado adiante, pelo menos de imediato, primeiro porque não cultivou muitos amigos em Brasília; segundo porque a maioria dos políticos não gosta dele desde a época da Lava Jato por razões óbvias; terceiro porque a oposição teria que pôr o rabo entre as pernas no caso da condenação do Lula e se humilhar para lamber Moro; e, por último, porque todos, absolutamente todos os parlamentares têm teto de vidro quando o assunto é ter acesso a informações de investigações da PF. Aliás, vale dizer que há meses vinham ocorrendo essas tentativas de interferência, acham mesmo que Moro, Valeixo e os demais não desconfiaram, e apuraram, os porquês? Muita gente não quer saber, até porque todos os governos têm rabo preso com isso, vai saber o que está nos arquivos da PF não é mesmo?
Essa situação toda é muito frustrante, nos obrigou a reavaliar todos os posicionamentos, porém nada ainda está comprovado ou demonstrado, por isso, cuidado você que está pensando em soltar aquele asqueroso “eu avisei” seja lá pra quem for. Certifique-se de provar que a sua realidade seria completamente diferente e que o contexto que você defende tenha um histórico de reputação ilibada.
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