Prefeito eleito e reeleito de Concórdia de 2000 a 2008, deputado estadual na quinta legislatura e liderança importante do Partido dos Trabalhadores em Santa Catarina, com 35 anos Neodi Saretta se tornou o mais jovem presidente da Assembleia Legislativa, quando comandou o Legislativo estadual entre 1998 e 1999.
Premiado pela gestão na Prefeitura de Concórdia, ainda presidiu a Federação Catarinense dos Municípios (Fecam) em 2005, quando ergueu a bandeira municipalista em favor do desenvolvimento regional.
Com quase 20 anos de Alesc, Saretta é um dos mais respeitáveis quadros da Casa, hoje presidindo a Comissão de Saúde em tempos de pandemia. Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, o parlamentar falou do atual momento da democracia brasileira, externou a vital necessidade do SUS, comentou sobre acertos e erros do PT durante os 13 anos no Poder e afirmou que Moisés e Bolsonaro terão dificuldades em terminar o mandato. Confira:
Marcos Schettini: Que tempos são estes?
Neodi Saretta: Estranhos... difíceis. Vivemos uma crise sanitária tremenda e ao mesmo tempo uma crise de credibilidade de nossas lideranças e instituições. Não temos um comando nacional que nos unifique minimamente nas questões mais vitais e, de forma especial, neste momento, a questão da saúde.
Schettini: Por que o Brasil e SC chegam neste momento de tantas incertezas?
Saretta: A partir da era digital, as notícias são instantâneas e as opiniões também. Cada um passou a externar de forma direta suas convicções e preconceitos e, ao mesmo tempo, a intolerância foi crescendo. Perversamente, juntamente com isso, surgiram as fake news que só fizeram aumentar a polarização e a externação de preconceitos. Surgem também os “paladinos”, que querem impor suas verdades, bem como os pseudos “heróis nacionais”.
Schettini: Qual é o pior momento da democracia?
Saretta: O pior momento da democracia certamente ainda é melhor que a ditadura. Temos que aprender a viver com as diferenças, procurar entender e praticar mais a tolerância. Ou seja, temos que aprender a praticar a verdadeira democracia.
Schettini: A cassação do governador e da vice diz o que para SC?
Saretta: Infelizmente, a última eleição teve todo um marketing em cima de um número e da chamada “nova política”, que se revelou este desastre que está aí. Figuras inexpressivas politicamente foram alçadas a altos cargos. Criou-se uma expectativa que virou frustração. Ao mesmo tempo o governo tem dificuldade de diálogo e de dar as respostas mínimas que a sociedade exige. Além disso, surgiram estas questões que estão sendo investigadas e que comprometeram de forma vital o governo como um todo. Tanto a chapa federal quanto a estadual terá dificuldades de levar o mandato até o final. Os diversos pedidos de impeachment lá e cá (Brasília e SC), demonstram por si só isso.
Schettini: Sendo presidente da Comissão de Saúde da Assembleia, o que se revelou?
Saretta: Quanto não estávamos preparados para esta pandemia. Nos primeiros dias era uma “loucura”, faltava tudo. De uma simples máscara a respiradores. Daí o governo foi às compras de forma desordenada e sem um planejamento mínimo. Cobramos insistentemente o aumento de leitos de UTI, a ampliação dos testes, o apoio aos hospitais, o aumento do pessoal da saúde, bem como medidas de amparo os que ficaram sem renda ou com renda insuficiente para viver dignamente. Por outro lado, reconhecemos os esforços dos profissionais da saúde que estão dando o máximo para super esse momento.
Schettini: A pandemia disse algo que deverá ser seguido?
Saretta: A pandemia deixou bem claro quanto é importante aplicar mais recursos em saúde e de fato colocá-la como prioridade. Mostrou também a importância vital do SUS.
Schettini: O PT cometeu muitos erros no Poder?
Saretta: De todo esses anos de República, o partido esteve na presidência por pouco mais de 13 anos e certamente teve erros e acertos. Internamente isso tem sido muito debatido. É inegável que neste período houve inúmeros programas que promoveram a inclusão social, a abertura de novos mercados para o país, o aumento de empregos e renda das pessoas. O país era respeitado internacionalmente, diferente do que é atualmente, infelizmente. Mas erros também aconteceram, principalmente quando deu espaço e grande parte do governo para partidos e figuras que historicamente não estavam comprometidos com as mudanças sociais necessárias. Aliás, figuras e partidos muitos dos quais estão hoje bem alojadas junto ao Governo Federal.
Schettini: Esquerda e o centro juntos não é uma união perigosa?
Saretta: O país hoje está extremamente dividido e polarizado. Acho que a união de esforços para encontrar uma luz no fim do túnel é importante. Mas acordos meramente eleitorais, sem propósito mais profundo, também não é solução.Rua São João, 72-D, Centro
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