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Entrevista | As eleições municipais serão um desafio para que possamos salvar a democracia, diz Décio Lima

Por: Marcos Schettini
24/06/2020 16:45
Gustavo Bezerra

As eleições municipais são altamente desafiante para a própria democracia em razão da presença da crise sanitária que estamos vivendo, no mesmo momento que nós estamos assistindo ameaças por parte desse governo esquizofrênico do Bolsonaro”, reflete o presidente do Partido dos Trabalhadores de Santa Catarina, Décio Lima.

Ex-prefeito reeleito de Blumenau, deputado federal por três mandatos e presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, o petista foi candidato ao Governo do Estado em 2018, seguindo tradição histórica da sigla em não abrir mão da cabeça de chapa. Filiado ao PT desde 1981 e mesmo sem ocupar cargo público após disputar oito eleições, o advogado segue sendo forte influência do partido em Santa Catarina e no Brasil, defendendo valores e posicionamentos que, de acordo com ele, foram impressos durante os mandados de Lula e Dilma.

Em entrevista exclusiva concedida ao jornalista Marcos Schettini, o presidente do PT/SC falou sobre os desafios das eleições municipais, explanou sobre a realidade social sob pandemia, fez uma interessante reflexão sobre desigualdade social e afirmou que o Partido dos Trabalhadores tem recuperado capilaridade política em todos os cantos do país. Confira:


Marcos Schettini: O Brasil passa por um cenário de grandes desafios e proporções nunca imaginadas ou é assim mesmo?

Décio Lima: Não só o Brasil, a humanidade passa por um momento sem igual que se tenha registro ao longo da sua própria história. Nós já vivemos crises sanitárias, como a Gripe Espanhola, em 1918, que matou um terço da população do mundo, já vivemos a Peste Negra, já vivemos na nossa geração surtos enormes com o diagnóstico do Ebola, da AIDS, mas nunca vivemos uma situação em que a crise sanitária se aglutina com um conjunto de outras crises. Estamos vivendo a crise da Covid-19 ao mesmo tempo que estamos vivendo uma crise econômica, financeira, política, ambiental e uma crise que também traz um outro processo de expressão da própria humanidade.

A humanidade que rompe com o mundo analógico e passa para o mundo digital. Momento que a humanidade se depara com a inteligência artificial. Então, é uma conjuntura extremamente complexa para o mundo e, consequentemente, para o Brasil com o agravamento do processo político em curso em nosso país desde 2016, com as agressões e violências que trouxeram aquilo que foi conquistado com muita luta pelo povo brasileiro, que foi a democracia. Nós estamos vivendo um momento muito difícil e, portanto, delicado que exige, principalmente de todos que neste momento debatem o país, clareza dos próprios caminhos para termos soluções concretas.


Schettini: O que a pandemia do coronavírus revela do ser humano?

Décio Lima: A pandemia está mostrando a fragilidade da vida. A fragilidade de muitos valores que, infelizmente, a sociedade se permitiu construir como a acumulação de riquezas e do egoísmo. Uma verdadeira lição para todos que os verdadeiros princípios que podem ajudar no enfrentamento destes momentos são justamente opostos, quais sejam, da solidariedade e do desprendimento as questões materiais. Um momento que nos faz refletir sobre a própria natureza e a nossa própria existência. Qual seja, que modo de vida é mais importante? Onde está a felicidade? A felicidade está em você promover o seu próprio egoísmo ou a felicidade está em distribuir condições de vida para todos aqueles que neste momento se quer tem condições de se defender minimamente neste flagelo sem governança que é a presença do coronavírus na vida de toda a humanidade. Eu acredito que, após pandemia, teremos uma grande possibilidade de construirmos um mundo mais justo, fraterno e igualitário e que possamos ser um ser humano muito melhor para que possamos cuidar desse grande patrimônio que é a vida, que foi dada a nós por aquele que é o criador de tudo isso.

Schettini: O PT foi amaldiçoado ou pode voltar ao poder?

Décio Lima: O PT foi vítima de um processo criminoso da produção de fake news, da construção de uma narrativa forjada num processo apátrida e irresponsável com a democracia. Mas o PT mostrou o que ele representa. Ele não é apenas um partido, é uma causa. O PT é uma biografia que estabeleceu um marco regulatório na vida e na história do povo brasileiro sem igual com os governos do presidente Lula e da presidenta Dilma. O PT trouxe a prova real que esse país pode ser de todos os brasileiros e não apenas de uma parte de uma elite, inclusive uma elite que não tem compromisso com a nação, uma elite entreguista, que representa o próprio atraso de tudo aquilo que o Brasil ao longo de sua história não conseguiu se igualar ao contexto mundial.

O PT é o maior partido atualmente da América Latina. É o segundo maior partido da esquerda no mundo. O PT, embora todos os ataques, consolidou um processo no pior momento em que ele foi vítima das acusações sórdidas, garantindo a maior bancada atual no Congresso Nacional, o maior número de governadores e só não ganhou as eleições porque tiveram que retirar seu líder maior da disputa de 2018, se não, teríamos vencido. É nesta condição que o PT a cada momento se fortalece, inclusive, com o derretimento de todas as acusações sórdidas que tentaram macular a imagem de um protagonismo que constrói no campo de esperança e entusiasmo da maioria do povo brasileiro, quando se permitiu tirar 40 milhões de pessoas da linha da pobreza e da miséria. Que construiu o maior programa habitacional não do Brasil, mas do mundo, o “Minha Casa Minha Vida”. Que escancarou as universidades para os trabalhadores, para os pobres e para os negros. O partido que levou o Brasil, ao final do primeiro mandato da presidenta Dilma, num dos países de maior empregabilidade do mundo, com uma taxa de desemprego na ordem de 4,3%. Que enfrentou as adversidades, inclusive da economia mundial, nas crises que tiveram presentes naquele período. Portanto, o PT é essa expressão um partido marcado pela resiliência e determinação de continuar escrevendo a história para construímos uma nação justa e fraterna para a maioria do povo brasileiro.


Schettini: Qual é a cor da democracia?

Décio Lima: A democracia é um ambiente de todos. Todos inclusos, todas as diferenças. Portanto, a democracia não tem cores. A democracia tem sim a construção de um ambiente em que produz a ternura, a igualdade, o contraditório, o respeito. A democracia é a expressão do amor, não do ódio. A democracia é a expressão da liberdade do sentimento de que todos, nas mais diversas formulações de sua existência e do pensamento humano, podem conviver desde que tenham presente esses valores que acabei de expressar. Fundamentalmente a do amor, do respeito e da ternura. A democracia perde, portanto, o seu brilho radiante quando ela se permite caminhar na desigualdade, no ódio, no desprezo e na naquilo que só trouxe angústias e sofrimento. A democracia não é efêmera, ela é permanente, porque até o presente momento, em todo contexto da história da humanidade, mesmo com todos os erros que ela possa se permitir, é o melhor ambiente já experimentado por todos nós em nossas vidas.


Schettini: Ao disputar a eleição em 2018, o PT não sofreu uma derrota exemplar?

Décio Lima: O PT não sofreu nenhuma derrota em 2018. O PT participou de uma eleição que foi agredida pelas fake news, agredida do ponto de vista da expressão mínima de um processo democrático. O PT lança um candidato forçadamente para substituir o presidente Lula 20 dias antes das eleições e mesmo assim contabiliza 47 milhões de votos. O PT em Santa Catarina pela primeira vez liderou as pesquisas no Estado, também até 20 dias antes das eleições.Mesmo sofrendo todas as formas de ataques e preconceitos, nós em 2018, no Brasil e em SC, obtivemos um resultado além da expectativa que tínhamos nesse processo que foi duramente incorreto e injusto, quando tivemos que resistir a atitudes claramente criminosa contra a democracia e os valores que lhes são imprescindíveis. Portanto, em 2018, provamos ao Brasil e ao povo brasileiro a nossa resiliência. Neste momento é visível a recuperação da nossa capilaridade política em todos os cantinhos do Brasil e, principalmente, aqui em SC.


Schettini: Qual é a linha que o seu partido vai adotar na eleição municipal?

Décio Lima: As eleições desse ano não vão seguir a normalidade de um processo democrático. As eleições municipais são altamente desafiante para a própria democracia em razão da presença da crise sanitária que estamos vivendo. Elas serão um desafio para que possamos, eu diria, salvar a democracia. Num momento que nós estamos assistindo ameaças por parte desse governo esquizofrênico do Bolsonaro, todo contexto do Estado de Direito. Ameaça intervir aqui, acolá, retirar direitos e conquistas mínimas da sociedade democrática. Portanto, vamos viver uma eleição desafiante, não para o PT somente, mas para toda a democracia. A pauta, sobretudo, será essa: queremos um país democrático ou não? E além disso, responder como iremos enfrentar as consequências drásticas da crise sanitária. O que as populações das nossas cidades esperam de um futuro prefeito ou prefeita e de uma Câmara de Vereadores.

Nós, do PT, vamos protagonizar aquilo que sempre protagonizamos, a ampliação das políticas públicas, uma prefeitura que toque a vida das pessoas, uma Câmara de Vereadores que possa ser representativa do sofrimento e das angústias que este momento trará com marcas profundas ao nosso povo. Nós vamos protagonizar um projeto que seja de um governo que tenha compromisso com a solidariedade humana, que coloque como sempre colocamos na pauta prioritária das nossas ações, as obras humanas. Um governo que abrace as feridas sociais e que possa, conjuntamente com seu povo, estancá-las o mais rápido possível para que possamos retomar o mais breve a normalidade da vida das pessoas, dentro de um plano de cidadania para todos.


Schettini: O dinheiro disponível para as eleições não poderia ser utilizado para a Saúde?

Décio Lima: Não só o dinheiro disponível para as eleições, que eu diria que tem uma expressão ainda pequena diante de outros recursos que poderiam estar disponibilizados para atender os flagelos desta crise sanitária. O dinheiro dos sonegadores, os impostos que não são cobrados das grandes fortunas, os recursos que são utilizadas indevidamente para atender a benesse de privilégios daquela velha política que Bolsonaro representa e que aqui em Santa Catarina também, este governo do toma lá dá cá, de atender o privilégio de outras instituições. Eu acho que temos que repensar tudo. Não é apenas um ponto no espaço deste país que precisa ser revisto. Pode um país como esse, de mais de 210 milhões de pessoas, continuar convivendo com meia dúzia de bilionários que acumulam, inclusive nesse momento de flagelo e de dor da pandemia, que é o retrato desta fila para obter esse auxílio que, graças à bancada do PT conseguiu se elevar a R$ 600 porque queriam dar R$ 200.

Será que é justo vivermos com esse retrato enquanto essa elite brasileira se apodera de toda a riqueza desse país? Eu acho que temos que pensar nisso tudo. Eu acredito, inclusive, que deve ter muito milionário nesse momento envergonhado com a crueldade que o povo brasileiro vem sofrendo ao longo da sua história. Eu acho que tem muita gente que olhando o derretimento de seres humanos sem se defender dessa pandemia, amontoado nas periferias e barracos, nos sem tetos, sem casa, sem-terra, sem nada, e olhar para ele mesmo sabendo que de uma hora para outra pode ser contaminado por esse vírus e ele não sabe que a riqueza dele não consegue impedir este flagelo da morte trazida pela violência dessa crise sanitária. Acho que nós temos que pensar isso tudo porque o Brasil é um país que poderia e tenho certeza que ainda vai ser um país mais feliz do mundo com todo seu povo, do carnaval à Oktoberfest, construindo uma felicidade plena na vida, com dignidade que o país possa lhe oferecer.


Schettini: Por que Lula da Silva não entra no chamamento do impeachment de Jair Bolsonaro?

Décio Lima: O presidente Lula está no impeachment. Nosso partido, junto com mais seis siglas, apresentamos oficialmente o pedido de impeachment do Bolsonaro e do Mourão. O que o presidente Lula está se recursando é participar de um processo que não constrói valores para o futuro do nosso país. Tem pessoas que querem tirar Bolsonaro, mas manter a mesma política econômica do Paulo Guedes. Neste momento estamos diante da quinta reforma trabalhista. Desde o Governo Temer, se é que aquilo foi governo, passamos cinco reformas trabalhistas para cruelmente tirar direitos do povo brasileiro. Para reduzir as conquistas do nosso povo, é isso que o presidente Lula quer saber. Vamos assinar um documento de construir uma esperança para nosso povo?

Porque não se trata só de tirar presidente e um vice, se trata de resolver o problema do país que passa pela retirada do presidente o do vice, mas passa pela construção de um programa de nação. Então essa é a diferença, por isso, que quando o presidente Lula sugeriu esses conteúdos, se recusaram, pois queriam assinar um “documentozinho” que se limitava a dizer apenas tirar o presidente e vice e não construir nenhum campo de esperança para nosso povo. Então, nós estamos sim no impeachment e acredito que ele possa ocorrer. O Brasil não pode continuar nesse absurdo com um presidente completamente incapaz. Eu convivi com Bolsonaro 12 anos da minha vida no Congresso Nacional e ele não tem condições de governar absolutamente nada, ainda mais um país como o nosso, aliás, nós não estamos mais suportando a vergonha internacional que estamos passando.

Estamos sendo achincalhados, um país que num período recente protagonizou o processo de economia mundial nos Brics, que deu uma nova geopolítica para o mundo e que hoje é o país da vergonha, dos absurdos que só aqui acontece. O que é triste e lamentável para as gerações, inclusive, que estão chegando nesse momento. Se nós não interrompermos, eles receberão uma herança muito trágica.


Décio Lima recebendo abraço do ex-presidente Lula durante evento do PT (Foto: Divulgação)

Schettini: O eleitor tem raiva ou sonhos?

Décio Lima: Depende do líder. O eleitor tem sonhos quando lhe oferecem esperança, amor, carinho. Um processo de governança, feito com inclusão, com os valores que são próprios dos seres humanos bons, que é o da solidariedade, do perdão e da divisão das coisas para construir a felicidade coletiva. Este líder produz sonho aos eleitores assim como fez Lula. Aqueles que entram para oferecer arma, para construir gabinetes do ódio, para agredir com violência as diferenças políticas, sem permitir que haja debate, esses levam infelizmente as pessoas às inconsequências, que tragicamente já vivemos no mundo. Nós já vivemos experiências como a da Alemanha, de Hitler, que levou milhões de pessoas à morte na segunda Guerra Mundial e do Fascismo com Mussolini. Isto é o líder que leva seu povo ao ódio.

Os líderes como Mujica [ex-presidente do Uruguai], Mandela [ex-presidente da África do Sul] e Gandhi [líder pacifista na Índia], construíram os valores que são expressões e paradigmas do lado certo da história, assim como o Lula aqui no Brasil. Então, tudo depende do ambiente que o líder traz suas intenções. Eu tenho certeza de que a contaminação do ódio para a nossa felicidade é efêmera, ela não tem vida longa. As experiências históricas mostram isso. A humanidade está aqui presente, nos quase sete bilhões de seres humanos que somos, porque conseguimos obter uma hegemonia de amor e com eles seus valores, porque senão não estaríamos aqui e teríamos uma autofagia nos destruindo. Portanto, temos que combater com veemência e determinação as atitudes que levam as pessoas ao caminho do ódio. Eles são o caminho que jamais deu certo na história da humanidade.


Schettini: Qual é o futuro?

Décio Lima: O futuro só tem um que possa ser trazido com otimismo que precisamos ter para a sua construção que é de uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Onde todos possam ter o mínimo de cidadania e dignidade. Um mundo que não se permita exclusão, ódio e a mentira. Esse é um mundo que temos que, permanentemente, lutar para que tudo isso que estamos vivendo possa ficar para trás e nos permitir um caminho seguro para os espaços da democracia, amor, tolerância, compreensão e do perdão. São esses os caminhos que nos levam ao futuro, que é um sonho da maioria da humanidade e, principalmente, do povo brasileiro.


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